Histórico dos Vídeoclipes

por Beatriz Mascari, Antonio Junior e Isabela Godoi
da turma 2. 2011

Alunos da Matéria Televisão e Vídeo. Texto referente ao Conteúdo do Seminário sobre Videoclipes, realizado em 26/09/2011

O cinema de vanguarda dos anos 1920 pode ser considerado o precursor do videoclipe moderno já que desde aquela época cineastas como Dziga Vertov e Walter Ruttmann experimentavam uma articulação entre imagem, música e efeitos para criar uma narrativa que fosse própria do meio audiovisual e que se distanciasse da literatura e do teatro. Quem também fez experimentações usando a sincronização entre imagem e som foi o artista plástico e animador Oskar Fischinger que trabalhou com Walt Disney em Fantasia (1940).


 
Cenas de Berlim: Sinfonia da Metrópole (1927), O Homem com uma Câmera (1929) e Fantasia (1940)

Nos anos 1960, influenciada pela pop art, a videoarte se consolida e promove uma interação entre cineastas e pintores e músicos. Foi nessa época que surgiu a idéia de gravar as apresentações de bandas e cantores para que eles pudessem estar em diversos lugares ao mesmo tempo e, assim conseguissem ter um maior alcance de público. Os Beatles foram um dos primeiros a participar dessas gravações e com o tempo os vídeos da banda foram tomando um formato parecido com os clipes de hoje.

Eleonor Rgby – The Beatles (Cena do filme Yellow Submarine)

Linguagem do Videoclipe

Com influências da vanguarda dos anos 1920, do cinema experimental dos anos 1950, 1960 e do videoarte dos anos 1970, o videoclipe que tinha como função apenas ser uma peça promocional que servia a indústria fonográfica, com a criação da MTV no início da década de 1980 começa a ter maior visibilidade e adesão do público.

A partir dos anos 90 começa-se a abrir o espaço do videoclipe para uma maior experimentação, por vezes desvinculando a imagem do artista ou seu uso parcial com o objetivo de explorar mais a fundo texturas imagéticas, cores e outras possibilidades narrativas. Observa-se isso, por exemplo, no videoclipe da cantora Madonna, Ray Of Light que transmite a través de suas imagens cotidianas aceleradas um certo caos no qual estamos inseridos diariamente.


Através de cortes mais secos e maior mudança de planos, que dá um ar de “picotado”, faz com que imagem e som entrem em sintonia fazendo uma espécie de rima, gerando um dos principais artifícios desse meio audiovisual, que visa primeiramente o som, caso a música que ali será representada por imagens, mesmo que essas imagens não tenham tanta conexão em si. O que vale nesse momento é através de um espetáculo imagético se passar a essência da música, seu “feeling”.

Com profissionais que alternam sua carreira ora fazendo videoclipes, ora fazendo filmes como, por exemplo Michel Gondry e Spike Joze, há uma relação de troca entre cinema e videoclipe. Com o primeiro influenciando na estrutura narrativa do segundo e este por fim contribuindo para um novo ritmo de montagem para o primeiro. Isso é o mais aparente na junção entre os dois meios audiovisuais que nos proporciona um enriquecimento de ambos os meios tanto em estética quanto no exercício de assisti-los e de alguma forma sentir algo que não é originalmente próprio, mas que complementa.

O Videoclipe Brasileiro

Podemos considerar como o primeiro videoclipe nacional o vídeo de Humberto Mauro, A Velha a Fiar (1964), devido à sua estética de sintonia entre música e imagem. Mas somente nos anos 70 passamos a ter uma produção de videoclipes através do Fantástico. O primeiro a ser produzido pelo programa dominical foi América do Sul de Ney Matogrosso em 1975.

 A Velha a Fiar (1964) e América do Sul (1975)

Os clipes do Fantásticos, na maior parte, eram de trilhas de famosos para novelas. Seu formato seguia o modelo de exibir o cantor, as vezes com alguns efeitos visuais e/ou coreografias. Surgiram alguns independentes que tentaram fugir do modelo global, mas não se diferenciaram tanto dele.

