Em dois tempos

Adolescentes trocam de lugar com antepassados em 'Família Imperial', série do Canal Futura, criada por Cao Hamburguer

Publicado originalmente em O Globo, Revista da TV
Domingo, 7 de outubro de 2012, página 10
 ZEAN BRAVO

RIO - Iara e Lucrécia têm 14 anos, moram no mesmo endereço (na Rua do Ouvidor, no Centro do Rio) e fazem parte da mesma família. Só que 200 anos separam as duas. Enquanto a primeira vive em 2012 — e sofre bullying no colégio por ser considerada estranha e demasiadamente apegada ao passado —, a segunda enfrenta as agruras de ser adolescente em pleno ano de 1812. Insatisfeitas com suas diferentes realidades, elas trocam de lugar usando um portal secreto através de uma penteadeira mágica. E ainda rebocam seus irmãos nesta aventura.
Esse é o mote de “Família Imperial”, que estreia nesta sexta-feira, às 17h30, no Canal Futura, com Daniela Piepszyk, jovem revelada no filme “O ano em que meus pais saíram de férias” (2006), no papel das protagonistas. Com 20 episódios e voltada para o público infantojuvenil, a série tem direção-geral de Cao Hamburger.
— A gente já viu muitas vezes essas viagens no tempo na ficção. Mas um antepassado vir para o presente e ficar no lugar da protagonista, que foi parar no passado, não é algo ainda muito explorado — acredita o realizador.
Depois de conceber a série “No estranho planeta dos seres audiovisuais” (2009), para o Futura, o diretor de “Castelo Rá-Tim-Bum” (1995), volta a mirar no público infantojuvenil. Criado por Hamburger, Mariana Trench e Teo Poppovic (da produtora Primo Filmes), este novo trabalho surgiu a partir de uma encomenda da gerente-geral do canal, Lúcia Araújo. O roteiro levou mais de oito meses para ser finalizado.
— Ela queria falar sobre príncipes e princesas no Brasil. E deste período da História que é pouco retratado na TV, principalmente para as crianças — conta Débora Garcia, gerente de Conteúdo e Mídias Digitais do Futura.
Hamburger teve a ideia de promover a troca entre as duas jovens de tempos distintos na trama, que contou com a consultoria da antropóloga e escritora Lilia Moritz Schwarcz.
— Foi o jeito mais bacana que achamos para falar sobre esse período do Brasil Imperial. Estávamos mais interessados em mostrar os costumes da época ao fazer essa costura entre os dias atuais e os do passado. Mas com humor. E tivemos essa liberdade — explica o realizador, envolvido agora na criação e supervisão artística do seriado adolescente “Pedro e Bianca” para a TV Cultura.
Em “Família Imperial”, ele dividiu a direção dos 15 episódios de ficção com Gabriel Barros e Teo Poppovic.
Já Rafael Gomes dirigiu os cinco capítulos definidos como os de “recapitulação”. Mais didáticos, eles usam cenas da série para contextualizar o período retratado através de entrevistas com historiadores.
— A trama tem alguns saltos no tempo e não dava para parar a narrativa a toda hora. Senão ficaria com cara de aula. Mas como o canal tem uma função específica, resolvemos fazer esses episódios de recapitulação para comentar melhor os grandes momentos históricos — acrescenta Débora.
Enquanto Lucrécia descobre o futuro na companhia do irmão, Alphonso (Caio Horowicz), Iara também se depara com outros costumes, ao lado do irmão, Jonas (também feito por Caio).
No primeiro episódio, Iara deixa clara a sua aversão por computadores e celulares (objetos de paixão de Jonas). A jovem, que se veste de um jeito antiquado para a sua idade e é chamada de ‘Garota Naftalina’ pelas colegas do colégio. Vindos de São Paulo para o Rio, os dois vão viver no Centro da cidade quando o pai da dupla herda um antiquário. Depois de viajar no tempo, os irmãos passarão por momentos importantes da História, como a chegada da Família Real (1808), a Independência do Brasil (1822), e a Proclamação da República (1889).

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