Rede Vanguarda: o início tímido e decepcionante da cobertura do Pinnheirinho


Afiliada da Rede Globo nas regiões do Vale do Paraíba, Litoral Norte, Serra da Mantiqueira e Região Bragantina de São Paulo, a Rede Vanguarda é a conhecida emissora do José Bonifácio de Oliveira Sobrinho onde ele põe em prática atualmente o seu sonho de criar uma emissora com sua imagem fortemente sustentada no jornalismo. No entanto, quem pôde acompanhar a programação da emissora no último domingo (22) buscando informações concisas e detalhadas sobre a ocupação do Bairro do Pinheirinho em São José dos Campos - um dos assuntos mais comentados do dia e certamente do ano, na região - com direito a links ao vivo e plantões, algo mínimo de ser esperado de uma cobertura jornalística forte - pouco encontrou.


A cobertura jornalística, justamente, teve, sim, entradas ao vivo. Porém, alegando a depredação de um dos veículos jornalísticos da emissora (a informação mais repetida do dia nos plantões), se limitaram a fazer entradas dos próprios estúdios repetindo constantemente durante o dia uma superficial matéria pré-gravada de pouco mais de 30 segundos. A cada "plantão" era dito que uma cobertura completa da ocupação seria feita no programa Papo Vanguarda, que só iria ao ar à meia-noite, após o Big Brother Brasil.

Neste meio-tempo, as redes sociais como o Twitter se apresentavam como fontes mais rápidas e precisas de informação. Os conflitos entre os moradores explusos de suas casas pela Tropa comandada pelo Governo do Estado foram prontamente noticiados por blogueiros e tweets de diversas fontes, para todo o país. "Pinheirinho" esteve entre os trending topics do Twitter durante todo o dia, dando a entender um clima constante de guerra civil.

Com o programa Papo Vanguarda no ar, no entanto, a informação chegou fria. Três ou quatro matérias foram veiculadas - sendo que uma, após um erro, teve que ser reiniciada -  com o que parecia ser um resumo superficial das notícias do dia, quase totalmente composto com imagens pré-gravadas, sendo que o público já havia as encontrado em grande parte na internet.

O bloco de informações jornalísticas teve cerca de dez minutos e foi seguido pela apresentação normal do programa Papo Vanguarda pré-gravado, com cabeças refilmadas de última hora pelo jornalista Ademir Ribeiro, apresentador interino da atração (Vinícius Valverde, repórter do programa Big Brother Brasil, é o titular). Dentro do programa, quadros dispensáveis sobre um jogo de futebol com artistas, um bloco de humor sobre a já amplamente explorada farsa da "Super-Grávida" de Taubaté e uma entrevista com um colecionador de relógios.

A situação frustrante, em que uma emissora que preza sua imagem pela qualidade do jornalismo perde-se na agilidade dos fatos e acaba por entregar um resumo frio de informações ao espectador após um dos dias mais movimentados da história da região, é um reflexo da própria postura da afiliada nos últimos anos, marcada pelo comodismo e uma relação de diálogo distante com o público.

Lançada em 2003 com grande alarde, não é incomum a Vanguarda vincular em seus intervalos propagandas de auto-afirmação expondo sua posição de líder de audiência - sendo que não é uma informação nada extraordinária levando-se em conta que a Vanguarda é afiliada da emissora de maior audiência em todo o Brasil e, na região, possui apenas uma concorrente em sinal VHF, a Band Vale - que defende uma cabeça-de-rede historicamente frágil. A liderança da Vanguarda é natural e não provém exclusivamente dos seus méritos como afiliada. Ela já existia quando a Rede Globo Vale do Paraíba era apenas uma repetidora do sinal nacional e com um modesto jornal regional nos espaços reservados pela cabeça-de-rede, há 15 anos atrás.


O aspecto conservador da região se reflete na prórpia programação da Rede Vanguarda. Usando a mesma identidade visual - com sutilíssimas mudanças - em suas atrações desde o início da gestão de Boni em 2003, chega a assustar o programa jovem Vanguarda Mix usar a mesma vinheta de abertura desde sua estreia, há quase dez anos. Uma campanha veiculada no final do ano passado, no entanto, ao prometer um "Ano novo com tudo novo", após gerar expectativas de reformulação (incluindo uma possível estreia do sinal de suas atrações em alta definição) entregou apenas um logotipo redesenhado ao público. A campanha ainda destaca a aquisição de novas câmeras HD da Sony - mas nada disso se  reflete na programação que está no ar hoje, ainda a mesma de dez anos atrás.

