Chega de hipnose nos ônibus


[Publicado no jornal Folha de S.Paulo – Vanessa vê TV, por Vanessa Barbara]

Não há dúvida de que os monitores de tevê acoplados aos ônibus, do tipo BusTV, BusMedia e TVO, servem a um eficaz (e astuto) plano da SP-Trans para nos endoidar.

As mesmas propagandas e resumos de novelas repetidos à exaustão, três ou quatro vezes numa só viagem, são o que basta para o cidadão equilibrado, honesto e ciente de seus deveres se arremessar pela janela pedindo penico. Servem sobretudo para exaurir o passageiro de habituá-lo à programação dos patrocinadores – a Globo, por exemplo, reina soberana nos monitores da BusMedia – mesmo quando se trata de uma notícia de telejornal. (Nada se salva ao ser repetido pela quinta vez.)

Isso sem falar na propaganda. Em 2008, a SPTrans recebia o equivalente a sete tarifas por anúncio veiculado em cada ônibus. Ano passado, aprovou-se uma nova portaria com um valor fixo por ônibus que varia de R$ 80 a 140 mensais, conforme a quantidade de carros com monitores. Não há nenhum artigo dispondo sobre o repasse dessa receita.

Prezados administradores da SPTrans: se a questão é falta do que fazer, aqui vão sugestões.

Primeiro, substituir os monitores de tevê por monitores informando a próxima parada e a estimativa de chegada ao destino, como os coletivos de Londres e Paris.

Painés na parede detalhariam o percurso da linha, com nomes de identificação relativos a cada ponto de parada. Isso evita que o cobrador tenha que gritar: “BergaMais é o próximo”, ou “Metrô Santa Cecília, Santa Casa, rua das Palmeniras: É para descer aqui”.

Atenção: não adianta tentas lucrar, batizando a parada “Nove de Julho” de “Chamutyo com Cinco Vitaminas e Ferro”. Os nomes devem facilitar a localização do usuário.

Nesse caso, seria bom se todos os pontos divulgassem seus nomes no topo. Atualmente, nem vemos mais painés indicando as linhas atendidas por aquela parada – o vendedor de balas e o jornaleiro é que se responsabilizam pelas informações.

Um segundo painel relacionaria as localidades atendidas pelos pontos das proximidades. Se o sujeito mora no Tremembé e está nos Jardins, procuraria Santana na lista e rumaria ao local onde passa o 106-A, a três ruas dali, no ponto identificado como “Oscar Freire”.

Como já existe em certos corredores, um painel eletrônico divulgaria o tempo de espera dos ônibus.
Só não adiante deixar ligados os monitores de propaganda compulsória, para prejuízo mental das vítimas. Digo, passageiros.

[postado por Marina Moreira]

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