Gêneros Televisivos de Ficção Televisiva em Série: o Drama e a Comédia

por Aline Fonte e Lihemm Farah
da turma 1. 2011
Alunas da Matéria Televisão e Vídeo. Texto referente ao Conteúdo do Seminário sobre Gêneros de Ficção Televisiva, realizado em 28/06/2011


O mercado de produção audiovisual no geral é dominado pela indústria norte-americana. Com a TV não seria diferente. Aos outros países que desejam competir neste mercado, restou a opção de seguir os padrões/convenções ditados por essa produção específica a que o público está tão habituado, aumentando assim suas possibilidades de boa recepção junto ao público.

Apesar de existirem outros gêneros, aqui pretendemos retratar o Drama e a Comédia e o fenômeno de hibridação dos gêneros exemplificado através da “Dramédia”.

A origem do gênero Drama nos EUA tem a ver com uma questão puramente industrial. Nos anos cinquenta e sessenta os grandes estúdios de Hollywood percebem como a televisão pode se converter em um sustento suplementar de suas atividades, centradas principalmente na produção de longa-metragens. Como consequência as primeiras séries dos anos cinquenta e sessenta se relacionam com os gêneros predominantes em filmes da época.
Exemplo: Bonanza (1959-1973) – Western.
Agrupar ou classificar produções por gênero é admitir que se tem características específicas que fazem produções diversas se aproximarem por terem, justamente, essas características em comum. No caso dos gêneros televisivos de ficcção, essas características estão no campo da linguagem e do formato. As delimitações dos gêneros televisivos podem ser divididos quanto a estrutura do argumento, duração dos episódios, filmagens, personagens e modelo de realização.
Seguindo esta linha de pensamento, o Drama, mais especificamente as séries de televisão, apresentam características peculiares. Este gênero se apoia na existência de quatro atos separados por pausas publicitárias a cada 10 ou 12 minutos, precedidos por uma introdução que apresenta o conflito do episódio e seguidos de uma breve conclusão. Cada ato costuma repetir internamente a mesma estrutura, com um final que lança um questionamento, não resolvido até o início do ato seguinte, depois do correspondente corte de publicidade (Plot point). Os episódios, salvo casos muito específicos, eram fechados e podiam ser contemplados separadamente por qualquer espectador.
A partir da década de 80 se começou a explorar séries com um nexo ‘argumental’ geral muito forte, que se mantinham em diversos episódios. Sustentam uma trama principal e uma ou duas tramas secundárias. Costuma completar uma hora comercial, o que equivale aproximadamente a 42 minutos de episódio com três pausas de publicidade de aproximadamente seis minutos.
As séries são realizadas em suporte cinematográfico de 35mm e costumam combinar filmagem em estúdio e em  externas naturais ou de grandes estúdios (Cidades cenográficas). Também é possível identificar que utiliza-se de muitos personagens, entre os quais é comum encontrar alguns protagonistas  e outros tantos personagens secundários. A planificação e a mise-en-scène se apoiam no uso eficaz da montagem. Uma produção para TV que não pretende ser simples, aproxima-se do cinema.
A Sitcom I Love Lucy
O termo anglo-saxão sitcom surge da fusão dos dois conceitos nos quais precisamente se apóia o formato, a comédia baseada em situações peculiares. A comédia nasce nos Estados Unidos no ano de 1947 com dupla raíz ao mesclar os velhos seriados radiofônicos  de humor e toda a tradição do teatro ligeiro de vaudeville. Seu formato específico é herança das limitações técnicas que condicionaram os primeiros passos da televisão.
Por não existir magnetoscópios toda a televisão era feita ao vivo ou em um suporte de filmagem, era impossível gravar em várias tomadas. A utilização de suporte em celulóide modificou esse condicionante, mas a presença do público na representação forçavam novamente a trabalhar com apenas uma tomada.
Sua estrutura em três atos que vem a representar a clássica estrutura narrativa de apresentação, desenvolvimento e desenlace. Além disso, é comum adicionar um teaser (breve gag) inicial e um tag que sucede o desenlace. O gênero Comédia explora uma trama principal que sustenta cada episódio, completada por uma ou duas tramas secundárias que transcorrem paralelamente à principal.
Os episódios são independentes e auto-conclusivos, ainda que possam manter algumas tramas muito genéricas de conexão entre elas. A duração por episódio é de 30 minutos brutos (incluindo duas pausas para a publicidade: 3’+3’), que supõem aproximadamente 24 minutos de duração real. As gravações são feitas em suporte magnético, com várias câmeras em locações fixas, de estúdio.
Outra característica é o elenco reduzido, baseado em não mais de quatro ou cinco principais e muitas vezes há presença de personagens episódicos sem continuidade na série. A mise-en-scène é puramente teatral, com representação frontal, de frente às câmeras e ao público assistente, quando há a presença do mesmo.
As principais diferenças entre a comédia (sitcom) e o drama (série) são referentes ao tempo de produção, a complexidade de tramas e personagens, e a técnica de escrita. Enquanto na sitcom o peso do humor tem uma relevância principal, no drama ou série a chave é determinada pela continuidade e a estabilidade da narrativa.
A solidez dos gêneros é questionada há muito. As tendências formais das produções pós modernas modificadas pela própria relação do indivíduo pós moderno com a imagem e com o mundo pode ter grande influência na fragilidade dos gêneros nesse momento. Não que antes não houvesse ‘furos’ nessas delimitações mas há de se admitir que hoje os gêneros dialogam entre si com muito mais liberdade, e não só os gêneros mas várias possibilidades de intertextualidade, a própria questão da transmídia, entre outros exemplos. Depois de estabelecermos esses pontos característicos dos dois gêneros retratados com tanto rigor, trazemos a “Dramédia” para ilustrar a fragilidade das determinações dos gêneros.

