"O Astro" e a Confusão de Termos: O que é, afinal, uma "minissérie" no Brasil?

[Com informações do site Teledramaturgia.com.br e do Blog do Daniel Castro, no Portal R7]

A Rede Globo teve seu primeiro trabalho no formato minissérie lançado em 1980 - Lampião e Maria Bonita, de Aguinaldo Silva e Doc Comparato, produção com oito capítulos. Desde então, a emissora sempre se preocupou em lançar, todo ano, pelo menos um produto dentro desse formato: uma história seriada em poucos capítulos, exibidos diariamente. 

Nos anos seguintes, foi nesse campo que a Rede Globo pôde experimentar obras com maior liberdade artística - como Hoje é Dia de Maria, o Projeto Quadrante, as produções-irmãs Anos Dourados e Anos Rebeldes, O Portador, a polêmica Decadência, entre outras - e mesmo superproduções dramatúrgicas, como as adaptações literárias de O Tempo e o Vento, Grande Sertão: Veredas, O Pagador de Promessas, O Primo Basílio. 

Riacho Doce (1990), com 40 capítulos, abriu um novo recorde na Rede Globo: embora seja anunciada como minissérie, foi exibida por quase quatro meses. Exibida na faixa das 22h30, tinha a intenção clara de conter o fenômeno Pantanal da Rede Manchete. Mas foi em 1998, com Hilda Furacão, que as minisséries gigantes viraram regra, ou melhor, uma tradição anual, na emissora.


Em geral, se tratavam de grandes e elaboradas reconstituições históricas, textos originais ou adaptados, de momentos-chave da História do Brasil. O que mais chamava a atenção, porém, tirando algumas exceções, era a extensão titânica das produções: exibidas de terça a sexta, de janeiro a abril, passavam da marca de 50 capítulos. O motivo é simples: como se tratam de obras muito caras, elas precisam "pagar" seu custo de produção através da publicidade - e dificilmente ela conseguiria esse feito em apenas uma ou duas semanas de exibição.

Porém, empurradas a uma faixa de horário ingrata (alguns capítulos ultrapassavam a meia-noite) e afetadas pela quebra de público com o Big Brother Brasil, com o qual passou a dividir espaço (e atenção) em 2001, o retorno desse material foi cessando a cada obra. Em geral, a resposta inicial era boa, mas até o final, o interesse da audiência já tinha se esvaído - a ponto das produções terem últimos capítulos apagados, como ocorreu com Mad Maria (2005) e a ambiciosa Amazônia (2007), última das minisséries gigantes.

Tudo isso leva para o lançamento, em julho, de O Astro. Assim como foi com A Muralha em 2000 (adaptação do romance que originou uma novela de imenso sucesso na TV Excelsior, escrita por Ivani Ribeiro em 1968), o grande motivo desta obra, remake do texto de Janete Clair exibido em 1978, é a comemoração dos 60 Anos da Telenovela Brasileira (além, é claro, de frear uma arma poderosa da Rede Record, a Quarta Temporada de A Fazenda).


Com estreia prevista para 12 de Julho, a produção terá todo o status de uma novela das 8: elenco estelar (Rodrigo Lombardi, Carolina Ferraz, Francisco Cuoco, Thiago Fragoso, Regina Duarte, Aline Moraes, entre outros), texto aberto (a história inicial será redefinida conforme o gosto e a aceitação do público)...mas ficará no ar por quatro meses: ou seja, será uma minissérie (ou macrossérie, como insistem em dizer os colunistas). Mas uma pergunta fica no ar: Por quê o remake de O Astro não pode ser chamada de novela?

Nos horários padrões de novelas da Rede Globo, já houveram casos de novelas com menos de 90 capítulos ou mesmo menores. O Fim do Mundo (35 capítulos, 1995) e Estrela-Guia (82 capítulos, 2001) são os exemplos mais imediatos - além de Esplendor (que foi imaginada para ter 80 capítulos, mas, no ar, foi esticada para 125). A estética e narrativa, diferente das produções históricas, será novelesca, com vários núcleos, mocinhos, vilões e até a nova versão do primeiro "quem-matou" da teledramaturgia brasileira, envolvendo Salomão Ayala (Daniel Filho). Tudo vindo do texto de uma das maiores novelistas da história da TV brasileira.

"Uma Super-Novela em 35 Capítulos!"

Segundo Nelson Xavier, no site Teledramaturgia, O Fim do Mundo só teria sido anunciada como novela porque a Globo, atrasada com a produção de O Rei do Gado e sem poder estender sua antecessora, Explode Coração, decidiu por exibir no horário um projeto já encaminhado de minissérie, escrita por Dias Gomes. Num caso mais recente, Som e Fúria e Cinquentinha (ambas de 2009) foram projetadas como seriados semanais, mas, exibidas diariamente, foram anunciadas como minisséries.

Pois será que então, para a Rede Globo, apenas o horário faz um produto? O que diferencia agora uma novela de uma macrossérie, sendo que suas poucas diferenças ruíram com O Astro?

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