Atrações tropeçam em “brodagem corporativa”

[publicado originalmente me Folha de S.Paulo, por Maurico Stycer]

Entrevistas “chapa-branca” atrapalham programas; Gentili e Capinejar têm o mérito de buscar oxigenação no formato.

Formato dos mais simpáticos, o talk show conquistou novos espaços na TV aberta brasileira em 2012. O publicitário Roberto Justus, na Record, e o poeta Fabrício Carpinejar, na Gazeta, estrearam programas. Jô Soares repaginou o seu, na Globo, e Danilo Gentili ganha agora em abril um quarto dia na semana na grada da Band.

Essa movimentação indica a existência de público e interesse comercial pelo bate-papo de fim de noite. Os programas são a falta de imaginação geral e o engessamento do formato ao modelo “brodagem corporativa”.

O cardápio de entrevistados desta semana dá uma ideia do problema. Jô recebou o ator Domingos Montagner, contratado da Globo. Falaram de “Cordel Encantado”, novela que ele fez em 2011, e de “Brado Retumbante”, série que protagonizou no início deste ano.

Como de praxe, Montagner fez propaganda da peça que mantém em cartaz e, em seguida, respondeu uma série de perguntas desconexas, que Jô pareceu ler sem o menos interesse: “Você gosta de desenhar também?”; “Como é aquela história do aeroporto?”; “Você trabalhou com o seu pai?”; “Qual é a sua ligação com a lasanha?”.

Danilo Gentili, no “Agora É Tarde”, alimenta o sonho de ser uma alternativa no mercado. Suas entrevistas transmitem, de fato, um frescor maior, mas não raro elas esbarram no mesmo problema de Jô Soares – as conversas com figuras “da casa” sem muito o que dizer.

Nesta semana, Gentili entrevistou Sabrina Sato, estrela do “Pânico”, que estreia na Band hoje.
Maroto, o apresentador tentou levar a conversa para um lado cômico, mas a certa altura ela o lembrou: “Vamos falar mais do “Pânico” por que eu vim aqui pra isso.”

Jusus inovou, negativamente, diga-se, com um talk show temático. Uma vez por semana, recebe três ou quatro entrevistados para falar de um mesmo assunto. Mais engessado impossível,

Para piorar, o “Roberto Justus +”, também não escapa da “brodagem corporativa”. Nesta semana, para discutir o “universo feminino”, o publicitário contou com Ana Paula Padrão, estrela da emissora em que o programa é exibido.

Carpinejar lidera “A Máquina”, um projeto menos convencional do que os demais, no qual entrevista um único convidado, ao longo de 30 minutos, uma vez por semana. O programa tem mais semelhanças com o dominical “De Frente com Gabi”, do SBT, do que com os talk shows citados aqui.

Meio personagem, meio entrevistador, o poeta enfrentou Tom Zé na estreia, no que resultou num dos mais surreais da televisão em 2012. Uma semana depois, entrevistou o músico China, que encerrou assim sua participação: “aqui jaz um programa ótimo de que participei”. Tomara que prossiga.


Veja alguns vídeos citados na reportagem:


[postado por Marina Moreira]

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