Sob Nova Direção: Após 4 anos, empresa estatal troca de comando e busca rumo para a TV Brasil

[Publicado originalmente no Caderno Ilustrada do Jornal Folha de São Paulo de 06 de novembro de 2011, páginas E1 e E3. Texto também disponível em http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1001560-empresa-estatal-busca-rumo-para-a-tv-brasil.shtml. Por Vera Magalhães e Thiago Azanha, de São Paulo]

O que significa a sigla EBC? Em que canal você sintoniza a TV Brasil? Como se chama o telejornal que a emissora exibe em horário nobre? Se você não respondeu a alguma (ou a nenhuma) das questões, é porque provavelmente não faz parte do menos de 1% de telespectadores que assistem à TV Brasil.

A EBC (Empresa Brasil de Comunicação) completa quatro anos em dezembro com traço de audiência e sob nova direção, após impasse político entre a gestão anterior e o conselho curador. O novo diretor-presidente, o jornalista Nelson Breve Dias, afirma que a busca por mais audiência é importante, mas advoga que o papel da TV pública não é só esse. "O desafio da comunicação pública é fazer com que programas de interesse público sejam interessantes para o público", filosofa.

"TV pública é projeto de 15, e não 4 anos"
Novo Diretor avalia que épreciso tempo para consolidar TV Brasil, que investe em sinal digital para atrair Público. Ministra diz que canal promove cidadania e que o conselho evita que produções possam ser 'chapa-branca'.

Por mais que os responsáveis pela EBC - e por seu cartão de visitas, a TV Brasil - digam que audiência não é tudo, o fantasma do "traço" incomoda o governo. De acordo com dados do Ibope/MediaWorkstation, a audiência média da TV Brasil foi de 0,39% em 2009 e 2010. O dado faz parte de um balanço de quatro anos da TV lançado na sexta e disponível no site ebc.com.br. O desempenho para lá de modesto custa ao Tesouro Nacional R$ 487.507.957, dos quais R$ 413.751.144 devem ser efetivamente liberados.

"A TV Brasil não é cara, se comparada às TVs abertas. Não se faz televisão no curto prazo e sem recursos", disse à Folha a ministra-chefe da Secom (Secretaria de Comunicação Social), Helena Chagas, presidente do conselho administrativo da EBC. Assim como o novo diretor-presidente, Nelson Breve Dias, ela tem o diagnóstico de que é preciso incrementar a audiência e avalia que o papel da emissora pública é diferente do das outras TVs. "Ela pode priorizar a programação infantil e educativa. E pode dedicar o horário nobre à reflexão e ao debate, sem competir com a novela das oito", afirma Helena.

Uma das apostas da emissora para anabolizar a audiência é técnica: até o fim do ano, São Paulo e Rio já devem ter transmissões em sinal digital (a captação de imagens já é toda digital). O canal pretende investir em divulgação. Muita gente não sabe que é preciso ir ao canal 63 UHF de São Paulo para assistir à TV Brasil. "A PBS, nos Estados Unidos, tem audiência de 1,5. E a sociedade americana entende que ela é importante. Além disso, consolidar a TV pública não é um projeto de quatro anos, e sim de 15 a 20", afirma Nelson Breve.

O novo diretor assumiu após uma polêmica que indispôs sua antecessora, Tereza Cruvinel, e o conselho curador da EBC, composto por representantes da sociedade e do governo com a função de regular a empresa. Apesar disso, tanto a direção como Helena Chagas sustentam que as prerrogativas do órgão serão mantidas, a despeito de declarações de setores do PT de que elas precisariam ser reavaliadas.

É o conselho, diz a ministra, que garante isenção ao jornalismo da TV. "Nunca foi chapa-branca. E falo como ex-diretora de jornalismo." Na eleição do ano passado, o então presidenciável José Serra (PSDB) acusou a TV de agir contra sua candidatura.

Está em discussão um novo manual de redação para profissionais da EBC (além da TV, agência de notícias e rádios), a ser lançado em 2012.

ANÁLISE
Reprises e falta de produções próprias minam programação
por Keila Jimenez, colunista da Folha

Com quantos infantis se faz uma TV pública? No caso da TV Brasil, com todos que se puder arrebanhar. No ar desde 2007, o canal tem mais da metade de sua programação voltada para as ciranças.

Mas os pequenos têm que se contentar com reprises dos velhuscos Castelo Rá-Tim-Bum e Vila Sésamo, além de desenhos. De recente só Meu Amigãozão, de 2010.

Chama a atenção a falta de produções próprias. Dos cerca de 40 programas da grade diária, só 15 são da TV Brasil. A dramaturgia se resume à portuguesa Equador (2008). Quem dera a fosse pautada por Oncotô, de Jorge Mautner, em que seis artistas, câmera na mão, focam a cultura nordestina.

Comentários

  1. Há alguns problemas para termos uma boa TV pública. Primeiro ela não pode ter um modelo estatal de administração ainda que tenha uma programação pública. Ela tem que ser blindada de um excesso de gerenciamento governamental. Muda governo, muda os diretores, e isso não é bom. Não é uma questão política apenas, mas de organização e coerência administrativa, em que se vislumbre a realização de projetos de longo-prazo. Outra coisa é o modelo de financiamento. A TV pública precisava ou ter mais dinheiro - que poderia vir dos associados (Como funciona o Canal Futura) e/ou de alguma publicidade, ainda que devas ocupar pouco espaço na grade. Não estar no espectro digital e a qualidade de imagem da transmissão é realmente outro problema. Assim fica realmente difícil da TV Brasil, que tem excelente programação, competir com as outras, até mesmo pela dificuldade que se tem de mudar o canal em nosso país. Mas é necessário o entendimento que é importante uma TV pública de qualidade para oferecer um outro tipo de programação e para um público distinto da classe média, que normalmente não aparece nas emissoras comerciais.

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