A Nudez na Televisão Brasileira



por Lucas Andrade, Renan Angelici e William Domingos
da turma 2. 2011
Alunos da Matéria Televisão e Vídeo. Texto referente ao Conteúdo do Seminário sobre Nudez na Televisão, realizado em 24/10/2011

A nudez de Thiago Fragoso no remake de O Astro fez ressurgir uma discussão acerca da nudez e também a memória de um marco quase inovador na teledramaturgia brasileira. Na série original, exibida em 1977, Tony Ramos fica nu, ou melhor, supostamente nu. A decupagem dessa cena se preocupa mais com as insinuações de uma nudez não vista do que com a execução da ação em si. Há sempre um elemento no quadro que parece inadequado ou assimétrico, apenas com a função de esconder o falo. Até mesmo o uso incomum de zoom e câmera na mão são utilizados. Diversas fontes consideram esse personagem responsável pela primeira nudez na teledramaturgia brasileira, mesmo não havendo de fato o nu visível. Uma das razões do rótulo "o primeiro nu masculino da TV brasileira" para a cena é o fato do ator Tony Ramos estar realmente nu nas gravações.

[Início em 3:30]

O primeiro nu de fato ocorreu tardiamente e cerca de 10 anos depois, na novela Dona Beija, exibida pela TV Manchete em 1986. A novela exibiu algumas cenas em que a protagonista da história, Beija, interpretada por Maitê Proença tomava banhos em cachoeiras e chegou ao ápce numa sequência que a personagem desfila nua em cima de um cavalo.


Um ano depois, com a abertura de Brega & Chique, considera-se um outro marco acerca do nu masculino. Ao som dos versos “pelado, pelado, nu com a mão no bolso”, um homem de costas aparece nu no final da abertura. Antes do término da novela, a abertura passou por censura em função dos anos de ditadura, mas teve sua versão original exibida novamente no periodo de libertação, resultado de pressão dos liberais. É importante ressaltar que se trata de um nu do anônimo, o que se tornará aos poucos comum em aberturas de novela. A teledramaturgia brasileira desenvolveu e apropriou tabus da nossa cultura, ora afirmando-os ou não, sempre numa lógica conservadora e preservadora de um star system praticado pela Rede Globo. Por isso, é mais fácil impor o nu de um desconhecido do que imaginar Tony Ramos, de fato, nu em quadro.


É claro que essa preservação da imagem nu masculina não se estendeu por tanto tempo, e o nu não frontal diegético de alguns atores começou a ser mais comum, enquanto o nu frontral feminino respondia ao tabu da heteronormatividade clássica numa guerra de audiência entre Globo e Manchete. Os códigos eróticos e sexuais ficaram a cargo dos personagens femininos e em poucos anos o nu foi mostrado muitas vezes de forma quase integral. Essa queda de braços não durou muito tempo e a Globo mudou de estratégia. Readequou o horário em que veiculava esse tipo de conteúdo e investiu também numa nova forma de retrabalhá-lo, apostando em novos códigos que nem sempre se baseavam na nudez de fato, mas sim na sensualidade da insinuações e na ousadia das situações. Apesar dos avanços, a heteronormatividade ainda regia de forma bastante acentuada as normas de conduta quando o assunto era nudez. Exemplos disso são as minisséries Dona Flor e seus Dois Maridos e Engraçadinha.

Mais recentemente, Presença de Anita, série que também trabalhava a sensualização dos corpos, revelou certo afrouxamento com os parâmetros heteronormativos. Alguns papéis de gênero foram realocados, o corpo nu masculino foi mostrado de maneira mais sexualizada e passou a ser objeto do olhar feminino. A passividade feminina foi problematizada com a personagem de Mel Lisboa, a qual se mostrava extremamente ativa diante do papel masculino. Desde então, tentativas polêmicas relacionadas a nudez foram exploradas, não só na Rede Globo.

[Vídeo Dublado em Espanhol]

O tabu clássico sobre o falo masculino e a sujeição do corpo feminino na lógica heteronormativa sempre dialogou com noções e conceitos relacionados a arte e a cultura, brechas estas que justificariam o uso sem provocar polêmicas muito maiores. Em Páginas da Vida, por exemplo, a exibição da nudez a partir de um personagem que é modelo vivo precisou de justificativas relacionadas as artes plásticas por parte de um outro personagem, a fim de legitimar aquela presença nua em cena. A partir da mesma lógica, a nudez visível do carnaval é também aceita e legitimada com base cultural, aceita pela familia brasileira sem causar grandes estranhamentos.

A nudez televisiva em termos gerais não se dá apenas na teledramaturgia. Seria necessário um estudo mais antropológico da imagem e da cultura semiótica brasileira relacionada aos padrões morais acerca da nudez e da sexualidade. Centrando-se nas questão das telenovelas, é possível perceber que apesar de avanços da imagem relacionadas a nudez, ainda somos regidos por um cultura que preza por condutas bastante rígidas no que diz respeito a moral e a heteronormatividade.


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