Autoria na Teledramaturgia

por Jorge Soares, Mariane Azevedo e Renato Teles
da turma 2. 2011
Alunos da Matéria Televisão e Vídeo. Texto referente ao Conteúdo do Seminário Autoria na Teledramaturgia, realizado em 28/11/2011




Esse trabalho já parte de um assunto sugestivo e teórico que é a questão da AUTORIA EM TELEDRAMATURGIA. Restringindo-se à produção da Rede Globo de Televisão, utilizamos como referência o livro O cinema da Retomada de Lúcia Nagib, Autores - Histórias da teledramaturgia, da Editora Globo, a Dissertação de Mestrado em Comunicação e Cultura da UFRJ de Pedro Butcher. O seminário visa discutir a Autoria no Cinema e na Televisão, e depois, contrapor esses dois tópicos.

O que é um autor? Segundo o Dicionario Historico da Lingua Francesa, autor significa escritor. O autor aparece no momento da historia em que se começa a atribuir os textos a uma individualidade. Segundo Foucault: a autoria é um fenômeno social e histórico de “individualização” de realizadores e obras. Essa definição parece um pouco arriscada em se tratando de cinema e TV, uma vez que a própria natureza dessas obras dificulta definir a figura do autor devido sua intrínseca hibridação. Segundo François Jost pode-se decidir a questão do autor do filme através de uma hierarquização daqueles que concorrem para a sua fabricação, ou seja, a “autorialidade” do filme passa de mão em mão ou de uma figura a outra e isso faz com que a obra cinematográfica mescle intimamente a autografia (Reprodução fiel de uma escrita) e a alografia (perturbação da linguagem escrita que consiste em escrever as palavras de maneira desordenada), concebidas não como realidades constitutivas, mas como os usos que se faz delas.

Dos aspectos apontados por Foucault (1992, p. 47-48), para examinar os discursos do nome do autor, é preciso analisar pontos como: o regime de propriedade das obras ou textos; a possibilidade do autor ser punido ou recompensado segundo um regime de propriedades como direitos de autor, direitos de reprodução e outros.

A partir dos pressupostos formulados pelo cinema (os franceses François Truffaut, Jaques Rivette e outros, estabeleceram a Política dos Autores nos anos 50 afirmando o diretor do filme como o autor da obra assim como o escritor na literatura e o pintor nas artes plásticas.). O chamado cinema de autor dos anos 50/60 foi assimilado pela televisão, que buscou no termo autor prestígio e sofisticação intelectual.

“A televisão brasileira credenciou os escritores com o estatuto de autor, já que a característica da produção seriada da TV impede que exista a figura do diretor nos moldes do cinema. O controle de todo o processo de produção encontra-se nas mãos do produtor (emissora) que dependendo do escritor, divide responsabilidades, confia algumas decisões e até mesmo perde o domínio sobre o final da telenovela, como aconteceu com Gilberto Braga em O Dono do Mundo. O poder acumulado por Gilberto Braga como autor-produtor nasceu num momento de valorização da telenovela, no início dos anos 90, que atualizaram o gênero com uma crônica urbana reveladora de novos comportamentos. A “vingança” do autor, ao não realizar o tradicional final feliz, contrariando o público e a emissora no final de O Dono do Mundo (1991), se mostrou personalidade, mostrou também o declínio desse tipo de telenovela, com a dissociação entre o público e escritores. A novela foi um fracasso e ilustrou a fragilidade e o declínio desse tipo de telenovela. Pátria Minha de 1994, mostrou um novo contexto: a audiência foi baixa e Gilberto Braga perdeu o controle sobre o elenco, suas escolhas musicais não se manifestaram como antes e a emissora fez diversas intervenções para assegurar o término de uma novela fragilizada.”

(Por Lisandro Nogueira, professor da Faculdade de Comunicação da UFG)


Os autores de novelas da Rede Globo, em ocasião do lançamento do livro Autores - Histórias da teledramaturgia em 2008

Telenovelas são narrativas seriadas de caráter popular. Predominam programas de efeitos emocionais, as mensagens podem ser de ordem ideológica, moral, religiosa e política. As situações dramáticas privilegiadas tratam da vida afetiva amorosa e familiar. A serialidade caracteriza-se por estratégias e expectativas que enovelam uma diversidade de núcleos dramáticos estrategicamente organizados. Ao longo da história de produção das telenovelas evidenciam diversos modos de construir esse enovelamento que são indicadores de traços estilísticos autorais. O contexto de criação exige, em diversas ocasiões que as histórias sejam alteradas para solucionar situações inesperadas. Imprime-se com isso uma regra intrínseca do gênero, a improvisação. A exibição das telenovelas brasileiras é organizada de acordo com a audiência de cada horário, que inclui o telespectador até a empresa anunciante, desde organizações civis até governamentais. A complexidade dessas variáveis desfavorece estratégias narrativas e temas incomuns.

