por Fábio Mendes
[com informações do Blog do Daniel Castro, no portal R7]
Mesmo com as constantes críticas e reclamações vindas de fora, entre telespectadores e críticos, é inegável que os programas de telejornalismo policial de final de tarde, há mais de dez anos, são grandes trunfos na grade de programação das grandes redes. Um formato popular, barato, que sempre mantém um público fiel e, em situações específicas como crimes de grande repercussão, são sempre os programas que mais se beneficiam e ganham público, em busca de informações mais detalhadas.
Mesmo não sendo um formato, à primeira vista, rentável no ponto de vista do retorno comercial, na grande maioria dos casos, os índices de audiência acabam justificando os investimentos. Um programa deste tipo pode, por exemplo, funcionar muito bem para agregar público para o horário nobre e, no caso de um canal de menor alcance, divulgar outras atrações da emissora.
O que é o caso do Brasil Urgente, exibido pela Bandeirantes desde dezembro de 2001. Inicialmente apresentado por Roberto Cabrini, a ideia original da atração era tentar concorrência com o principal representante do gênero na época: o Cidade Alerta, comandado por José Luiz Datena desde 1999 e no auge do sucesso. Até então mais conhecido como repórter esportivo, Datena, sempre alimentando sua pose de revolta enérgica, conseguiu se tornar a alma da atração, afirmar-se como o melhor em sua função, a razão do sucesso do Cidade Alerta. O que não ficou intocado por muito tempo.
O equilíbrio quebrou-se em 2002. Uma passagem-relâmpago conturbada pela RedeTV!, onde apresentou o programa Repórter Cidadão por apenas dois meses, antecedeu um primeiro retorno à Rede Record, que durou muito pouco. Ás custas de uma pesada rescisão de contrato, Datena finalmente chegou à Bandeirantes, onde passou a comandar o Brasil Urgente.
Lá, Datena confirmou sua força. Frente à sua concorrência, o Cidade Alerta e o Repórter Cidadão não resistiram e saíram do ar. O SBT, em duas tentativas, com o Aqui Agora (2008) e o Boletim de Ocorrências (2010), também sucumbiu. Anabolizado por casos policiais de grande comoção nacional como os de João Hélio, Isabella Nardoni, Eloá Pimentel, Eliza Samudio e, mais recentemente, o Massacre de Realengo, logo Datena tornou-se o carro-chefe de toda a frágil programação da emissora, acumulando atrações paralelas e participações em diversas outras atrações da emissora e da Rádio Bandeirantes, sempre sendo ele o atrativo central (No Coração do Brasil, São Paulo Acontece, Manhã Bandeirantes - para a rádio, Dia Dia - como comentarista - e até locuções em jogos de futebol e eventos esportivos).
Poucas vezes uma emissora brasileira se tornou tão dependente de um homem só. Uma era insana que chegou ao fim na última quinta-feira. A Rede Record, após várias investidas, conseguiu finalmente recuperar Datena às custas do anulamento das antigas multas contratuais de oito anos atrás. Situação que aparentemente, também teve como grande catalizador a contratação pela Record, duas semanas antes, do maior parceiro de Datena na Band: o famoso Comandante Hamilton, que durante o Brasil Urgente fazia rondas de helicóptero por SP e interage com o apresentador.
O Cidade Alerta já retorna ao ar nesta segunda-feira, ás 5 da tarde, com 2h15 de duração (sendo a última meia-hora regional, apenas para São Paulo). Uma estreia de gigantesco potencial, que já trouxe consequências imediatas na conorrência: enquanto a Rede Globo alterou todos os filmes programados para a Sessão da Tarde da próxima semana (escalando blockbusters como True Lies, Transformers e Desventuras em Série), a Bandeirantes, mais fragilizada do que nunca, remanejou às pressas Luciano Faccioli do matinal Primeiro Jornal para ocupar a vaga de Datena e tentar segurar o seu público na emissora.
O que, vendo o histórico de Datena, parece meio improvável que aconteça. E as consequências da perda de Datena podem ser devastadoras para o futuro da Bandeirantes. A menos que a emissora não busque reinventar sua imagem e fortaleça sua grade com urgência, uma grave crise de público parece inevitável para os próximos meses.
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