Consumidores abandonam Netflix nos Estados Unidos

Deserção começou após operadora de vídeos decidir dividir-se em duas
Serviço popular de entrega de DVDs será separado do de filmes e séries on-line; ação cai 37% desde o dia 15


[Publicado originalmente no Caderno Mercado do Jornal Folha de São Paulo, 21 de Setembro, Página B5. Por Luciana Coelho, de Washington]

Consumidores furiosos nos Estados Unidos invadiram nos últimos dois dias as páginas da operadora de vídeos Netflix nas redes sociais, prometendo abandoná-la depois da decisão da empresa de dividir-se em duas, separando seu popular serviço de entrega de DVDs do de filmes e séries de TV on-line. As ações da empresa, que acaba de entrar no mercado brasileiro, recuaram 9,5% ontem na Nasdaq, a Bolsa de tecnologia em Nova York. Desde o dia 15, a empresa perdeu 37% do seu valor.

A queda foi acelerada por uma sucessão de anúncios recentes e abruptos sobre mudanças em seus serviços. Em julho, veio o aumento do preço das assinaturas, que chegou a 80%; 1 milhão de assinantes debandaram, e, na sexta-feira, a empresa revisou para baixo a projeção da base de clientes. O golpe final foi a cisão, anunciada por e-mail repleto de pedidos desajeitados de desculpas (a primeira linha diz "perdão, fiz bobagem") enviado pelo presidente-executivo, Reed Hastings, a assinantes na segunda-feira.

"Após sete longos anos com a Netflix, parece que é o fim. Como tanta gente que deixou comentários aqui, desanimei com o aumento de preço, mas queria manter o serviço, reduzindo o número de DVDs que recebo e mantendo o 'streaming'", escreveu Ben Cornue na página da empresa no Facebook. No fim da tarde de ontem, eram mais de 24,3 mil comentários. Muitos eram pessoais, raivosos ou apaixonados. Em 12 anos, a Netflix reuniu 24 milhões de clientes nos EUA.

Outros ofereciam sugestões para consertar a situação. Mas o tom mais recorrente era de desolação. "Sr. Hastings, você quer mais do meu dinheiro, para me dar menos em troca. Não posso continuar assim. Há opções lá fora -vou voltar para a minha ex, a Blockbuster", dizia Kile Golder.

E Cary Hill era enfática: "Estou curtindo esse suicídio corporativo. É interessante assistir vocês tomarem uma decisão ruim após outra". A empresa, porém, se mantinha firme sobre a cisão. De acordo com Hastings, o serviço por "streaming", como o que funciona no Brasil, manterá a marca Netflix. Já o serviço por DVD será rebatizado como Qwikster.

Serão empresas independentes, com páginas e faturas independentes. A ideia é voltar forças para o streaming, cujo lançamento, em 2008, catapultou a Netflix.

SEM MUDANÇA NO BRASIL

As turbulências com o serviço norte-americano não devem afetar os investimentos no Brasil nem em outros mercados internacionais, afirmou à Folha Jonathan Friedman, vice-presidente de comunicação da Netflix. "O caixa internacional funciona totalmente separado", afirmou Friedman, em entrevista por telefone. "Nossos planos não mudaram." O serviço por "streaming" foi lançado na América Latina neste mês, e a oferta de DVD nunca estava nos planos da empresas na atuação no mercado internacional. 

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