Somente na primeira metade dos anos 80, com a ascensão do Rock Nacional e à medida que o gênero se fixava que as gravadoras começaram a produzir videoclipes pra utilizá-los sem restrições na divulgação de seus artistas na televisão. A sua estética é atualizada, deixando de lado o padrão globo e dando espaço a uma verdadeira composição artística. Essa transformação se deu em partes, no Brasil e no mundo, devido à influencias dos clipes de Michael Jackson, que revolucionaram no gênero videoclipe.

"Será" – Legião Urbana (1984)


Em 20 de outubro de 1090, entra no ar a MTV Brasil, com o clipe Garota de Ipanema, versão remixada de Marina Lima. O canal torna o videoclipe nacional, principalmente o BRock, um produto massivo, e com o barateamento na produção de CDs e LPs, as gravadoras passaram a investir cada vez mais na produção de clipes como fonte de propaganda para seus músicos.

Assim nossa produção de videoclipes cresce muito ao longo dos anos 90, não só em quantidade, mas também em qualidade. E como forma de reconhecer e incentivar a qualidade nos clipes nacionais a MTV Brasil criou em 1995 o VMB (Video Music Brasil), premiação que ainda hoje existe, e que é a principal para o videoclipe brasileiro.

Alguns dos artistas mais premiados no VMB, no quesito melhor videoclipe do ano, foram as bandas Skank e Os Paralamas do Sucesso, que produziram vários clipes que marcaram as duas últimas décadas.

Ela Disse Adeus – Os Paralamas do Sucesso (1995) e Sutilmente – Skank (2008)

Nos anos 2000 o cenário do videoclipe nacional passa a sofrer alterações, a MTV diminui, desde o fim dos anos 90, o seu espaço destinado a videoclipe, e bandas nacionais começam a diminuir sua produção de videoclipes ou a forma como divulgavam.

No final de 2006 a MTV Brasil anunciou que devido à mudança de comportamento dos jovens e a queda na audiência, o videoclipe não faria mais parte da grade principal da emissora a partir de 2007. Zico Góes, diretor de programação na época, disse á Folha:’’o vídeoclipe não é tão televisivo quanto ele já foi. Apostar em videoclipe na TV é um atraso”.

Tal mudança de veiculação do videoclipe é explicada pela entrada em cena da internet, ao longo dos anos 2000, o acesso à rede mundial cresceu vertiginosamente e isso possibilitou o acesso mais fácil ao videoclipe. Desse modo qualquer pessoa pode ver o clipe de sua preferência na hora em que desejar, não ficando mais dependente dos horários da televisão. A internet não só facilitou para o espectador como também para o produtor; novas bandas, que antes dificilmente conseguiriam espaço para a veiculação de seus videoclipes em canais como MTV agora conseguem espaço amplo e gratuito na internet. Assim dependo do sucesso de seu videoclipe na rede, este pode ser a porta de entrada para o sucesso do novo artista. 


Spam do Amor – Ecos Falsos (2011). O vídeo interativo pode ser encontrado no site
http://ecosfalsos.com.br/spamdoamor/

Mercado e Pós-internet

O videoclipe surgiu como um apêndice da indústria fonográfica para que o artista tivesse um maior alcance de público e até hoje é um meio de visibilidade de cantores e bandas. Tanto no formato, quanto nas suas funções de mercado o videoclipe não se alterou muito em muitos anos de existência. 
O grande divisor de águas dessa indústria foi a internet, mais precisamente o Youtube que disponibilizou esses vídeos em escala massiva e para um público muito mais vasto e diversificado do que faziam os canais especializados em divulgação de videoclipes, como a MTV. Tanto foi uma reviravolta no mercado que hoje, a MTV americana, por exemplo, não exibe videoclipes em sua programação normal.  

Comentários