Televisão e Educação: uma Aproximação Necessária

por Milena Godolphim e Sofia Maldonado
da turma 2. 2011
Alunas da Matéria Televisão e Vídeo. Texto referente ao Conteúdo do Seminário Televisão e Educação, realizado em 28/11/2011

Para começar uma investigação sobre a programação televisiva infanto-juvenil no Brasil é necessário questionarmos o que é programação infantil. São os programas que este público assiste como novelas, desenhos, programas de auditório, telejornais, etc.? Ou são programas definidos pelos adultos como apropriados para eles?

Qual é o tipo de programas que as crianças na faixa etária de 10 a 14 anos consomem e se interessam?

As crianças brasileiras assistem TV numa média de 4 horas por dia, de acordo com o estudo TRU 2011, produzido pela TNS Research International em 2011. A pesquisa apontou a mídia eletrônica como a primeira fonte de informação de 68% dos jovens brasileiros. A internet, em segundo lugar na preferência, é a primeira fonte de informação de 20%, seguida do rádio com 4%. Nas classes mais altas, a internet supera a TV em vários atributos, sendo considerada a mídia mais divertida, informativa e sem a qual o público alvo não viveria. Para a classe D a TV é o canal de comunicação mais divertido (56%).

“Não há atualmente nenhuma evidência sugerindo que o fato de assistir televisão venha afetar o aprendizado na escola de uma maneira negativa. Em verdade, pesquisas recentes afirmam que existe uma correlação positiva em resultados acadêmicos em ver televisão 10 horas por semana. A televisão pode ser uma ferramenta acadêmica útil, e tem sido usada em salas de aula com finalidades acadêmicas desde 1970.”

A televisão proporciona às crianças um contato com idéias e culturas diferentes, sem que elas precisem vivenciar as situações e isso ajuda no desenvolvimento e aprendizado delas. A TV não pode ser considerada prejudicial ao aprendizado, mas pode ser negativa na formação de valores, se somada a outras deficiências na formação pessoal da criança, conforme o contexto de vida específico de cada uma.

Sabe-se sobre o potencial da TV ou do audiovisual pra apresentarem o mundo e enriquecerem o conhecimento de qualquer pessoa sobre as coisas. Mas o tema da programação infantil pode se tornar uma questão-problema em países como o Brasil, em que a infância passa a integrar o mercado de bens culturais, na qualidade de consumidor ou filho de consumidor.

Se os canais de televisão – empresas privadas no caso do Brasil – são apenas mais um meio que serve ao mercado de consumo, podem desenvolver um tipo de programação exploratória e sensacionalista, e intencionalidades que não considerem valores formativos, mas apenas sirvam ao crescimento do seu capital.

Isso pode ser prejudicial principalmente para as crianças e adolescentes, por estes serem mais influenciáveis, devido à sua menor formação e experiência de vida.

“Toda televisão é televisão com fins educativos. A única questão é: 
O que ela está ensinando?” (STRASBURGER, 1999).

As pessoas que produzem conteúdo midiático sabem do potencial formativo, do poder de influência da mídia. O público atingido por ela deveria estar ciente disso também. Por isso a importância de uma aproximação entre a educação e a mídia, para que seja desenvolvido o senso crítico nos espectadores, principalmente nas crianças e adolescentes.

A psicologia considera as crianças e adolescentes seres hipossuficientes, ou seja, seres humanos em formação, não tão auto-suficientes quanto os adultos, com formação completa. Por esta razão, são mais vulneráveis aos apelos imagéticos que vendem produtos, ideais, modelos de vida, questionáveis na televisão. Em muitos países as propagandas destinadas ao público infantil são proibidas por este motivo.

Desde o crescimento das pesquisas sobre televisão e crianças, a partir da década de 1970, o aumento do interesse do mundo adulto sobre esse público se multiplicou. Perguntas básicas sobre a influência da mídia no comportamento humano foram feitas: “são os meios de comunicação potencialmente perigosos para os adolescentes ou simplesmente oferecem diversão e entretenimento durante um período de imenso desenvolvimento, crescimento e estresse? (...) Será que os adolescentes são mais suscetíveis aos meios de comunicação que os adultos?”

