Peter Greenaway provoca plateia de evento em SP


Em palestra do ciclo Fronteiras do Pensamento, diretor criticou o formato hollywoodiano e o hábito de ir ao cinema
[Publicado originalmente na Folha de São Paulo em 20 de maio de 2012 por Rodrigo Salem]
“Harry Potter’ e ‘ O Senhor dos Anéis’ não passam de textos ilustrados”, polemizou o artista britânico
Quem esperava ser provocado pela palestra de Peter Greenaway no ciclo Fronteiras do Pensamento, anteontem, não se decepcionou.
O cineasta voltou a decretar a morte do cinema convencional, criticou a adoção do formato hollywoodiano e até questionou o público presente em grande número na Sala São Paulo.
A palestra, intitulada Novas Possibilidades, foi precedida por um elogio ao local do evento. “É um espaço impressionante. Me pergunto se podemos passar filmes aqui”, disse o cineasta, que é fã de arquitetura clássica e começou a carreira como pintor.
Os elogios logo deram lugar para as conhecidas declarações polêmicas de Greenaway. “Gostaria de reforçar: o cinema está morto. Quando uma pessoa me fala que vai ao cinema, eu falo: ‘ O que diabos você está fazendo, sentado no escuro feito um animal e olhando para a mesmadireção por duas horas?’.”
“Tenho certeza de que o futuro da arte cinematográfica será muito mais empolgante”, afirmou.
Greenaway, então, mostrou visualmente como acredita que o cinema pode evoluir. Apresentou vídeos de suas instalações visuais emmuseus e palacetes na Itália e na Holanda, onde mora.
“A comunicação satisfatória do cinema funciona de forma perfeita apenas quando unimos educação e diversão”, crê o responsável por obras filmes como “O Livro de Cabeceira” ( 1996) e “O Cozinheiro, o Ladrão, Sua Mulher e o Amante” ( 1989).
A ideia do diretor é mostrar o cinema como uma obra mais ligada à pintura e às imagens e cada vez menos dependente do roteiro. “Precisamos cortar o cordão umbilical do cinema com as prateleiras das livrarias”, clamou ele. “‘ Harry Potter’ e ‘ O Senhor dos Anéis’ não passam de textos ilustrados.”
Se já não fosse o suficiente para causar um burburinho, Greenaway ainda falou que mais três “tiranias” precisariam ser cortadas do cinema: a do enquadramento, a da câmera e a dos atores.
“O cinema não foi criado para ser parque de diversões para Sharon Stone. Se você é um ator, hoje em dia, só faz transar e morrer nos filmes.”
Apesar de todo o discurso, Peter Greenaway é bem-humorado e um auto-proclamado otimista. “Meus trabalhos como VJ ou DJ com imagens meempolgam. Gosto do cinema ao vivo.”
Tem uma potencialidade muito grande o que ele diz, já que o fim do cinema é o início de uma outra coisa sociólogo.
Achei muito provocador. Vou levar algumas reflexões para os meus espetáculos ator.
[Postado por Mariana Galvão]

Comentários

  1. desculpa, mas é normal ter um trecho da notícia da rita lee no meio dessa?
    acho que rolou um engano

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  2. Preciso defender minha classe. E dizer que não vejo porque a contemporaneidades - no cinema e nas artes - dispensariam o uso de roteiros. Já diz o bom e velho David Mamet. Não carecemos de rotular o roteiro de necessidade, mas sim como possibilidade. É justamente através de uma previsão ou de um guia, que não precisam ser obedecidos religiosamente, que um artistas pode equilibrar seu trabalho. É muita inocência acreditar no "ao vivo" e no espontâneo como única chave da arte. De uma vez só, ninguém esculpe como Rodin e nem escreve como Saramago. Glauber Rocha (ícone do Cinema Novo e da transgressão) escrevia roteiros e, ainda assim, tinha espaço para experimentar um cinema de ampla liberdade. Gostaria de ver o Greenaway tentar fazer um dos seus melhores filmes ("Afogando em Números") sem vesti-lo com a grande piada numérica da lógica da construção de roteiros.

    García Márquez, que é sábia, já dizia. Aproveitemos tudo. Nada é tão dispensável como parece. Sobretudo, se tantos e por tanto tempo, fizeram por esta cartilha.

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