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Em busca de renovação e mais audiência, Globo escala paras as novelas das 21h dramaturgos novos na faixa, como Walcyr Carrasco

ALBERTO PEREIRA JR.
FOLHA DE SÃO PAULO, Ilustrada
Domingo, 8 de julho de 2012, página B1


Autor de “Avenida Brasil”, João Emanuel Carneiro perderá, em breve, o posto de caçula no olimpo das novelas da Globo: a faixa das 21h.
Em busca de produtos populares e que atinjam boa audiência, a emissora começa a acelerar a renovação de seu banco de escritores também em seu principal produto.
Walcyr Carrasco é o próximo a ascender ao seleto grupo. Responsável pela nova versão de “Gabriela”, atualmente no ar na faixa das 23h, ele escreveu e já teve aprovada a sinopse da trama que, em 2013, substituirá “Salve Jorge” (título de trabalho), de Glória Perez, no horário das 21h.
Duca Rachid e Thelma Guedes, com sucessos recentes às 18h, como “Cordel Encantado” (2011) e “Cama de Gato” (2009), também estão no páreo e já apresentaram um texto para as 21h.
Até a chegada de Carrasco e de Carneiro –que estreou “A Favorita” em 2008–, o último autor a ingressar no time da faixa mais visada do canal havia sido Benedito Ruy Barbosa, em 1993.
Pouco antes, Benedito causara estrago na audiência da emissora ao assinar, na Manchete, o folhetim “Pantanal”.
Segundo Maria Immacolata Vassallo de Lopes, coordenadora do Centro de Estudo de Telenovelas da ECA-USP, a renovação de autores é uma questão estratégica para a Globo. “É importante porque traz pessoas com novas relações com o tempo e sensibilidades aos temas”, aponta.
“É uma dinâmica constante a busca por inovação e renovação. E é bom ver que o trabalho de novos autores vem sendo reconhecido, como já é o do time que, há tantos anos, emociona gerações”, afirmou Manoel Martins, diretor-geral de entretenimento da Globo, à Folha.
A mobilidade dos autores aparece ao lado de outro traço notável no momento atual: a procura por falar com a nova classe C.
“Reparamos que as classes populares vêm incrementando sua participação na sociedade. Como é natural que esses movimentos estejam refletidos na TV, estamos atentos. Os produtos atuais retratam tal característica.”
INCUBADORA
“Não considero promoção [escrever para a faixa das 21h]. Cada horário tem segredos e desafios”, define Carrasco, que furou a fila de veteranos com o novo trabalho.
Manoel Carlos, que tem seis tramas das 21h no currículo, discorda. “É o mais importante para a emissora. A responsabilidade é maior.”
Antes de ser convidado a criar tramas para as 21h, todo autor costuma ser testado nas faixas das 18h e das 19h.
Os novatos também podem ser apadrinhados por algum dos medalhões da casa.
Carneiro trabalhou com Maria Adelaide Amaral, Silvio de Abreu e Euclydes Marinho até assinar “Da Cor do Pecado” (2004).
Gilberto Braga e Ricardo Linhares, autores de “Insensato Coração” (2011), também contam com seus pupilos.
Braga supervisiona a próxima trama das 18h, de João Ximenes Braga e Cláudia Lage. Linhares cuida da atual novela das 19h, “Cheias de Charme”, de Filipe Miguez e Izabel de Oliveira.
Maria Adelaide Amaral prepara sua primeira novela original e quer lançar Vincent Villari, seu colaborador desde “Anjo Mau” (1997), como autor solo em breve.
“Não sei por que, mas me ocorreu agora aquela frase da Bíblia: ‘Muitos serão os chamados, mas poucos os escolhidos’”, conclui a autora.
Colaborou ELISANGELA ROXO, de São Paulo



Para Autores, Avenida Brasil não

é tão vanguardista


ALBERTO PEREIRA JR.
DE SÃO PAULO


Com índices na casa dos 40 pontos de audiência (cada ponto equivale a 60 mil domicílios da Grande SP), "Avenida Brasil" é considerada inovadora por centrar sua trama no subúrbio carioca e apostar numa heroína dúbia, Nina, distante da protagonista sonhadora do folhetim tradicional.
Autores ouvidos pela Folha elogiaram a agilidade e a qualidade do texto de João Emanuel Carneiro, mas não veem ali reinvenção do gênero.
"Minhas mocinhas nunca foram puramente sofredoras. A Clara de 'Barriga de Aluguel' [1990] alugou o próprio ventre", diz Glória Perez, comparando a vingativa Nina (Débora Falabella) de "Avenida" à personagem de Cláudia Abreu.
Ricardo Linhares faz coro. "Tieta [Betty Faria] era a anti-heroína que voltava a Santana do Agreste para se vingar de quem a escorraçou e tinha um romance com o sobrinho seminarista [Cássio Gabus Mendes]", lembra, sobre "Tieta do Agreste" (1989).
Aguinaldo Silva, que, com "Fina Estampa", fez o horário das 21h voltar a superar os 40 pontos, acha que são os veteranos Murilo Benício e Adriana Esteves que "carregam" a atual trama do horário.
"É besteira falar que a TV é feita de mocidade", afirma Benedito Ruy Barbosa, em referência à recente entrevista de Carneiro à revista "Veja" em que o autor disse que "juventude é importante para manter o frescor e a libido".
Silva frisa que, já em "Senhora do Destino" (2004), situou no subúrbio o núcleo central de uma história. "As pessoas se esqueceram que, para chegar até a Nova Iguaçu [subúrbio do Rio] de Maria do Carmo [Susana Vieira], precisavam passar pela avenida Brasil [que liga a Baixada Fluminense]", provoca.
Os autores ouvidos pela Folha sublinham que suas novelas sempre dialogaram com todas as classes, inclusive com a C, atual menina dos olhos da TV.

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