Aquele Beijo: o novo formato de novela que se aproxima do Seriado

Desde Duas Caras, de Aguinaldo Silva, a narrativa se divide em Episódios Isolados

[Publicado originalmente na Coluna de Artur Xexéo do jornal O Globo de 19 de outubro de 2011, Segundo Caderno, Página 12.] 


Com a estreia de Aquele Beijo, a novela de Miguel Falabella que começou a ser exibida na segunda-feira, o que parecia ser uma tendência já pode ser visto como um novo formato. As novelas brasileiras se aproximam cada vez mais do formato de seriados da TV americana.

Não há mais uma trama central que tente prender o espectador do primeiro ao último capítulo. O que existe agora é um grupo de personagens e situações vividas às vezes por um, às vezes por outro. O autor não se centra mais num protagonista. Cada subtrama fica no ar por mais ou menos uma semana. Se fossem editados os capítulos de uma semana num produto de uma hora ou uma hora e meia, o resultado não seria muito diferente de um episódio de Brothers & Sisters ou Deadwood.

Aguinaldo Silva nunca escondeu que Deadwood foi sua inspiração para Duas Caras, a novela que foi exibida em 2008 e que pode ser considerada um marco do novo formato. Uma novela de antigamente pode ter sua trama resumida numa sinopse de duas ou três linhas. Dancin’ Days, por exemplo, escrita por Gilberto Braga em 1978, contava a trajetória de uma ex-presidiária que tentava reconquistar a filha criada pela irmã. Agora, tente criar uma sinopse simples assim para Insensato Coração. Ou, para falar de uma trama que está no ar, com Fina Estampa.

A nova novela de Aguinaldo Silva é, numa semana, sobre a taxista que tem o carro roubado, encontrado e reformado pelo programa de Luciano Huck. Na outra, sobre o rapaz pobre que se passa por rico e é desmascarado na noite de seu noivado com uma patricinha da Barra da Tijuca. Na semana seguinte, sobre o bilhete de loteria premiado e desaparecido da personagem principal. É ou não é um seriado como os da TV a Cabo?

Alguém pode dizer que as novelas sempre tiveram tramas paralelas e, portanto, sempre puderam ser separadas em episódios. Não é bem assim. Nos anos 80, as novelas da Globo faziam tanto sucesso na Itália que a emissora criou uma estação própria por lá. A sede da Telemontecarlo era em Mônaco, mas a ideia era atingir o público italiano. O problema foi que a inauguração da emissora coincidiu com um período em que o interesse dos espectadores italianos pelas novelas começou a decair. O sucesso, na época, eram as séries do tipo Dallas e Dinastia. A Telemontecarlo, então, tentou transformar a novela brasileira em algo parecido, com episódios semanais que reuniriam os acontecimentos de cinco ou seis capítulos. A experiência foi feita com Roda de Fogo, de Lauro Cesar Muniz, que foi ao ar no Brasil em 1986. Não deu certo. Novela não era seriado, e o público percebeu a diferença. Hoje, a história seria outra. Duas Caras, Insensato Coração, Morde e Assopra se adaptariam perfeitamente à transformação. Isso não deixa a novela melhor ou pior. A novela ficou apenas diferente.

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