Universidade Federal Fluminense
Instituto de Artes e Comunicação Social
Cinema e Audiovisual
Professor: Felipe Muanis
Alunos: Bárbara Beznosai, Lucas Barros e Palmireno Neto
Instituto de Artes e Comunicação Social
Cinema e Audiovisual
Professor: Felipe Muanis
Alunos: Bárbara Beznosai, Lucas Barros e Palmireno Neto
O talk-show pode ser definido como um gênero televisivo que utiliza a conversação
como base estruturante. Sua origem remonta a programas de rádio no início do séc. XX
e o seu desenvolvimento na televisão ocorreu inicialmente nos Estados Unidos durante
a década de 50. Nesse período, diferentes programas do gênero marcavam a
programação ao longo do dia: notícias pela manhã, debates durante a tarde e
humor/entrevistas à noite.
Na década seguinte, houve uma proliferação dos talk-shows na televisão americana e
europeia. Já nos anos 70 e 80, ocorreu uma mudança significativa no gênero.
Inicialmente mais próximo da atividade jornalística, o talk-show ligado ao
entretenimento tornou-se cada vez mais popular. O formato desses novos programas,
reconhecível até hoje, utilizava dois elementos centrais: o modelo de apresentação da
stand-up comedy e a plateia dos programas de auditório. Diferentes autores traçam
características marcantes do gênero, dentre os quais:
1) Apresentador-celebridade: condutor do programa;
2) Ilusão do tempo presente: os participantes encenam como se fosse uma exibição ao vivo;
3) Espontaneidade: bate-papo entre os participantes, como uma conversação entre amigos;
4) Presença de uma plateia inquisidora;
No entanto, é necessário ressaltar a mobilidade e hibridização dos gêneros,
características da contemporaneidade, e que também se aplicam ao talk-show. Ora,
poderemos encontrar diversos destes elementos em diferentes programas que não
necessariamente seriam classificados como talk-shows strito sensu. Daí a importância
de entender a classificação de gêneros como algo arbitrário, não havendo, portanto,
gêneros puros, mas sempre híbridos e mesclados em diversos formatos diferentes. Os
gêneros televisivos funcionam como categorias culturais, compostos de textos que
modificam-se em função do contexto político, econômico, tecnológico e, principalmente
cultural, respondendo às demandas do público. E é tendo isto em vista que podemos
pensa o que foi/é o talk-show no Brasil.
Aqui, o talk-show diferenciar-se-á do que é o talk-show americano. Pois o talk-show
brasileiro, o termo por si só, passará a ser recorrente na cultura nacional
expressivamente nos anos 80, com o sucesso do programa “Jô Soares Onze e Meia” no
SBT, onde a hibridização entre jornalismo e humor torna-se o aspecto definidor do
gênero. Ora, já vemos aí a grande diferença entre a definição do talk-show brasileiro em
relação ao americano, onde a discussão política é sumariamente evitada em tais
programas ( o que não significa não haver um propósito político velado, de forma a dar
respaldo a programas governamentais, vide exemplo da participação de Michelle
Obama no The Ellen Show).
https://www.youtube.com/watch?v=UZO5q0B5wfw
Jô Soares Onze e Meia torna-se padrão para a constituição do gênero e, também,
medidor de qualidade dos mil programas genéricos que se sucederam e que também se
valiam das características de conversa leve e íntima entre os participantes. Portanto,
programas que fugissem da proximidade com o jornalismo (sendo um espaço para a
reflexão, bem humorada, no caso do programa de Jô Soares) seriam meros programas
de blábláblá de má qualidade.
Os programas de auditório, mais intimistas ou polêmicos na relação
apresentador/convidado/público, e/ou que discutissem temas femininos seriam, então,
fortemente criticados, pois apresentariam um distanciamento das regras estabelecidas
pelo grande talk-show brasileiro de Jô Soares.
https://www.youtube.com/watch?v=bzKHPVUOdzA
Tal tensionamento entre definições de talk-show, programa de auditório, humor de
qualidade, jornalismo bem humorado e reflexivo (jornalismo de atração), deixa clara a
necessidade de uma historicidade na análise do gênero no Brasil, onde o talk-show se
consolida de forma diferenciada: as regras são outras e apontam para uma
hierarquização e pejoração do popular no cenário televisivo brasileiro.
Pensando no cenário televisivo atual, encontraremos diversos exemplos de programas
que estarão flertando com as definições básicas de talk-show - frutos de uma
historicidade americana definidora do gênero-, ao mesmo tempo que comprovam uma
historicidade brasileira, onde o jornalismo ainda é uma influência notória na
organização e estruturação destes programas. A saber:
-
Saia Justa: mulheres discutindo temas dos mais diversos; https://www.youtube.com/watch?v=838Z5UPtFH8
-
Esporte Cidade: comentaristas esportivos; https://www.youtube.com/watch?v=2JZoeBsKq_o
-
TV Omelete: apresentadores discutindo temáticas 'nerds' e de entretenimento. https://www.youtube.com/watch?v=cMuqVBGuFGwNos casos em questão, sempre notaremos a ausência de uma plateia. Entretanto, apesar da distância de um público (caminho usual para a comicidade) colaborando para uma estética de um jornalismo televisivo, seus conteúdos vão contra a suposta seriedade e formalidade deste último, através de apresentadores expressivos que se valem de sua subjetividade ao discorrerem sobre acontecimentos midiáticos. Em última instância, também são exemplos de programas que respondem a nichos específicos - mulheres, esportes, internautas -, fator ratificado por sua localização em canais de tv segmentada, tv regional e internet, respectivamente.
Por último, e não menos importante, deixemos de lado tais juízos de valor,
característicos na história brasileira quando definidora do gênero, e sugerimos pensar o
talk-show de forma mais ampla, assumindo qualquer programa que utilize a
conversação como sua base estruturante pertencentes ao talk-show, aproximando-se
mais, portanto, da classificação norte-americana do gênero.
Programas de entrevistas, programas de debates em torno de assuntos dos mais
diversos, programas de auditório, desde os trash-talks até os humorísticos e (por que
não?) os múltiplos vlogs encontrados na internet se incluem na definição: são seus
múltiplos subgêneros, cada qual com suas características definidoras, que irão ou não
apresentar àquelas numeradas inicialmente, organizados em seus diversos formatos
possíveis, com normas de produção, organização e recepção específicas.
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