[publicado em Folha de S. Paulo, Ilustrada- Vanessa Vê TV por Vanessa Barbara]
Nas últimas semanas, muito se falou da tela azul da Record
News, um fenômeno de audiência que tem marcado em média 0,5 pontos (cada ponto
corresponde a 60 mil domicílios).
Como o final da emissora é gerado em Araraquara (interior
paulista), ela não é obrigada a exibir horário eleitoral gratuito da capital.
No entanto, por ser aberta, não pode colocar nada no lugar. Então veicula, duas
vezes ao dia, por meia hora, um slide azul muito vivo e estático, avisando que
se trata da faixa reservada à propaganda política.
A cerúlea imagem tem angariado mais espectadores do que
certas emissoras no mesmo horário, e mais do que a própria Record News costuma
obter com sua programação policromática.
A raiz desse fenômeno está no hábito de mudar de casal
quando começa o horário eleitoral. Em busca de uma rota de fuga, quem não
possui TV a cabo acaba sintonizando na tela azul, e por lá o aparelho permanece
até que a programação volte ao normal. É como um alarme da hora da novela.
Tenho acompanhado as peripécias da efígie celeste com grande
afinco, não por aversão à propaganda política, que é bem divertida, mas por ter
plena convicção de que se trata de uma das coisas mais interessantes que a
televisão apresentou nos últimos tempos.
A tela azul, por exemplo, não teria coragem de começar um
telejornal com observações engraçadinhas e trocadilhos espirituosos sobre o
trânsito da cidade. A tela azul não oferece reviravoltas inverossímeis ou
atuações vergonhosas como nas novelas, tampouco exibe imagens do Planalto
mato-grossense em especiais sobre plantas que curam.
Naquele cárdeo retângulo, nenhum comentarista esportivo fala
platitudes no show do intervalo nem há mulheres dançando em maiôs de zebra
enquanto o auditório bate palmas.
A tela azul não desbota nem cede dégrade só porque os níveis
de audiência baixaram de repente.
A tela azul não tira a camisa nem conta piadas quando os
produtores assim o determinam. Não dá prêmios aos primeiros que telefonarem e
não tenta empurrar produtos de ginástica ou tônicos capilares aos espectadores,
que tampouco precisam se submeter a sofríveis dicas de saúde e fofocas de
celebridades.
Sem locuções melosas em “off”, a tela azul é uma bela
surpresa na televisão brasileira.
[postado por Marina Moreira]
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