As equipes de criação e produção da ficção seriada televisiva agregam especialistas de várias áreas que atuam num sistema de poder hierarquizado associado ao mercado da grande produção audiovisual e da indústria do entretenimento.

Benedito Ruy Barbosa
Três áreas tem sido objeto de atenção quando se examina a autoria na televisão. A primeira delas trata do processo de feitura de cada programa. No caso das ficções em particular as seriadas, destaca-se o papel do produtor ou dos profissionais que atuam na captação de recursos. A segunda preocupa-se com a dinâmica do funcionamento do controle criativo que favorece o cumprimento dos objetivos estabelecidos do ponto de vista econômico até o desfrute esperado pela Audiência. A terceira observa as marcas deixadas nos produtos pelos especialistas envolvidos: roteiristas, diretores, figurinistas, músicos, atores, etc. Roteiristas, diretores e produtores tendem a ficar com a designação da autoria que supostamente depende do modo como se desenvolve a colaboração, a cooperação criativa, procedimentos e estilos diversos, muitas vezes em circunstâncias competitivas e estafantes. As disputas pelo poder de decisão no complexo processo da criação coletiva em empresas de comunicação são acentuadas quando grandes recursos econômicos estão em jogo. Nesse contexto os realizadores estão cientes de que quanto maior o poder de negociar e interferir sobre o processo, melhor as condições de escolha dos recursos e estratégias empregadas que podem estabelecer o reconhecimento de poéticas autorais. No mercado do cinema e das emissoras de TV, é claro o papel das empresas envolvidas que desejam o reconhecimento autoral de seus produtos.

A autoria das telenovelas é atribuída ao roteirista titular. Nas novelas da Globo os roteiristas autores são responsáveis pela criação e desenvolvimento dos personagens, das intrigas e do enredo. Eles coordenam os roteiristas colaboradores e os pesquisadores, quando existem, e também tendem a acompanhar outras etapas de elaboração das telenovelas com o poder de avaliar e tomar decisões que repercutem na composição dos recursos visuais, sonoros e cênicos.

Em contrapartida, temos na programação da TV aberta, obras teledramatúrgicas que possibilitam imprimir maiores marcas de autoria, como no caso dos seriados, minisséries e microsséries. Esses produtos audiovisuais contam com a presença do diretor/autor ou do escritor desde o início do projeto imprimindo suas marcas e possuem uma maior abertura para experimentações nos campos estéticos e narrativo. Porém, não podemos comparar uma novela com uma minissérie, por exemplo, pois são obras distintas, apesar de exibidas na mesma janela.

Em uma novela, jamais a gravação de uma cena ou de capítulos seria feita de acordo com o regime dos rios na locação, como aconteceu na minissérie Amazônia - de Galvez a Chico Mendes. O rio secava em determinados períodos e não passava barco algum, o que obrigava a equipe a gravar nas épocas de cheia e, consequentemente, escrever os capítulos com muita antecedência. E sabemos todos que uma novela é uma obra aberta, na questão de desdobramento da trama.

Glória Perez, em entrevista para o livro Autores – Histórias da Teledramaturgia, diz que “novela é um folhetim, uma história pensada para ser contada em extensão, não em profundidade. [...] Não há tempo de polimento como na minissérie”.

Como mencionamos na introdução, esse estudo é um campo sugestivo e teórico que congrega opiniões de críticos, historiados e dos interessados no assunto. Tudo parte de uma idéia. Sem esse elemento criativo nada acontecesse, porém a natureza coletiva é uma constante tanto no campo da teledramaturgia quanto no cinematográfico. Portanto, essa é uma conclusão não conclusiva.

Referências Bibliográficas:

NOGUEIRA, Lisandro. Cinema, Televisão e Autoria: A ficção seriada e os filmes do melodrama. UFG.
SERAFIM, José Francisco (Org.). Autor e autoria no cinema e na televisão. Salvador: EDUFBA – 2009.
Memória Globo. Autores – Histórias da Teledramaturgia. Editora Globo – SP,  2008.
NAGIB, Lúcia. O Cinema da Retomada.

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