As Webséries e as suas Implicações

por Gabriela Hayashida, Helen Leal e Sergio Batista
da turma 2. 2011
Alunos da Matéria Televisão e Vídeo. Texto referente ao Conteúdo do Seminário sobre Webséries, realizado em 24/10/2011


 
Formatos e surgimento

As webséries podem ser definidas como séries com conteúdo direcionado para a internet; isto implica em delimitação de público-alvo e de formato. Têm como uma de suas principais objetivos entreter o espectador de forma dinâmica, fluida, podendo utilizar-se de interatividade com o público ou não. As webséries têm formato variável, com episódios de duração de, em média, 2 a 15 minutos. Diz-se que a duração de um episódio de web-série não pode ser muito extensa, dada a natureza dinâmica deste tipo de mídia, nem tão curta a ponto de não prender a atenção do espectador. As webséries são vinculadas a sites como Youtube e Vimeo, que hospedam vídeos dos mais variados tipos e são amplamente conhecidos e difundidos no meio da internet.

Surgiram despretensiosamente, em 1995, de forma independente, sendo realizadas, àquela época, apenas com webcams, sem qualquer produção de cenário, figurino, fotografia, trabalho com os atores, entre outros.


Divulgação

A divulgação das webséries costuma ser na própria internet, sendo ela através de redes sociais (Facebook, Twitter etc.), sites especializados e no “boca-a-boca virtual”. As webséries também costumam criar sites e blogs, que não necessariamente hospedam seus vídeos, mas que ajudam a concentrar informações sobre a série, notas e curiosidades. Poucos são os exemplos de séries que fogem da plataforma virtual para divulgar seus vídeos. Poucas vezes vemos notas em jornais e, quando acontece de serem enviados objetos promocionais, são para 'subcelebridades virtuais', que acabam por manter a divulgação estritamente na internet. Na TV a divulgação é também bastante pequena, contando com poucos momentos discussão ou de exibição, como acontece na MTV Brasil e na TV Brasil. Os dois sites mais comuns que essas webséries utilizam são o Youtube e o Vimeo.

Financiamento

Além das formas tradicionais de financiamento, como publicidade e venda de produtos, cada vez mais os produtores das webséries buscam alternativas para se financiarem; dentre elas estão o Crowdfunding, modelo baseado numa espécie de “vaquinha” feita pelos (futuros) espectadores, que financiam as temporadas. Em geral os produtores estipulam um valor necessário para realizar uma nova temporada e os fãs da série colaboram depositando dinheiro na conta estipulada pelos produtores. Vale ressaltar que esta prática não é exclusiva ao que concerne à produção de webséries; ao contrário, atinge também diversos outros tipos de manifestações artísticas - tais como produção de shows, lançamentos de CD’s - e tem se popularizado entre os jovens desta geração.

Este tipo de financiamento pode gerar discussões acerca de sua legalidade e honestidade com o público. Por exemplo, a websérie gay Todos os Meninos ainda nem estreou e já está usando esse recurso para ser produzida. O roteirista não queria depender de edital e colocou um pedido de ajuda em um site na internet. Em menos de uma semana arrecadou mais de R$1.300. O ideal seria os produtores realizarem, de alguma forma, um esclarecimento aos espectadores quanto ao destino exato do dinheiro arrecadado pelo público; assim, este tem a certeza de que seu dinheiro foi realmente para produções sérias e comprometidas com o público.


Foi o que aconteceu com a websérie de animação Depois do Fim do Mundo, cujos produtores lançaram o primeiro episódio, e percebendo que este tinha atingido um bom número de acessos e uma boa resposta do público, pediram ajuda aos espectadores para dar continuidade ao projeto; criaram uma conta específica para a produção de novos episódios, e disponibilizaram no blog da websérie todo o processo de produção, desde os esboços de desenhos, até o roteiro, a caracterização de cada personagem, a dublagem e as demandas financeiras de produção. Assim o público fica ciente de onde seu dinheiro está sendo aplicado, o que é essencial para a credibilidade de uma produtora.

Outra forma de arrecadação é através de eventos. Por exemplo, um produtor combina com o dono de um bar que um episódio será exibido no local e ele ganha uma porcentagem nas entradas.

Branded Content

Hoje, é muito comum também webséries serem produzidas por marcas que querem promover seus produtos/serviços e arrebanhar um maior número de consumidores. A Adidas, por exemplo, desenvolveu, em parceria com a Capricho, Superinteressante e Mundo Estranho, uma série que aborda o cotidiano de dois jovens e mostrando a relação destes com os produtos Adidas em seu dia-a-dia, e como esses produtos está inserido em suas vidas. O objetivo de tudo isso foi permitir à marca um maior diálogo com seus consumidores adolescentes, através da criação de vínculos emocionais com esse público. Esse conceito, conhecido como branded content, busca conquistar o consumidor através de histórias que devem tocá-los e construir um imaginário acerca da marca, funcionando como uma nova maneira de fazer marketing. Logo, a idéia foi apropriada para internet e convertida para o formato de websérie pela praticidade e pela facilidade do consumo através de sites próprios e/ou outros de hospedagem como Youtube, Vimeo etc.

Essa inovadora maneira de atrair o público é uma poderosa ferramenta, já que a publicidade comum é evitada pelos usuários – sobretudo com a facilidade que a internet nos permite fazer isso – e isso pode funcionar como uma saída para que as marcas continuem se promovendo e criando relações com seus consumidores. A fabricante de tênis Mizuno foi outra que recorreu ao formato e criou uma websérie que aborda o dia-a-dia de treinamento de quatro corredores selecionados, que iriam competir no Grande Desafio de Amsterdam. No programa, além do treinamento desses corredores, havia também dicas sobre variados tipos de tênis, alimentação saudável, atividades físicas, etc.

