Experiências de Cineastas com Vídeo nas décadas de 1970 e 80

por Lucas Vieira e Pedro Freitas
da turma 2. 2011

Alunos da Matéria Televisão e Vídeo. Texto referente ao Conteúdo do Seminário sobre Experimentalismo em Vídeo, realizado em 26/09/2011

O videotape surgiu em 1956, com o intuito principal de gravar os conteúdos da televisão de forma a estabecer uma grade de conteúdos que pudessem ser transmitidos em diferentes horários da programação, além de também a possibilidade a pós-produção para os produtos televisivos.

É interessante notar também que quando o vídeo surge, já existe uma demanda de consumo caseiro, muito associada ao uso de películas mais acessíveis como o 8mm, Super 8 e 16mm, muito usados para filmes caseiros. Nos anos 70 eram populares os festivais de Super 8, em espaços alternativos: cineclubes e até apartamentos. Esse fato demonstra que já havia demanda pelo formato que o video iria estabelecer.

Desde o surgimento do vídeo, cineastas e artistas plásticos exploravam suas possibilidades artísticas em vários tipos de experimentos. Alguns artistas, como Nam June Paik são influências notáveis para muitos artistas contemporâneos. Paik foi um dos precursores da vídeo-arte e também das vídeo-instalações, adicionando televisores a exposições de museu.

Nam June Paik: “Global Groove

Paik: Vídeo-instalações

Num primeiro momento, os cineastas não utilizaram o vídeo, mas a partir da década de 70, vários deles começaram a fazer experiências entre o vídeo e a película. Alguns exemplos como Nicholas Ray, Jaques Tati, Godard, Wim Wenders, Antonioni e Coppola.

Em 1971, Nicholas Ray fez um filme utilizando o video enquanto lecionava para suas turmas de cinema. Tratava-se de uma experiência em múltiplos formatos, super 8, 16mm, 35mm, vídeo e etc., que seriam projetados em quatro janelas na mesma tela, mas o filme nunca foi terminado e só foi visto por um público pequeno muitos anos após o falecimento do diretor. Para esse filme, Ray utilizaria um “sintetizador de vídeo”, máquina inventada por Nam June Paik com o propósito de fazer experimentos visuais com esse formato.

Nicholas Ray: “We Can’t Go Home Again
 
Nicholas Ray: “We Can’t Go Home Again” (Backstage)

Outros cineastas, como Jacques Tati e Wim Wenders viram a possibilidade de usar a textura do vídeo para criar uma experiência visual diferente da película, atribuindo a essas imagens uma carga subjetiva maior comparada ao realismo do filme. Em Nick's Movie (Wim Wenders e Nicholas Ray), de 1980, cenas subjetivas em vídeo, filmadas com a câmera mais livre, são usadas em oposição a cenas mais objetivas e estáticas em película.

Enquanto isso, no Brasil, em 1979 o Glauber Rocha estréia o programa "Abertura" na Tv Tupi. Esse programa tinha caráter subversivo e procurava redefinir a linguagem da televisão. Transitava entre o documental e o fictício, o pessoal e o impessoal. Alem disso, desde o início da década, a atividade de documentaristas e diretores de ficção vindos do cinema e absorvidos pela TV no Globo Shell Especial e Globo Repórter, marcou a entrada da linguagem cinematográfica na TV brasileira. Alguns nomes desse momento são: Eduardo Coutinho, Walter Lima Jr. João Batista de Andrade, Maurice Capovilla, entre outros.

Também no Brasil, os experimentos de Julio Bressane e do grupo TVDO em vídeo serão fundamentais para a estética de “colagem” e de um certo ruído na imagem, que vingará no cinema marginal, na década de 70.

 Glauber Rocha: Abertura (1979)

Francis Ford Coppola também fez experimentos com vídeo. Em 1982 lançou o filme "O Fundo do Coração (One from the Heart)" Para esse filme, Coppola teria usado video como rascunho, filmando muitas das cenas do filme em vídeo como um teste para re-filmar depois com película. Coppola também permitiu que uma equipe filmasse quase todos os momentos da produção com uma câmera de fita, o que resultou em um enorme volume de material extra, making of e etc. que posteriormente foi lançado no DVD. A iluminação e as cores do filme remetem bastante à estética de vídeo e são utilizados diversos efeitos de montagem que aproximam o filme, nesse quesito, aos videoclipes, que começavam a serem exibidos na MTV nesse mesmo ano.

Coppola: “One From the Heart

A partir dos anos 80 e nos anos 90, as tentativas de integração das diversas possibilidades oferecidas pelo vídeo se tornam mais escassas. As funções do vídeo se tornam mais definidas e o cinema continua a privilegiar a película como suporte. O vídeo é utilizado principalmente na vídeo-arte, muitas vezes tematizando seu papel de onisciência e entre-meio, entre o cinema, a TV e as artes plásticas.

É notável aí a maior apropriação da linguagem do vídeo pela indústria cultural, incorporando muito dos procedimentos antes ditos “experimentais”, por exemplo, através dos vídeo clipes.

Hoje em dia, com a evolução da qualidade do vídeo e as possibilidades do cinema digital, é interessante medir até onde ficaram de fato restritas as possibilidades “artísticas” do vídeo, visto que as novas tecnologias (especialmente a partir da popularização do DVD e das câmeras semi-profissionais) abriram novas possibilidades de produção a custo mais baixo e com uma qualidade comparável a da película.

Comentários

  1. Muito legal conhecer o trabalho do Nam June Paik, adorei as videoinstalações que vocês mostraram na sala em sua apresentação. Pena que não postaram os links do YouTube para agt ver mais coisas!

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