As opiniões sobre os efeitos da televisão sobre as crianças divergem bastante: alguns consideram os efeitos da violência na TV devastadores; outros consideram a TV um espelho da realidade social e uma terceira posição acredita que tudo é relativo e a relação que as crianças e adolescentes estabelecem com ela depende de sua família, ambiente social, características pessoais, etc.

A autora Merlo-Flores propõe a ideia de que a televisão age em dois níveis sobre as crianças: nível da imitação e da identificação. Estes níveis podem se sobrepor e são simultâneos. No primeiro nível, crianças e adolescentes extraem elementos da linguagem, do jeito de vestir, etc. para se comunicar e imitam o que vêem, construindo uma cultura televisiva. “Num segundo nível, os conteúdos dos programas agem como mecanismos compensatórios que se manifestam quando há algum tipo de deficiência, individual ou social.”

As crianças com uma de personalidade já agressiva podem aparentemente liberar esta agressividade ao assistirem programas violentos, mas em longo prazo, isto reforça suas potencialidades agressivas. Além disso, elas terão aprendido múltiplas estratégias alternativas de manifestar agressão e de justificá-las para alcançar seus objetivos. “Pois sejam bons ou maus, heróis ou bandidos, desenho animado, ficção científica ou personagens reais, tudo e todos mostram que a violência é a forma mais rápida, mais eficiente e sem conseqüência para resolver os problemas e alcançar objetivos.”

Na pesquisa de Merlo-Flores (1999) 85% das crianças da amostra que se identificavam com personagens violentos tinham algum tipo de conflito familiar; em contraste, em todos os casos de bons laços familiares, não foi encontrada identificação da criança com personagens da televisão.

Quais as conseqüências possíveis para as crianças expostas a uma programação cujo único objetivo é o consumo, sem uma consciência profunda do papel formativo e socializador que a TV desempenha?

Há algum tempo é possível identificar investidas dos governos, empresas, pesquisadores e pensadores, em programas infantis que visam desenvolver habilidades e trazer aprendizado para as crianças que se somem aos esforços da escola. Um aspecto a se considerar é que a televisão estimula visualmente e é do interesse da criança.

Por programa educativo entende-se aquele produzido com a intencionalidade de educar, desenvolver aprendizagens, ter finalidade educacional. Mas desde o Decreto n. 236/67, a finalidade educativa cobrada às emissoras de TV brasileiras é a "transmissão de aulas, conferências, palestras e debates".

Por que motivo os programas educativos existentes não cativam o público ao qual se propõem?

Muitas vezes os programas educativos feitos para crianças ou adolescentes são produzidos por especialistas da educação ou da psicologia, e a parte da linguagem audiovisual, do entretenimento, fica negligenciada. Muitas crianças não recusam o aprendizado que recebem em programas de entretenimento, mas não aceitam bem os programas educativos. Um termo americano define este fenômeno como incidental learning.

É preciso haver coerência entre a realidade contextual e a educação, e é necessário se superar o artificialismo das “situações pedagógicas” produzidas, recorrentes nos programas educativos. Estes, muitas vezes, reproduzem a relação professor-aluno na televisão, enquanto os programas de entretenimento oferecem uma experiência mais próxima do espectador adolescente.

“As raízes para a resistência à não-utilização do potencial visual e narrativo da televisão nos programas instrucionais de TV, estiveram na resistência da educação às emoções.”

“Cabe também a educação se abrir às dimensões do imaginário, do cultural, do afetivo, e entender ensino-aprendizagem como diálogo, interação, construção de conhecimentos, ampliação da concepção de educativo e mediações pedagógicas. Aí está a importância da mediação. Na escola, depende do professor introduzir intenções pedagógicas em programas televisivos não originariamente produzidos para ensinar. Pode-se usar os programas para ilustrar, motivar, informar suscitar debates.”

