CRÍTICA: Multishow condena seus programas à adolescência eterna


[Publicado originalmente no site http://oglobo.globo.com/cultura/kogut/ por Patrícia Kogut]

Enviado pelo aluno João Paulo Martelletto

O baixo investimento do Multishow nos seus programas resulta num conjunto de atrações que, mesmo criadas por produtores diversos, são parecidas. A captação de som é sempre fraca, as imagens, caseiras, e o tatibitate, praticamente obrigatório. É a fundação da “estética Multishow”. Na teoria, o canal é a vitrine de oportunidade para jovens criadores. Na prática, virou uma janela que só serve para quem não quer crescer. Há uma ou outra exceção, como o “220 volts”. Mas é pouco.
Esse pacotão de atrações colegiais se divide em duas categorias: aquelas que jamais resultarão em algo de qualidade porque são fraquíssimas mesmo; e outras que teriam toda a chance de fazer a diferença na TV, mas, contaminadas por seus limitados instrumentos de produção, ficam infantis.
É o caso do “Não conta lá em casa”. A série acompanha as viagens de quatro rapazes — André Fran, Felipe Ufo, Bruno Pesca e Leondre Campos — por locais não-turísticos. As visitas têm um viés político: eles vão além das roubadas do trem da morte que liga o Brasil à Bolívia (será que esse trem ainda existe?). Nos programas no ar, por exemplo, aparecem visitando Chernobyl. Eles parecem bem-intencionados, interessados nas questões do planeta, dotados de uma curiosidade saudável etc. Parecem também estar beirando os 30. Será que ainda é hora de esconder alguma coisa dos pais, como o título indica?
“Não conta lá em casa” é tudo de bom, não fossem as imposições do baixo orçamento. Por causa delas, seus apresentadores seguem falando como adolescentes, evitando uma certa formalidade e um português sem tantas gírias que só fazem bem à TV. É a estética-Multishow se impondo e condenando quem poderia ser grande a continuar neném.

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