TV paga: aos 20, Globosat luta para se manter na crista da onda

[Publicado originalmente na Folha de São Paulo de 19 de outubro de 2011, página E6 do Caderno Ilustrada. Por Keila Jimenez] 

O executivo Alberto Pecegueiro, diretor-geral da Globosat

A Globosat completa hoje 20 anos, 17 deles sob o comando de Alberto Pecegueiro, 53, um executivo apaixonado por surfe, que aprendeu a fazer TV paga... fazendo. E olha que tombos em fundo de coral não faltaram. Mesmo com remadas largas -afinal, a Globosat é um braço das Organizações Globo-, Pecegueiro e sua turma levaram vários caldos. De 2001 a 2004, mal conseguiam tirar a cabeça da água em uma crise que quase afogou o setor, endividado em dólar. O tubo que esperavam veio em 2006, com o crescimento de sua base de assinantes. Apesar do mar "crowdeado" (lotado), a Globosat tenta dropar na frente a onda da TV paga no país. Dos seus 34 canais, o Multishow é o líder em assinantes: 9,5 milhões num mercado de 11 milhões.

Dos 20 canais mais vistos na TV paga, 10 são da Globosat. O Sportv é o líder no horário nobre e rendeu filhotes: o Sportv 2, o 3 e o canal de esportes radicais, o OFF. Rabeando a onda dos outros, a Globosat vai lançar em 2012 o Gloob, seu canal infantil.

No ano passado, perdeu a melhor onda para surfistas de fora. Depois de muito remar, o Sportv não conseguiu comprar o Pan de Guadalajara (que começou no dia 14) da Record, dona dos direitos de transmissão. "Eles pagaram US$ 7 milhões, pediram US$ 11 milhões e eu desisti", diz Pecegueiro, que quer agora o Pan de 2015. Honorilton Gonçalves, vice-presidente da Record, tem outra versão. Afirma que a Globosat implorou pelo Pan e que a rede não quis vender. Mas há tubarões experientes na mesma bateria. A Fox Sports ameaça chegar ao Brasil em 2012, tirando eventos como Libertadores da América do Sportv. "Se a Fox Sports vier, serei obrigado a levar o Sportv para a América Latina e causar problemas para eles", considera Pecegueiro. "Não vai ser fácil estacionar o ônibus deles na vaga de Fusca da TV paga brasileira. A concorrência é grande."

INIMIGA

Entre os inimigos declarados está a HBO, que perdeu recentemente para a Globosat o conteúdo Disney. "Tenho relação cordial com todos, mas a HBO é exceção, são bandidos. Fazem coisas que não posso nem contar." A HBO, que diz que foi uma opção dela abrir mão do conteúdo Disney no Brasil, não quis comentar as declarações de Pecegueiro.

Mas o que ele teme é a arrebentação adiante: o poder conferido pelo PL 116 à Ancine (Agência Nacional do Cinema), a quem caberá a regulamentação de conteúdos na TV paga. O projeto estabelece, entre outras coisas, a criação de cotas de conteúdo nacional nos canais pagos. "Há um povo na Ancine que tende a conduzir as coisas contra nós. Podem forçar a mão nos incentivos e na disputa da titularidade das produções independentes", afirma Pecegueiro. Procurada pela Folha, a agência não se manifestou."Nada é tão ruim que não possa piorar", diz ele. Não, a Globosat não quer deixar ninguém invadir a sua praia.
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CALMA [Nota publicada no dia 21/10 no Caderno Ilustrada da Folha de São Paulo]

Alberto Pecegueiro, diretor-geral da Globosat, quer rever sua declaração sobre a HBO em entrevista à colunista Keila Jimenez, publicada na Ilustrada, no dia 20. Ele diz que, apesar da relação um pouco mais complicada com a HBO, não quis chamá-los de "bandidos" e que a frase ficou fora de contexto.

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