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Psicanalistas visitam filmagens de  "Sessão de Terapia", versão brasileira de seriado israelense que deu origem a derivados de sucesso pelo mundo.


LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
DE SÃO PAULO

Folha de São Paulo, Ilustrada
1º de julho de 2012, pág. B1.

O seriado "Sessão de Terapia" está no divã. Adaptação da produção israelense "BeTipul" --criada por Hagai Levi, que também supervisionou o remake americano, com Gabriel Byrne, realizado pela HBO--, a produção brasileira estreia em 1º/10 no canal GNT, com direção de Selton Mello.
A série, que custou R$ 6 milhões, acompanha quatro pacientes que vão ao consultório do dr. Theo (Zecarlos Machado) uma vez por semana. Às sextas, é ele quem busca apoio na supervisora Dora (Selma Egrei).
Para saber se o programa cumpre os requisitos da vida real, a Folha convidou duas psicanalistas a "invadirem" o set. Na semana passada, Anna Veronica Mautner e Luciana Saddi opinaram sobre diálogos, composição de personagens e cenários.
Autora do blog Fale Comigo, Saddi diz que "Terapia" desmistifica a profissão sem banalizar o sofrimento do paciente. "A série sai do senso comum, mostra como é complexo nosso trabalho."




A psicanalista Luciana Saddi acompanha gravação na Vila Leopoldina
Mas ela pondera que a evolução dos pacientes ficcionais de uma sessão para outra é muito rápida. "É como se houvesse passado de um a dois meses da terapia. Mas é claro que a ficção tem de ser mais dinâmica e condensar as coisas. Não haverá um capítulo em que médico e paciente fiquem calados."
Já Mautner, que também é colunista de "Equilíbrio", fez ressalvas aos móveis do consultório do dr. Theo e à linguagem usada na gravação.
"Há uma confusão entre o escrito e o oral. Numa conversa, é normal repetir palavras", comenta.
"Um paciente também não se referiria a si mesmo como idiota, diria talvez frágil, infeliz", acrescenta, em reação a uma fala em que a personagem de Maria Fernanda Cândido expõe seus problemas de relacionamento. "E tira essa poltrona [do psicanalista] daí porque ela é um horror!"
Já o terapeuta Theo recebeu elogios por estar "masculino na medida certa", segundo Saddi. "Ele tem de trabalhar muito para ter uma 'presença quieta'. Ou seja, mesmo falando o tempo todo, precisa ter essa introspecção", detalha a psicanalista.
O protagonista está em cena em todos os 45 episódios, o que intensifica a rotina de Zecarlos Machado. São mais de mil páginas de texto que ele tem de decorar só para a primeira temporada.
A equipe filma um episódio por dia. "É como se eu fizesse uma peça por dia", compara Machado, que também está em cartaz até agosto em São Paulo com "Doze Homens e Uma Sentença".
"Como tivemos pouco tempo de ensaio antes de começar a gravar, me aproximei do dr. Theo pelo que havia no roteiro mesmo. E minha mulher é terapeuta. Isso me ajudou", explica o ator. "É um pouco ver o não dito em palavras."
TRANSFERÊNCIA ERÓTICA
Entre os casos abordados em "Sessão de Terapia" está o de uma paciente que tenta seduzir o analista.
"Isso acontece menos do que as pessoas pensam e é mais comum com terapeutas homens e uma paciente", explica Saddi. "É quando ele perde o rumo e sai da função de analista, deixando-se numa posição vulnerável."
Para Saddi, a série acerta quando foge da banalização da autoajuda e mostra que o médico não vai decifrar um paciente. "Todos querem um manual de instrução. A função do terapeuta não é essa. É de devolver o problema, mastigado, sem resolvê-lo."

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