EUA: Rede ABC cancela duas de suas mais tradicionais Soap-Operas


por Fábio Mendes

Nem todos os familiarizados com a cultura pop vinculada à televisão americana (mais valorizada por aqui em seus seriados) costumam se importar com isso, mas os EUA também possui uma cultura de telenovelas de longa data. Bastante diferenciada da experiência brasileira, mas ainda assim também mantida por um público bastante fiel.

Tramas mexicanas, latinas e, ocasionalmente, até mesmo brasileiras costumam figurar no horário nobre de redes abertas menores, direcionadas ao expressivo número de imigrantes hispânicos do país, como a Telemundo, Telefutura e Univision. Mas as tramas mais populares são, certamente, as soap operas exibidas na grade diária de três das principais e mais antigas redes americanas: NBC, ABC e CBS.

O público brasileiro conhece as soap operas através de um famoso exemplar nacional (e, atualmente, único) do formato: Malhação, exibida aos finais de tarde da Rede Globo desde 1995. Basicamente as "Óperas de Sábão" seguem a mesma ideia da novelinha global: novelas com enredos mais flexíveis, poucos núcleos e duração menor de capítulos, com um elenco de estreantes ou de menor escalão. Uma tentativa da Rede Record de produzir dentro desse formato foi Alta Estação (2006), encurtada e encerrada oito meses após sua estreia.



Voltando para os EUA, uma decisão da rede ABC tornada pública na última quinta-feira 15 surpreendeu muita gente - o cancelamento de duas de suas mais antigas atrações, as soap operas All My Children e One Life to Life. O ato, divulgado nos sites Entertainment Weekly e da revista americana People, encerra a trajetória de duas das novelas mais longas da história da televisão: All My Children, que terminará em setembro, começou a ir ao ar em 1970; já One Life to Live, que terá seu último capítulo levado ao ar em janeiro do ano que vem, é ainda mais tradicional: estreou em 1968.

Ambas as tramas, exibidas nas tardes - com uma média de 2,5 milhões de espectadores por capítulo - deixarão a grade para dar lugar a The Chew e The Revolution, programas direcionados à qualidade de vida (como o Bem Estar, da Rede Globo). Com a mudança, a rede ABC passará a exibir apenas General Hospital, a mais longa novela atualmente no ar nos EUA, com mais de 12.300 capítulos desde sua estreia, em 1963.


Como diz o colunista de televisão da revista Time, James Poniewozik, as soap operas "são tudo ou nada" para os espectadores norte-americanos: "Se você não as assiste, é como se elas nem existissem; mas se você o faz, é um relacionamento totalmente diferenciado com a Televisão". Para esse nicho, um cancelamento é como "se uma parte de sua vida fosse cancelada junto". Não é à toa: se em Malhação um personagem chegou a fazer parte do elenco por mais de 5 anos (Sérgio Hondjakoff, o "Cabeção"), Hayley, personagem da atriz Kelly Ripa em All My Children, está na trama desde 1990.

Acompanhar o destino desses personagens, mais que uma curiosidade narrativa, se tornou pra muitas donas-de-casa norte-americanas, há muito tempo, parte de sua rotina diária; para os atores, é até como se fossem demitidos após anos de serviço diário: segundo Ripa, "É como perder um membro da sua família. All My Children era mais que um emprego - era minha família. Foi lá que eu conheci meu marido. Foi lá que eu estava quando meus dois filhos nasceram. Foi lá que eu conheci a maior parte dos meus amigos de longa data."


Embora o número de soap operas estejam decaindo nos últimos anos (em 2009, a CBS também anunciou o término de Guiding Light e As The World Turns), isso não significa que ele esteja perdendo prestígio: no início do ano passado, One Life to Live causou repercussão por causa de uma cena de sexo homossexual entre os atores Scoth Evans e Brett Claywell. E, recentemente, rumores envolviam planos da rede FOX americana de adquirir textos da Rede Globo. Enquanto isso, tramas como The Young and The Restless (CBS) e Days of Your Lives (NBC) seguem incansáveis na tardes norte-americanas. A tradição ainda persiste.

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