"Chamar de negão era circense", diz Didi sobre piadas polêmicas


[Matéria publicada originalmente em Folha de S. Paulo, por ELISANGELA ROXO e MATHEUS MAGENTA, em 23/03/2012]

Em meio a uma série de processos e polêmicas envolvendo humoristas na TV, há um consenso entre a classe que provoca o riso de que o país pode estar levando os bobos da corte a sério demais.
O tema será discutido na mesa-redonda Fronteiras do Humor na TV, que acontece hoje à noite na terceira edição do festival de humor Risadaria (veja a programação em risadaria.uol.com.br ).
Para Marcelo Tas, curador do evento, componente da mesa e apresentador do "CQC" (Band), "o público está subestimando a própria ignorância, que pode ser traduzida por intolerância" em relação às polêmicas quanto aos humorísticos na TV.
"Acho essa discussão de limites a mesma daquele quadro 'Piada em Debate', do 'TV Pirata'", afirmou. Para ele, "um dia, teremos vergonha de estar discutindo isso."
Tas, como grande parte dos novos nomes da cena, acredita que o limite do humor, afinal, é "ser engraçado".
Dentro desse contexto, porém, ele ressalva que não está incluída a gracinha que levou à saída de Rafinha Bastos do elenco do "CQC", no ano passado (veja ao lado). "Nesse caso, não foi piada."
Ele faz questão de defender a liberdade de expressão das piadas engraçadas. "Os humoristas expõem as condições para rirmos de nós mesmos."
O diretor da Central Globo de Comunicação, Luis Erlanger, diz que os humorísticos do canal costumam provocar a ira de entidades de classe --como secretárias, enfermeiras e, recentemente, metroviários de São Paulo contra um quadro do "Zorra Total".
A maioria das reclamações contra a Globo são oriundas do Ministério Público.

"NEGADIS"
O homenageado deste ano do Risadaria é Renato Aragão, que liderou "Os Trapalhões" e agora é da "Turma do Didi".
À Folha, Aragão difere censura de politicamente correto. "As coisas que a gente fazia nos 'Trapalhões', chamar de paraíba e negão, eram algo circense. Hoje ninguém poderia tocar no assunto assim."
"As classes conquistaram o respeito e têm o direito de exigi-lo", afirma Aragão, que é embaixador no Brasil do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância).
"'Os Trapalhões', do jeito que eram, não seriam aceitos agora por causa do politicamente correto", diz Paulo Bonfá, idealizador do festival.
Antonio Tabet, do site Kibe Loco, concorda em parte. "A patrulha pode ser exagerada, mas não é gratuita. Se houvesse bom senso, nada disso teria acontecido."
"Não me importo com essas coisas. Se não deram risada, aí, sim, ficarei preocupado", diz Danilo Gentili, do "Agora É Tarde" (Band).
Na semana passada, ele participou do "Proibidão", show no qual o público assina um termo para evitar processos por causa das piadas.
Na ocasião, a polícia foi chamada após um músico negro se sentir ofendido ao ser comparado a um macaco.

PROCESSOS NOTÓRIOS CONTRA HUMORISTAS

Em 1997, o “Casseta de Planeta” foi alvo de mais de 130 ações movidas por PMS de Diadema (SP). Na época, os policiais foram flagradors agredindo moradores. Os PMs acabaram derrotados na Justiça.
Em 2005, a atriz Carolina Dieckmann conseguir evitar na Justiça a exibição de cenas em que humoristas do “Pânico da TV!” usaram um guindaste para filmar seu apartamento. A Justiça do Rio de Janeiro condenou a RedeTV! a indenizar a atriz em R$ 35mil por danos morais.
Em 2011, pais de meninos autistas ganharam na Justiça direito a indenização devido ao quadro “Casa dos Autistas”, no “Comédia MTV”
Em janeiro deste ano, Rafinha Bastos foi condenado a indenizar Wanessa e sua família após dizer no “CQC”, da Band, que “comeria ela [Wanessa, então grávida] e o bebê.”


[Postado por Marina Moreira]

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