Cinema, Vídeo e Outras Coisas: "Cinema, Vídeo, Godard", de Phillipe Dubois

por Roberson Hoberdan Corrêa
da turma 1. 2011
Aluno da Matéria Televisão e Vídeo. Texto referente ao Conteúdo do Seminário realizado em 19/06/2011


Philippe Dubois se figura no atual cenário dos estudos da estética da imagem e da figura como um dos mais importantes pesquisadores, que contribui amplamente para as reflexões sobre fotografia, cinema, vídeo e mídias digitais. É professor da Universidade de Paris III, onde coordena a unidade de pesquisa em cinema e audiovisual, além de ser publicado em dezenas de idiomas e referência em cinema moderno e relações entre arte e tecnologias.

A edição brasileira de Cinema, vídeo, Godard conta com nove ensaios, com adicionais à edição argentina, que abrangem discussões acerca da natureza e estatuto da imagem, o vídeo, condições tecnológicas de produção artística e a imagem no campo das produções visuais, principalmente em cotejo com o cinema. A obra está dividida em três grandes partes: “Vídeo e teoria das imagens”, “Vídeo e cinema” e “Jean-Luc Godard”.

O autor adentra então nas discussões sobre a estética da representação conflitante à medida que as “máquinas de imagem” também se transformam e se imbricam. Já a questão do Real e do Sujeito perpassa pelo maquinismo-humanismo. Dubois trabalha de forma etapista para apresentar as várias relações tanto de ordem abstrata quanto da ordem das relações sócio-tecnológicas de cada época. Uma primeira linha de relação maquinístico-humanistíco inclui o exemplo de uma câmara escura, uma máquina puramente óptica de pré-figuração que auxilia a apreensão do real, reproduz, imita, funciona como prótese perceptiva, mas não operam inscrições. Deste modo, a imagem continua sendo fabricada por uma mão humana e vivenciada como experiência e subjetividade. Esta nova tecnologia acaba por modificar a relação com o real até então apreendida, assim como sua “sucessora” também fez com ela mesmo, como apresenta Dubois: o advento da imagem fotográfica “vai dispor em novo patamar a maquinização da figuração, estendendo sua intervenção à segunda fase do processo” (p. 38).

O surgimento do Cinematógrafo, no final do XIX, assinala uma terceira fase do dispositivo, que se torna maquínica: a projeção. O precesso tecnológico de visualização é então indispensável, bem como agentes condicionantes: sala, tela etc.

O quarto estrato maquínico vem com a televisão e depois o vídeo, figurando uma maquinaria de quarta ordem. Essa imagem televisiva resulta, para o autor, numa imagem amnésica, que se forma sob o espectro do “ao vivo”, numa intensa relação de simulacro que provoca um desaparecimento de todo o sujeito e de todo o objeto, que prima à comunicação em detrimento da comunhão.

Por fim, uma “última tecnologia”[1] novamente se impõe tecnológica e teoricamente: a imagem informática (de síntese, digital ou infográfica), para Dubois de ordem cinco. Aqui, as discussões de representação se concentram principalmente na questão de que o próprio “Real” se torna maquínico, havendo não mais reprodução, mas sim de concepção, alterando mais uma vez o estatuto da imagem. Deste modo, “não há mais grãos de real para arranhar a imagem envernizada da tecnologia” (p. 49).

A tomada de postura de Philippe Dubois em favor do vídeo em detrimento da televisão, já desvirtualizada por ele, acaba por negar importância e possibilidades a um meio popularmente difundido e espaço de potencialidades, modo como é lido por Arlindo Machado.

Referências
BENJAMIN, Walter. Magia, técnica, arte e política. São Paulo: Ática, 1985.
DUBOIS, Philippe. Cinema, vídeo, Godard. São Paulo: Cosac e Naify, 2004.
FELINTO, Erick. “Cinema e tecnologias digitais” In: MASCARELO, Fernando. História do cinema mundial. Campinas: Papirus, 2008.
MACHADO, Arlindo. Televisão levada a sério. São Paulo: Senac, 2000.
____. Phillipe Dubois. Disponível em <http://editora.cosacnaify.com.br/Autor/153/Philippe-Dubois.aspx>. Acessado em: 17/06/2011.


[1] Percebe-se aqui, pelo uso das aspas, uma sugestão de combate ao anacronismo típico ao se pensar as tecnologias sem suas respectivas alocações temporais.

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