Programação de Férias: As Principais 'Novas' Atrações e Opções da TV aberta no Início de 2012

As protagonistas de Mulheres Ricas, programa da Band

Por Fábio Mendes
fabiolgmends@gmail.com

Não há como fugir. Desde 2002, o assunto majoritário em rodas de conversa e que movimenta todo o universo da televisão nos primeiros três meses do ano é o reality show Big Brother Brasil, o maior sucesso e programa mais longevo do gênero no país. Por todo lado, não faltam encontrar admiradores, haters, fãs, estudiosos que tentam entender as razões do sucesso da atração, enfim - não há um brasileiro que não tenha uma opinião definida sobre o programa ou que nunca tenha visto (embora, claro, há os que alegam o contrário). Atualmente o sucesso comercial e a repercussão da atração de formato estrangeiro rendem até mais à Rede Globo do que algumas de suas próprias produções.

O sucesso do programa fez inclusive com que as estratégias de programação de todas as redes de TV brasileiras - e não apenas a Globo - fossem alteradas em função da atração. A chamada "programação de verão", já algo tradicional na programação de TV brasileira graças às particularidades dos primeiros três meses do ano (férias, carnaval, horário de verão, e consequente público menor disposto a ver televisão), mas não uma prática habitual a todas as redes, passou a tornar-se uma regra geral. Se nos EUA, a temporada de "desova" do cinema é nos meses de janeiro e setembro; e na televisão é o período de férias, o nosso no campo de televisão está concentrado neste início de ano.

Por essa razão, podemos notar programas no ar em período de férias, exibindo reprises de quadros ou pré-gravações (os de auditório Pânico na TV, Caldeirão do Huck, Eliana, Programa do Gugu e Domingo Legal); outros fora do ar, em situação de descanso de imagem (os humorísticos CQC, Legendários, Os Caras de Pau, o seriado A Grande Família); todas as sessões de filmes dando preferência para a exibição de reprises - e no caso da Sessão da Tarde, de animações e filmes familiares mais conhecidos; as tradicionais minisséries; e até mesmo atrações novas indo ar como teste de público, uma das partes mais curiosas desta parte do ano - e que valem uma atenção especial.

Já nestas primeiras semanas de 2012, temos várias atrações "novas" surgindo na TV aberta, de diversos gêneros, sendo que a maioria, como prevê a sua proposta, pode sequer chegar ao meio do ano: seja por audiência, por estratégia, por várias razões. Algumas que já estrearam ou chegam à TV neste mês e podem marcar a história da TV ou passar em branco - e podem ser interessantes (ou não) para uma espiada neste período de férias:


- Esquenta (Rede Globo - Domingos, 13h30): comandado por Regina Casé, trata-se de um programa de auditório com a marca registrada tanto da apresentadora quanto do diretor de núcleo Guel Arraes: o 'popular certinho' para a chamada "classe C", dinâmico e inventivo. Sucesso de público na "Grade de Verão" de 2011, voltou para sua segunda temporada - resolvendo um histórico furo na grade de início de domingo da emissora nos primeiros meses do ano. Na última década, foram testados também na mesma faixa os similares "Estação Globo" e "Jovens Tardes".

- Video Game (Rede Globo - Segunda a Sexta, 17h45): dez anos após sua estreia como quadro do programa Video Show, o game show com artistas comandado por Angélica ganhou uma reformulação radical de formato, um novo apresentador - o questionável André Marques - e um novo horário, independente, ao final da tarde. Diz-se que foi criado para fortalecer Malhação, em má fase. Mas sua longevidade ainda é um mistério.

- Minisséries da Tarde (Rede Globo - Segunda a Sexta, 17h15): Já tradicionais, direcionadas ao público infantil. Neste ano, foi exibida Acampamento de Férias: O Segredo da Ilha do Corsário, com cinco capítulos diários.

- Minisséries Noturnas (Rede Globo - Terça a Sexta, 23h): Foi-se o tempo das produções caras de cunho histórico e longas - chegando a ter mais de 50 capítulos - levadas ao ar nos finais de noite, após o próprio Big Brother Brasil, que dialogavam mal com o público e tinham resultados minguados.

