Acordando a Caverna!


Qualquer estudante de ensino médio que se preze já deve ter se deparado, alguma vez, com essa história em quadrinhos em suas aulas de filosofia. Uma ilustração bem didática e simples de uma alegoria atribuída à Platão e que consta no sétimo livro da obra A República. Uma de seuas possíveis leituras - a que consta na Wikipedia (:P) - é a metáfora da busca pela verdade.

Presos a um universo de conforto, acomodados com uma visão limitada do mundo, limitada a sombras, esse grupo de homens pode ter as mais diversas reações caso sejam confrontados com o universo de luz e sabedoria "escondido" do lado de fora da caverna. Se a historinha do Piteco simplifica as coisas ao colocar os três homens da caverna deslumbrados e agradecidos, Platão era um pouco mais pessimista.

Temerosos em frente ao desconhecido, os prisioneiros das sombras poderiam preferir ignorar a descoberta e voltar ao conforto da ignorância, ou mesmo matar quem tentou lhes apresentar a verdade, julgando ser um mentiroso e louco. É, sorte do Piteco que ele é um personagem infantil numa revistinha da Turma da Mônica.

Enfim, o que leva à pergunta: O que leva esse mito a se tornar o responsável por inaugurar o blog da matéria de Televisão e Vídeo? O que leva esse humilde espaço a abrigar um título tão alegórico?

A historinha do Mauricio de Sousa se encerra apresentando a televisão como "a caverna" da nossa geração, numa conotação um tanto negativa - que é compartida com muita gente: um objeto emburrecedor para as massas. A musiquinha cantada pelos Oompa-Loompas quando Mike Teavee é defenestrado na primeira versão do filme "A Fantástica Fábrica de Chocolate" (Willy Wonka and The Chocolate Factory, 1971) certamente é o hino de muita gente quando o assunto é "o que você pensa sobre televisão?"


Oompa Loompa, Dumpadi Doo
Tenho outro enigma pra você
Oompa Loompa, Dupada Dee
Se você for esperto, vai me ouvir

O que acontece quando você se entope de TV?
Fica com dor na nuca e com QI de 3
Por que você não tenta ler um livro?
Ou você pode não apenas suportar a visão?
Você não terá
Você não terá comerciais


Oompa Loompa Doompa Dee Da
Se você não for ganancioso você irá longe
E você viverá em felicidade também
Como o
Oompa Loompa, Dumpadi Doo

Por que cinema e literatura sempre são colocados acima da televisão? Por que ela é tão convencionada como uma sub-categoria de entretenimento, sendo que toda mídia tem suas obras-primas e suas porcarias? Mesmo num ambiente como um Curso de Cinema e Audiovisual - onde boa parte dos estudantes acabará trabalhando no mais estável mercado televisivo - , muita gente divide dessa ideia, ou até mesmo dentro do universo das pessoas que já vivem de criar conteúdo para a TV, essa visão se perpetua. E mais e mais o público se acomoda nessa caverna, enquanto lá fora um mundo de possibilidades fica intocado.
 
O Brasil é um dos países que mais produzem e exportam conteúdo televisivo. Ao lado do México, somos líderes em produção de teledramaturgia. Nenhum outro meio de comunicação hoje tem tanto alcance e diálogo com a população, dos mais diversos níveis sociais, que a televisão. Não fosse ela, como seria o Brasil hoje? Como ainda podemos ter essa visão limitada e preconceituosa de algo que faz parte do nosso dia-a-dia, queiramos ou não?

É essa a motivação central desse blog. Não apenas seremos um espaço de diálogo sobre televisão, nas suas mais diferentes facetas, ou uma extensão do conteúdo das aulas da matéria de TV e Vídeo. De certa forma, esse blog buscará ter vida própria, ao mesmo tempo que tentará fazer com que um público, de dentro e de fora do curso, reveja suas visões sobre a Televisão e seu papel no Brasil, na nossa cultura e em nós mesmos.

Queremos que vocês participem desse processo com a gente. Nos próximos dias e posts, mostraremos como, mas vocês já podem ir começando a comentar, dar suas críticas e sugestões, seja na área de comentários ou no e-mail televisaoemrevista@gmail.com. Vamos desde já usar essa nova opção de espaço, preenchendo as paredes dessa nossa caverna com sabedoria para o futuro!

Vamos acordar a caverna, gente, e mudar o mundo! Uma antena de cada vez.

[Quem quiser a historinha "As Sombras da Vida" no seu computador, o link em pdf está aqui.]

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