Sobre a Dramédia, há uma pressão do novo junto à solidez dos formatos existentes levando ao que se pode chamar de “hibridação”.  Em meados da década de 80 acontece nos Estados Unidos o período mais renovador e rupturista que conheceu a televisão estadunidense desde seus primórdios no campo da ficção. Canais e produtores parecem concordar em arriscar  e romper os moldes estabelecidos que haviam chegado a um sério momento de desgaste. Em 14 de Setembro de 1987 nasce na CBS um diferente conceito de série, chamada Frank’s place. As mudanças mais significativas são a duração de 30 minutos e estrutura narrativa de comédia, mas pertence ao gênero drama, filmada em película com uma só câmera sem público ou risadas (clack) . As histórias contém argumentos bastante duros, como abusos do consumo de drogas ou o suicídio.

Enquanto isso outras produções promovem suas quebras, surgem séries com conteúdo dramático e com estrutura anteriormente associada a sitcom. A confusão que se instaura nesse cenário chega ao ápice quando, em 2000, os prêmios Emmy são protagonistas de uma situação curiosa: O prêmio de melhor comédia vai para uma série de 60 minutos de duração (42 minutos reais), filmada em película Ally McBeal (Fox, 1997-2002) e para a criação de David E. Kelly (The Practice) como melhor drama.
Hoje, a maior parte das produções norteamericanas mantém os formatos clássicos, mas eventualmente aparecem novas “dramédias” que tem como característica comum a oscilação entre os dois formatos clássicos como é caso de Weeds e  Californication.

Não pretendemos aqui colocar Dramédia como um gênero fechado, já que a mesma consiste justamente na mescla de dois gêneros já definidos, simbolizando uma quebra com os padrões com os quais estamos tão familiarizados, seja por questões de linguagem, pelo próprio formato ou, em casos mais extremos, pela junção das duas  formas anteriores ao se apropriar da hibridação como uma forma singular de criação, com características próprias a partir de características já existentes.


Uma especificidade é o caso da Espanha, onde parece que tudo que é produzido para televisão em termos de ficção se resume a “Dramédia a la espanhola”. São programas com episódios de duração real entre sessenta e  setenta minutos que se utilizam de três ou quatro tramas, que permitem a inclusão de três ou quatro cortes de publicidade e extensão da exibição do mesmo por mais de cem minutos comerciais (prime time). Além da invenção desse formato próprio, tende-se a mesclar tramas de humor com outras temáticas próprias do Drama. Tudo isso adereçado por conflitos sentimentais, umas tendendo mais para o humor e outras para o Drama (Relação 30%-70%). 
Alguns exemplos de “dramédias” espanholas são Periodistas (T5, 1998-2002), Cuéntame cómo pasó (TVE, 2001), Lo Serrano (T5, 2003-2008), Los hombres de Paco (A3, 2005).

Arquivo de Apresentação do Power Point com as informações deste Seminário:

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