HBO e Telecine disponibilizam conteúdo dos canais pela internet


Publicado originalmente na Folha de São Paulo, Ilustrada
Quarta-feira, 26 de julho de 2012, pág E6
 

ALBERTO PEREIRA JR.
ELISANGELA ROXO



O controle remoto corre o risco de se tornar obsoleto. Para reverter a situação, a TV paga resolveu fazer um "upgrade" de programação.
 
A televisão vai dividir agora espaço com qualquer outra tela conectada à internet.
Os dois principais canais de filmes e séries do país, a rede Telecine e a HBO --que disputam os cerca de 14 milhões de assinantes de TV por assinatura do Brasil-- disponibilizarão seu conteúdo na web para o público assistir às atrações quando quiser.
A lógica de ambos (Play e Go) é ampliar as plataformas de quem paga para assistir aos filmes e séries na TV.
Em agosto, os cerca de 2 milhões de assinantes dos pacotes de dez canais HBO na televisão vão poder assistir às produções originais deles em qualquer computador pelo serviço HBO Go.
A tecnologia para acessar o serviço em outros dispositivos, como iPad, iPhone e iPod ou aparelhos que têm o Android como sistema operacional, será disponibilizada até o fim do ano.
O cardápio do Go inclui cerca de 1.000 títulos, desde o último episódio de "True Blood" --que estará disponível sempre na manhã seguinte à exibição na TV-- ao acervo de filmes próprios da HBO, que tem produções como "Game Change", em que Julianne Moore ("Ensaio sobre a Cegueira") interpreta a política americana Sarah Palin, ex-candidata à Presidência dos Estados Unidos.
"É um serviço adicional para agregar valor à assinatura dos nossos canais", explica à Folha Miguel Oliva, diretor da HBO.
O Brasil será o primeiro país da América Latina a testar o Go, já disponível nos Estados Unidos e em alguns países da Ásia.
Segundo Oliva, a ideia do serviço, restrito aos assinantes do pacote de TV, nunca foi desvincular os conteúdos do canal, mas responder a uma mudança de hábito entre seus consumidores, também usuários de internet.


CONCORRÊNCIA
 
Os 3 milhões de assinantes dos seis canais Telecine vão ter outros 1.000 títulos disponíveis para do menu de programação na internet, no serviço chamado de Telecine Play, lançado nesta quarta (25).
Por enquanto, o acervo só estará acessível para computadores --ainda não há data para outros dispositivos.
Essa é uma tendência mundial que desembarcou no país no ano passado com o crescimento do site brasileiro Netmovies e a chegada do americano Netflix.
Os dois oferecem um menu com filmes e séries on-line, a partir de assinatura mensal. Em nove meses de atuação no país, o Netflix, que tem o Brasil como principal mercado na América Latina, alcançou 1 milhão de assinantes latinos.
Para Nelson Hoineff, presidente do Instituto de Estudos de Televisão, o Brasil demorou para entrar na nova onda de programação televisiva fora da televisão.
Agora, então, seria o momento da TV paga fidelizar seus novos consumidores em outras plataformas.
"As operadoras tiveram um crescimento neste primeiro semestre de 14,8%. E elas estão 'amarrando' os clientes ao oferecer sinal de TV, telefone e internet ao mesmo tempo", ele explica.
Ao oferecer serviços múltiplos, esse tipo de iniciativa fez mudar o consumo de conteúdos audiovisuais.
"A organização da TV, com a grade fixa, é engessada, ultrapassada e anacrônica. A geração virtual vê o que quer, na hora que quer e como quer. A internet é a ferramenta do novo consumidor", diz o especialista.

Fiscalização e banda larga levam pirataria para computador de casa


MATHEUS MAGENTA


A intensificação do combate aos principais pontos de venda de produtos piratas em São Paulo e o aumento do número de pessoas com acesso a internet em casa vêm mudando o perfil da pirataria de filmes e músicas.


Até o ano passado, era fácil encontrar em ruas ou lojas da região da rua 25 de março, no centro da capital, cópias dos principais lançamentos antes mesmo da estreia desses filmes nos cinemas brasileiros.
Hoje, a situação mudou. Locais como a Galeria Pagé já não atraem mais consumidores em busca de DVDs de filmes e seriados pirateados.
"Segundo as polícias Civil e Federal, a cidade está deixando de ser um entreposto da pirataria no país. Houve migração do comércio ilegal para Campinas, ABC, Guarulhos e Osasco", disse Edsom Ortega, secretário municipal de Segurança Urbana.
Operações promovidas pelo gabinete de segurança de São Paulo, que reúne órgãos que atuam nas esferas municipal, estadual e federal, levaram à apreensão de 60 milhões de produtos ilegais (avaliados em R$ 2 bilhões) desde dezembro de 2010.
Principais produtos de contrabando do país, os CDs e DVDs tiveram queda nas apreensões entre 2000 e 2010.
No entanto, as indústrias cinematográfica e fonográfica (que estima ter 65% do seu mercado tomado pela pirataria) sabem que a batalha ainda está longe do fim.
Para autoridades e especialistas ouvidos pela Folha, o aumento do número de pessoas com computador no país acelerou a troca, por parte dos consumidores, do comércio ilegal físico de CDs e DVDs pelo download ilegal de filmes e músicas via internet.
Em 2000, apenas 10,5% dos domicílios brasileiros (4,7 milhões) tinham computador. Dez anos depois, esse número chegou a 38,3% (21,9 milhões), segundo o IBGE.
Já o Comitê Gestor da Internet no Brasil aponta que 86% dos usuários usam banda larga (o que facilita os downloads) e que 48% deles quer aumentar a velocidade de sua conexão, mas o custo é elevado ou não há disponibilidade do serviço onde ele mora.

"PIRATAS ON-LINE"
 
Um estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), publicado em maio passado, traçou o perfil das pessoas que usam a internet para baixar cópias ilegais de filmes e músicas (ou seja, sem pagar por elas).
Segundo o estudo, 27,8 milhões dos 68 milhões de usuários de internet do país (ou 41% do total) podem ser considerados "piratas on-line".
"É um fenômeno generalizado. Independe de faixa etária, nível de renda ou escolaridade", afirmou Rodrigo Abdalla, coautor da pesquisa.
Segundo ele, a principal dificuldade do combate à pirataria on-line é a ideia disseminada entre os usuários de que o download ilegal de um filme não financia o crime organizado, tal como o comércio de DVDs e CDs piratas.
"Existe uma percepção generalizada de que, como não se está pagando por aqueles filmes ou álbuns piratas a ninguém, essa atividade não é aética, amoral ou ilegal."
Na Europa e nos EUA, é crescente o número de usuários e donos de sites ou serviços processados principalmente por causa de downloads ilegais de filmes e músicas. No Brasil, os casos ainda são raros.

Comentários