Fafy Siqueira em Dercy de Verdade

O sucesso de Maysa: Quando Fala o Coração (2009) fez com que as produções passassem a ser essencialmente biográficas, dinâmicas e com curtíssima duração. Dercy de Verdade, exibida na última semana (10-13/01), mostrou, porém, que nem sempre isso pesa a favor do trabalho. Atropelada, com um ritmo incomum a uma produção do gênero para TV, resumiu 101 anos da vida da atriz e comediante Dercy Gonçalves em interessantes, mas frustrantes 4 capítulos. Frustrantes porque o trabalho poderia render muito mais do que o apresentado. Também serão apresentados até março, na mesma faixa, a ficção política O Brado Retumbante (17-27/01) e o spin-off de As Cariocas (2010), As Brasileiras (a partir de 2/02, com exibição semanal).

- Férias com Patati Patatá (SBT - Segunda a Sexta, 18h): A ideia era testar o início da noite da emissora, ocupado por maratonas do seriado Chaves, com uma atração direcionada ao público infantil. Mas faltou diálogo. O programa Carrossel Animado com Patati Patatá, essencialmente direcionado ao público de 0 a 7 anos, foi simplesmente movido do início da manhã para os finais de tarde, dando resultados preocupantes. Nem a mudança drástica dos desenhos apresentados (dos infantilíssmos Baby Looney Tunes e Andy e seu Esquilo, exibidos na estreia, foram trocados para os heróis de ação de Super Choque e  Liga da Justiça Jovem) resolveu.

Os maus resultados causaram o fim prematuro da atração após 10 programas. Os palhaços voltam a ser exibidos apenas de manhã a partir desta segunda - de onde nunca deveriam ter saído. No lugar do Férias, uma raridade: serão relançados episódios de Chaves não exibidos há 20 anos, os chamados episódios semelhantes - mas também num regime provisório.

Chamada do SBT anunciando a re-estreia dos "episódios semelhantes" da série Chaves

- Corações Feridos (SBT - Segunda a Sexta, 20h30): Totalmente filmada em 2010 com a intenção de substituir Uma Rosa com Amor, o remake nacional da novela mexicana A Mentira foi engavetado e estreia nesta segunda (16), numa reestruturação da grade do SBT. A intenção é recriar público cativo para novelas na faixa das 20h30, onde estreará em maio o principal investimento da emissora neste ano, a versão nacional de Carrossel. Os programas e realities semanais exibidos nesta faixa foram remanejados para a faixa das 22h30, onde era exibida a recém-concluída e malsucedida novela Amor e Revolução - com duas novidades: a volta do show de talentos musical Astros e a estreia do game show Cante se Puder.

Íris Abravanel adaptou o texto da novela Corações Feridos para o Brasil

- Minisséries Bíblicas (Rede Record - Segunda a Sexta, 23h30): Rei Davi (estreia em 24/01) é a minissérie do ano da emissora, que abriu um projeto de adaptações bíblicas em 2010 com A História de Ester. É a principal (e única) novidade da emissora no primeiro trimestre de 2012, além do reality show Amazônia.

- Mulheres Ricas (Band - Segundas, 22h15; Domingos, 19h): O maior sucesso da temporada e já um dos maiores sucessos do gênero no país, produzido pela produtora Eyeworks/Cuatro Cabezas, é o polêmico e divertido reality show adaptado de The Real Housewives, que apresenta a vida "glamourosa" de cinco socialites. Narcisa Tamborindeguy (dos bordões "Ai que Loucura" e "Eike Absurdo"), Val "Hello" Marchiori, Débora Rodrigues, Lydia Leão Sayeg e Brunette Fracarolli geram discussões acaloradas a cada programa nas redes sociais e na imprensa, competindo em popularidade com o BBB - com a diferença que o prêmio tão combiçado pelos confinados da Globo é motivo de riso para estas personagens (o programa, apesar de tudo, é claramente pré-produzido: de reality mesmo não há muito neste show).

- Muito + (Band - Segunda a Sexta, 15h45): Tentativa da emissora de criar uma atração de sucesso para suas tardes (fragilizadas desde o término do programa Márcia), em que Adriane Galisteu ancora uma tipica roda de fofocas e quadros de entretenimento, com jornalistas e colunistas.  Não é a atração que vai revolucionar o horário (em que há atrações de muita pior qualidade na concorrência), mas é o típico entretenimento vazio que incomoda alguns, mas faz o guilty pleasure de muitos outros. Pode ter futuro, se a emissora deixar  - e o cancelamento repentino da estreia da série 24 Horas após um mês de divulgação maciça demonstra que a Band não é uma emissora que pode se esperar estabilidade.

Ao menos, dependendo ou não do sucesso destas atrações, são opções para o público que não deseja limitar a televisão aberta neste início de ano ao Big Brother Brasil. Acompanhemos. Fugir do programa é difícil, mas os refúgios até que existem.

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