Assim surge uma estratégia que é tomar a programação da TV como objeto de estudo dos próprios jovens. Desenvolver o pensamento crítico e a vontade de pensar e de participar da comunicação e da produção de mídia nos jovens principalmente. As escolas podem explorar mais a TV e desmistificá-la.

Como uma via de mão dupla, a escola precisa se aproximar da mídia e a mídia deve aprimorar os programas “educativos”, ou os programas “infanto-juvenis” em geral. Já houve muita evolução em relação ao conteúdo produzido para crianças pequenas, entretanto a faixa etária de 10 a 14 anos ainda fica quase sem opções.

Os estudos de televisão e de mídia definiram parâmetros a partir dos quais a qualidade dos programas pode ser pensada. Na produção de programas para a faixa citada deve-se levar em consideração alguns critérios demonstrados a seguir:

Plano da Expressão:
  • § Ousadia e experimentalismo do formato audiovisual;
  • § Originalidade e criatividade do formato;
  • § Apelos visuais educativos.
Plano do Conteúdo:
Cidadania e Democracia; Importância da produção de valores agregados na formação de mentalidades.

Escolha dos temas e abordagens:
  • § Promoção do desenvolvimento de valores cívicos e da consciência crítica junto ao público infantil e juvenil;
  • § Abrangência da atuação do meio na construção de valores éticos;
  • § Informação agregada ao entretenimento no sentido de veicular narrativas que agreguem valores positivos.
a) Participação do público:
Estímulo à interatividade;

Modos de recepção e produção de conteúdos pelas crianças e adolescentes por intermédio das participações efetivas na elaboração e desenvolvimento dos programas.

Utilização de outros meios e ferramentas de comunicação como a internet.
  • § Promoção da língua, cultura e valores nacionais
  • § Geração do interesse para facilitar a participação do público
  • § Identificação da audiência com os temas e as propostas dos programas
b) Cumprimento das funções educativa, informativa e de divulgação (socialização do conhecimento).

Considerando isso, é importante mencionar ainda alguns critérios que devem nortear a mensagem audiovisual quando se discute a qualidade dos programas a serem emitidos na televisão. São eles: Relevância; Diversidade (opiniões, sujeitos representados, temas, geográfica, formatos e registros); Eficiência na apresentação da proposta; Confiabilidade; Responsabilidade; Fontes.

Consideramos essencial, além dessas diretrizes, e mais importante ainda, a participação dos adolescentes produzindo conteúdo e pensando mídia junto com os adultos através das escolas, dos festivais, dos fóruns e, por que não das empresas produtoras de conteúdo?

Hemerografia:

http://www.webartigos.com/artigos/a-televisao-e-educacao/2998/
http://www.lendo.org/a-televisao-brasileira-e-seu-papel-na-educacao-caso-tv-cultura/
http://www.youtube.com/watch?v=jMN3RiI-vPQ
http://revcom.portcom.intercom.org.br/index.php/Comedu/article/viewFile/4425/4147
http://www.telaviva.com.br/01/10/2011/programacao-infantil-vive-onda-de-comedia-dizem-executivos/tl/242857/news.aspx
http://www.telaviva.com.br/22/11/2011/canal-infantil-online-chegara-a-celulares-tablets-e-aparelhos-conectados/tl/250741/news.aspx
http://www.telaviva.com.br/15/06/2011/producao-infantil-e-foco-de-politicas-publicas-na-america-latina/tl/228203/news.aspx
http://lopoliti.com/2009/07/17/manada/
http://www.telaviva.com.br/15/06/2011/inovacao-constante-e-desafio-da-programacao-infantojuvenil/tl/228198/news.aspx
http://www.telaviva.com.br/15/06/2011/canal-futura-foca-no-jovem/tl/228197/news.aspx
http://www.nre.seed.pr.gov.br/pontagrossa/arquivos/File/Equipe%20de%20Ensino/CGE/INFLUENCIA_DA_TV.pdf
http://revcom.portcom.intercom.org.br/index.php/Comedu/article/viewFile/4425/4147
http://www.capparelli.com.br/brasil.php#protecao http://bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/3849/legislacao_publicidade_lopes.pdf?sequence=1

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