Diversão de gosto duvidoso. Entretenimento ou ofensa?


Ganhadores do Nobel da Paz se unem contra novo reality show da NBC, no qual subcelebridades recebem treinamento de guerra e devem competir entre si para ganhar a disputa

Publicado originalmente em O Globo
Quarta-feira, 15 de agosto de 2012, página 30

NOVA YORK
 
Nove ganhadores do Nobel da Paz, incluindo o sulafricano Desmond Tutu, se uniram para repudiar e pedir o cancelamento do novo reality show da NBC, “Stars Earn Stripes”. Numa carta aberta ao presidente da NBC Entertainment, Robert Greenblatt, o grupo acusa a rede de glorificar a guerra e o combate.
O programa foi divulgado pela emissora como uma homenagem aos membros das Forças Armadas. Mas, na prática, submete oito subcelebridades — como o cantor Nick Lachey e Todd Palin, o marido da ex-governadora do Alasca, conhecido informalmente como “O primeiro-cara” — a treinamento de guerra por ex-fuzileiros, comandantes da Swat e do Exército, com competições entre os candidatos. O prêmio será destinado a uma instituição de caridade. A lista de personalidades que assinam o texto inclui ainda o argentino Adolfo Pérez Esquivel, o costarriquenho Óscar Arias, a guatemalteca Rigoberta Menchú, a americana Jody Williams, a iraniana Shirin Ebadi, o timorense José Ramos-Horta
e as norte-irlandesas Betty Williams e Mairead Corrigan-Maguire. 
“É nossa crença que este programa não presta homenagem a ninguém e continua e expande a tradição de glorificar a guerra e a violência armada. A guerra real é mortal e suja. As pessoas, militares e civis, morrem de maneiras que são tudo menos entretenimento”, diz a carta. O texto critica ainda a estratégia de lançamento do reality show, com chamadas exibidas durante as Olimpíadas de Londres, comparando disputas esportivas ao combate armado.
 
PARTICIPANTE EXCLUÍDO

O primeiro episódio, com duas horas de duração, exibiu provas com munição e explosivos, além de exigir que os competidores saltassem de helicóptero no mar com equipamento pesado. As atividades foram supervisionadas e avaliadas por Wesley Clark, um general reformado do Exército, com lições reais para os falsos soldados. Uma das frases marcantes veio do cantor Nick Lachey, que já participou de séries de TV e começou na banda 98 Degrees:
— Nada prepara você para a batalha como uma boy band.
Também participam da disputa o ator Dean Cain, que fez o papel de Super-Homem na série “Lois & Clark”; Laila Ali, filha do ex-boxeador Muhammad Ali; e o ator Terry Crews, do elenco da série “The Newsroom”, entre outros.
O produtor Mark Burnett defendeu a iniciativa:
— Costumávamos viver com medo de países estrangeiros, e este show apresenta as incríveis pessoas que lutaram pelo país.
Antes mesmo de entrar no ar, o programa já se envolvera numa polêmica. Sharon Osbourne, mulher do roqueiro Ozzy Osbourne, acusou a NBC de discriminação ao alegar que a rede excluíra seu filho, Jack, de participar após saber que ele tem esclerose múltipla. O presidente da NBC Entertainment disse que não há discriminação, mas que o programa envolve atividade física extenuante. Além disso, ressaltou que Jack recusou dois papéis alternativos. Entretenimento ou ofensa?


Governo espanhol pede à empresa que novo videogame mostrando terroristas inspirados no ETA não seja colocado à venda, e classifica o jogo como humilhação às 857 vítimas do grupo armado

MADRI

A inclusão de um grupo terrorista inspirado no ETA num jogo de videogame indignou o governo espanhol. O delegado do governo no País Basco, Carlos Urquijo, pediu que a empresa americana Valve Corporation retire o jogo “Global Offensive”, uma nova versão da saga “Counter-Strike”, do mercado. Para Urquijo, o jogo é “um disparate absoluto” e “uma humilhação” às 857 vítimas do grupo armado. Ele disse esperar resolver a questão sem ações judiciais.
O jogo não menciona diretamente o ETA, mas a retratação dos personagens não deixa dúvidas: capuz branco, boina, inglês falado com sotaque espanhol e a denominação de “Separatistas”. O grupo é descrito como uma “facção minoritária europeia” que comete atos atrozes de terror para fazer prevalecer sua visão nacionalista por um desejo esmagador de autodeterminação. Os membros do ETA fazem parte das novidades do videogame, que oferece ao jogador a chance de se colocar também na pele de piratas somalis e grupos violentos dos Bálcãs. A saga permite a disputa de partidas com outros jogadores
pela internet. Para os que optam por ficar do lado da polícia, é possível escolher
entre o FBI, a Swat e o Grupo de Intervenção da Gendarmeria Nacional Francesa. As alternativas não incluem uma força policial espanhola. O delegado do governo se mostrou irritado com a denominação de “Separatistas”, para ele um sinal “do desconhecimento” dos americanos sobre a questão basca — embora os EUA classifiquem o grupo de terrorista.
A polêmica dividiu internautas e levou o assunto a se tornar um dos tópicos mais comentados no Twitter. Jordan Martínez, por exemplo, escreveu que pretende comprar o jogo “somente para matar membros do ETA”.
A associação de consumidores Facua pediu que o jogo elimine a simbologia do ETA por “sensibilidade e respeito à memória das vítimas e de seus familiares”. Segundo a Facua, a banalização do sofrimento e a violência neste tipo de jogo contradiz o código de conduta da indústria.

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