Publicado originalmente na Folha de São Paulo, Ilustrada
Domingo, 16 de setembro de 2012, página
Sabe aquela ex-namorada por quem se nutre algum tipo de sentimento que
não é amor? Parece ser essa a relação do ex-dirigente da MTV, André
Mantovani, com a emissora musical.
Atual vice-presidente da TV Cultura, Mantovani, que ficou por 20 anos no
Grupo Abril, quase metade deles como diretor-geral da MTV, sabe bem
quais foram os anos áureos dessa relação.
Mas, como quase todo ex, aponta sem piedade os defeitos da amada.
Mas, como quase todo ex, aponta sem piedade os defeitos da amada.
Para ele, o algoz da MTV é mesmo a internet. E não por ser um novo canal
para a exibição de videoclipes. Mantovani acha que a encruzilhada da
emissora musical está em uma questão cultural: a perda da vanguarda.
"A MTV por anos ditou tendências na cultura pop. Foi assim no tempo do
broadcasting, em que há um emissor de informação para vários receptores.
Com a internet veio a segmentação. Todas as grandes mídias perderam
força para as mídias sociais."
Foi o início de uma cultura em que as pessoas passaram a ser também
influenciadas por seus contatos do Facebook e por blogs. "A MTV não é
mais a primeira a falar aos jovens. Perdeu sua força."
E enquanto botava banca de gata mais moderninha da balada, a emissora
foi lucrativa. Mantovani conta que de 2000 a 2007, a MTV faturou muito,
sempre com um baixo custo operacional. "Nunca foi um canal de salários
milionários, não é?", ironiza ele.
Segundo o executivo, a emissora começou a dar sinais de problemas
financeiros no final de 2009. O faturamento caiu e o canal caminhava
para entrar no vermelho. "Uma hora, a conta não fecharia mais. Mas não
havia ainda o fantasma de venda."
Após ter um projeto de programação recusado pela Abril, grupo
proprietário do canal, Mantovani deixou a emissora no final de 2010.
Vieram os cortes de gastos, demissões em série e o interesse da Abril em
encontrar um comprador para a rede, negociações que ganharam corpo
neste ano, com um grupo de investidores interessado no negócio.
A Abril nega que esteja negociando a venda do canal.
"Não creio que a MTV Brasil vá acabar. As pessoas que estão lá são muito
competentes e podem reerguer a emissora", aposta Mantovani.
"Se a Abril vender a rede, a MTV americana [Viacom] pode manter a marcar
no Brasil em outro canal. Teremos outros VMBs", prevê o diretor, que
diz não querer voltar à ex, mas afirma sonhar com vida longa e feliz
para ela.
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