Seus principais jornalísticos, Vanguarda TV Bom Dia (7h15) 1ª Edição (12h15) e 2ª Edição (19h15) ainda entregam ao público o mesmo jornalismo frio e distante dos tempos da Rede Globo Vale do Paraíba. Jornais de bancada filmados em um cenário multiuso (usado também no programa de entrevistas Vanguarda Comunidade e a mesa-redonda Boteco Vanguarda - as outras atrações revezam-se entre ser totalmente feitos em externas ou em chroma-key), se limitam a apresentar as notícias lidas por um casal de âncoras e links ao vivo que pouco acrescentam às pautas: Chama-se o repórter na rua para dar meia-dúzia de informações que poderiam ser lidas pelo âncora, sem perdas.

Em situações ainda mais inexplicáveis, em uma edição recente um repórter foi chamado em link na rua apenas para narrar as informações exibidas em UM INFOGRÁFICO, gerado na tela pela própria produção do jornal. Um notável desperdício de orçamento.

Na contramão do exemplo dado por jornais regionais de outras regiões do país (dando como exemplo o RJTV, exibido pela Rede Globo da região metropolitana de RJ), que expandem as informações - mesmo quando simples - com a sabedoria de comentaristas e entrevistas com especialistas feitas no próprio cenário, gastando pouco e informando mais, os jornais da Rede Vanguarda se limitam a dar a notícia e preencher o espaço restante - metade das edições do jornal - com pautas supérfluas como, usando exemplos de edições recentes: acompanhar um garoto de dez anos que sonha jogar futebol ou fazer um link ao vivo de uma padaria para falar sobre as propriedades nutritivas dos alimentos.

Pautas que poderiam fazer a emissora se aproximar do seu público em um diálogo constante, com a apresentação dos problemas em seus bairros e regiões - algo essencial em um jornalismo regional - , são mostrados de forma passiva nos telejornais. Um pedido do público para apresentar o problema leva tempo para ir ao ar e o compromisso para a resolução de problemas em um prazo estipulado não se firma abertamente. Em outras palavras: o atual perfil do jornalismo da Rede Vanguarda promete, mas entrega ao público um trabalho engessado, distante e limitado.

É necessário afirmar que os jornalistas da afiliada, competentes, pouco tem culpa nesta situação. A sua administração, ao que se nota, acomodada com a posição de liderança, pouco faz para crescer e aprimorar-se.

Embora não seja líder, esse desejo de inovação e diálogo pode ser visto com muito mais propriedade por sua principal concorrente, a Band Vale. Com programas mais ecléticos, a diferença entre as duas redes cresce ao se comparar a edição do mesmo dia dos jornais Vanguarda TV e Band Cidade. O segundo, em menos tempo, não raro entrega mais dados e informações do que a afiliada da Rede Globo, sendo uma fonte bem mais eficiente.

Essa situação, infelizmente, acaba acarretando como consequência a situação da cobertura lenta e superficial da Ocupação do Pinheirinho apresentada no último domingo - o que, durante a semana, espera-se que seja minimizado na cobertura dos jornais da emissora. Hoje (23/01), o jornal Vanguarda TV 1ª Edição, apesar de prometer uma cobertura mais elaborada, está sofrendo com contínuos problemas técnicos. Duas ou três matérias novas já travaram no ar e está se recorrendo à reprises das matérias já exibidas no Papo Vanguarda para ocupar as falhas. Uma entrada do comentarista de segurança do RJTV Rodrigo Pimentel tentou suprir a falta de comentaristas da própria região.

É indubitavelmente esperado de uma afiliada da principal e mais profissional rede de televisão do Brasil, ainda mais com o nome de um dos maiores profissionais da história da televisão por trás, uma postura mais ativa e inovadora. E a atual situação força uma reação mais ativa. Que a situação que acontece atualmente em São José dos Campos ajude a administração da Vanguarda a rever sua postura jornalística e, assim, possamos usar melhor o potencial desta líder de audiência nos próximos tempos.

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