Transmidialização

Atualmente é comum a mesma história ser contada por mais de uma esfera de comunicação. Há um fluxo entre as mídias, e uma interatividade entre elas. Podem ser citadas como exemplo livros que têm suas histórias adaptadas em filmes, histórias em quadrinhos que são adaptadas para os cinemas, séries que se tornam livros, entre outros.

Como já foi dito anteriormente algumas pessoas utilizam a internet como meio e não como fim. Afinal ela é um espaço democrático e gratuito para divulgar um trabalho e conseguir uma proposta melhor e isso foi o que ocorreu com web-séries como The Web Therapy e Sanctuary. Entretanto, a web também pode ser utilizada para aprofundar trabalhos que já são transmitidos por outras mídias. Podem ser citadas como exemplos as webséries Dexter e Torn Apart.


Dexter é uma web-série animada que surgiu em 2009, e conta a história de um jovem que resolveu estudar anatomia para se aperfeiçoar na “arte de matar”. Trata-se de um prelúdio à já conhecida série de TV Dexter, em que o personagem principal é um assassino em série que trabalha para a polícia de Miami. Vale lembrar que, apesar de a web-série tratar da vida deste personagem antes da história retratada na série de televisão, elas não dependem uma da outra para serem entendidas pelo público, e que os espectadores de uma não necessariamente são espectadores da outra; elas podem funcionar de forma complementar, sem que isso prejudique o andamento normal de ambas as séries. A título de curiosidade: o personagem principal da web-série conta, ainda, com a narração de Michael C. Hall, que vive o assassino em série na TV.


Torn Apart foi lançada pela AMC, e é baseada na série de TV The Walking Dead. Foi estruturada em 6 episódios, e mostra como aconteceu o início da “epidemia” de zumbis, focada na história da personagem Hannah, que aparece cortada ao meio no primeiro episódio de The Walking Dead, quando Rick Grimes (o principal da série de TV) lhe dá um tiro, ao sair do hospital. Torn Apart funcionou também para amenizar a ansiedade dos fãs de The Walking Dead, pela espera para ver a segunda temporada da série. Estas duas, assim como Dexter e seu complemento, também não são dependentes uma da outra, mas no caso de Torn Apart, o público da série acabou indo buscar mais sobre ela, e a websérie produzida acabou ganhando novos adeptos, em sua maioria provenientes, logicamente, da série televisiva.

Warner Bros., grandes redes de TVs e produção de webséries

Além de marcas, de produtoras independentes e internautas, grandes redes de TV estão voltando seus olhos para a produção exclusiva para internet sem quaisquer relações com as produções que constam em suas grades. Como exemplo, temos a Warner, que produziu sua primeira websérie, pessimamente criticada por diferentes motivos, Soroty Forever, em 2008. Em 2011, a rede produziu mais uma série, dessa vez inspirada no universo de uma de suas séries de maior sucesso na atualidade, Gossip Girl, o que mostra a disponibilidade da rede de alcançar internautas que não têm o costume de passar muito tempo em frente a uma TV para acompanhar a programação.

Além dessas séries, a empresa lançou esse ano sua nova websérie, Mortal Kombat, adaptação do jogo homônimo. Essa visão de ampliação de mercado e de influência contrasta com a idéia de enxergar as webséries e seus desdobramentos como concorrência para a própria rede. Parece que a Warner vê tudo isso como uma possibilidade de jogar com diversos públicos e arrebanhar internautas se promovendo e divulgando seus formatos para pessoas que não costumam ligar a TV. Enxergando algo mais além, a emissora anda explorando a interatividade que a internet possibilita com o usuário e está com um novo projeto, Aim High, que utiliza o Facebook como plataforma e permite que os usuários forneçam informações de seus perfis, como fotos e textos, e vê-las nas cenas.

Outras redes, como CBS (N) e a Fox (The Cell), também compraram a idéia e começaram a desenvolver produtos audiovisuais exclusivos para a rede.

Linguagem incerta

O formato da websérie ainda está muito vinculado ao formato televisivo, visto que o virtual é uma plataforma nova e que deixa muitas perguntas no ar. Dizer o que vai ocorrer nos próximos anos ainda não é possível, principalmente pelo fato da internet não ser uma mídia e sim um meio. Esse formato, calcado no que é produzido na TV, pode ser também reflexo da idéia de utilizar a internet apenas como um meio para conquistar visibilidade para, então, atingir alguma mídia (cinema, TV, etc.); e não de fazer o produto com o intuito de a internet ser o objetivo final e usufruir, de alguma maneira, da possibilidade de sua interatividade.

Bibliografia

http://www.apaixonadosporseries.com.br/series/web-series-o-formato-lonelygirl15-web-therapy-e-mais/
http://www.simonandschuster.com/specials/stephen-king-nishere/questions.html
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI65974-15220,00-WEBSERIES+SAO+A+NOVA+APOSTA+DA+INTERNET+NO+BRASIL.html
http://www.testedeelenco.com.br/201010011598/entre-na-onda-das-webseries
http://youpix.com.br/trending/que-venham-as-webseries/
http://en.wikipedia.org/wiki/Web_series
http://webseriemizuno.com.br/o-que-e-a-webserie-mizuno.php
http://pipocamoderna.com.br/veja-a-nova-webserie-de-dexter-ilustrada-por-bill-sienkiewicz 

Comentários

  1. Sobre a adaptação de webséries para a tv, saiu uma reportagem bacana no net. Vale a pena dar uma conferida:
    http://entretenimento.br.msn.com/famosos/mat%c3%a9ria-da-semana-adapta%c3%a7%c3%b5es-da-web-para-tv-ser%c3%a1-que-o-formato-d%c3%a1-certo

    Forte abraço

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