Produções nacionais se focam em TV e cinema simultaneamente



[Notícia postada originalmente no Portal Terra]

É cada vez mais comum ir às salas para ver algo baseado no que já se viu nas telinhas e vice-versa. Foto: Afonso Carlos/Carta Z Notícias/Divulgação

É cada vez mais comum ir às salas para ver algo baseado no que já se viu nas telinhas e vice-versa
Foto: Afonso Carlos/Carta Z Notícias/Divulgação
GERALDO BESSA
A adaptação de longas-metragens para a TV e vice-versa é algo bem comum e frutífero no mercado da comunicação norte-americano. De olho nessa "venda casada" de produtos, o Brasil está cada vez mais inserido nessa lógica, na qual a televisão usa histórias bem-sucedidas do cinema para atrair prestígio com produções já conhecidas por parte do público, enquanto o cinema se aproveita da divulgação em massa e da exposição publicitária da TV.
"A grande diferença está na linguagem. Ao levar um filme para a TV, é preciso entender que o público irá aumentar vertiginosamente e que a história precisa se adequar a um perfil mais popular, sem perder as características do produto original", destaca Guel Arraes, responsável pela adaptação do filme A Mulher Invisível, longa de Cláudio Torres, para o formato de série. Ele é um dos maiores entusiastas do diálogo traçado entre o cinema nacional e a Globo, o que iniciou em 1999, com a microssérie O Auto da Compadecida, transformada em longa no ano seguinte.
Atualmente, a lista de produções oriundas do cinema que foram para as telinhas é tão numerosa quanto os produtos televisivos que invadiram as salas de todo o Brasil. E, se antes as produções só eram adaptadas para outra linguagem depois de lançadas, agora a adequação aos formatos começa a ser pensada desde a pré-produção. "Filmamos a série e o filme ao mesmo tempo. O roteiro é praticamente o mesmo. Só que no cinema é possível ousar mais. A televisão está cheia de restrições classificativas, então é preciso amenizar um pouco o discurso, poupar alguns palavrões", diverte-se Jorge Fernando, diretor da microssérie Dercy de Verdade e do filme homônimo, com lançamento previsto para o ano que vem.
Sem medo de esvaziar o produto adaptado, roteiristas e diretores capricham na captação de imagens diferentes, que possibilitem outras montagens para a história. "Não dá para ser a mesma coisa. Seja no cinema, seja na TV, é preciso chamar a atenção do público. Ele exige e merece novidades. Vamos utilizar o material extra para a série, pois nem tudo que registramos coube no filme", entrega Cao Hamburger, diretor deXingu, longa que aborda a criação do Parque Nacional do Xingu, nos anos 1960, já confirmado também como uma microssérie de quatro episódios.
Com estreia prevista para 6 de abril nos cinemas, Xingu é a quarta produção feita em parceira entre a produtora paulistana O2 Filmes, do diretor Fernando Meirelles, e a Globo. E vem na sequência de Cidade dos Homens, seriado baseado no filme Cidade de Deus, de 2002, Antônia, série construída a partir da história do longa homônimo de 2006, dirigido por Tata Amaral. E, finalmente, Som & Fúria, minissérie de 2009 adaptada para o cinema meses depois de sua exibição nas telinhas.
Grande parte da ligação da Globo com o cinema começou com a influência do braço cinematográfico da emissora, a Globo Filmes, no mercado. Além de desenvolver projetos ligados às séries exibidas na TV, a empresa também se associa aos produtores de filmes concebidos de forma independente. "Ao entrar na coprodução dos filmes, temos a intenção de criar público e visibilidade ao produto. Queremos aumentar a participação do cinema nacional no mercado", entrega Carlos Eduardo Rodrigues, diretor executivo da empresa. E tem conseguido. Da retomada do cinema nacional, entre 1994 e 1995, a empresa coproduziu mais de 90 filmes, entre eles os dez maiores sucessos de bilheteria da retomada do cinema brasileiro.
Amante do cinema, e criticado por seu olhar televisivo presente nos longas que comandou, como Divã, o diretor José Alvarenga Jr. assume ter se apaixonado pela história da mulher de meia-idade retratada no texto de Martha Medeiros. No entanto, ele só teve carta branca para adaptar a trama para o formato de série depois do ótimo desempenho da história no cinema, que ultrapassou a marca de um milhão e meio de espectadores. "Televisão é um veículo popular. É preciso respeitar isso. Não é todo filme que pode render uma boa série. E não é toda série que tem cacife de ir para o cinema. Adapto filmes para a televisão e séries para o cinema de propósito. Para confundir", admite ele, responsável também pela série Os Normais, que já rendeu duas incursões pelo cinema: Os Normais ¿ O Filme, de 2003, e Os Normais 2 ¿ A Noite Mais Maluca de Todas, de 2009.
Na fila
Além do longa baseado em Dercy de Verdade e da microssérie derivada de Xingu, outras produções já têm suas adaptações confirmadas para a TV e novas séries já garantiram suas versões cinematográficas. No semestre que vem, Jayme Monjardim começa a filmar sua versão de O Tempo e o Vento, inspirada nos romances do gaúcho Érico Veríssimo - já garantindo que o produto também vai render uma microssérie global. "Ficou acordado que a versão para a televisão vai ser exibida meses depois do lançamento do filme. Tudo para não atrapalhar o desempenho nas bilheterias", conta.

Na contramão, a série Confissões de Adolescentes, sucesso da TV Cultura nos anos 1990, chega ao cinema pelas mãos de Daniel Filho. E o humorístico dominical Os Caras de Pau, protagonizado por Leandro Hassum e Marcius Melhem, já está com seu roteiro para as telonas em desenvolvimento. "Tem um tempo que os fãs do programa cobram esse filme. A direção ficará a cargo do Felipe Joffily. Vai ser baseado na série, mas com uma pegada totalmente cinematográfica", avisa Melhem.
Instantâneas
Além de O Auto da Compadecida, Guel Arraes já transformou a série Caramuru - A Invenção do Brasil, de 2001, em filme. Ele também fez o inverso: adaptou o longa O Bem-Amado, de 2010, para uma microssérie de quatro episódios.

Na grade da Globo há mais de 13 anos, A Grande Família ganhou versão para o cinema em 2007. O longa foi dirigido por Maurício Farias, que também é responsável pela série.
Assim como o seriado Cidade dos Homens é visto como uma extensão do longa "Cidade de Deus", baseado no livro homônimo de Paulo Lins, a série Carandiru e Outras Histórias foi concebida a partir das tramas ausentes no filme Carandiru, dirigido por Hector Babenco e baseado no livro Estação Carandiru, do médico Drauzio Varella
Na versão de Confissões de Adolescente para o cinema, o diretor Daniel Filho já garantiu a participação do elenco principal da série dos anos 1990: Deborah Secco, Georgiana Góes, Daniele Valente e Maria Mariana.
TV Press
[Notícia postada por Marina Moreira]

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