Este é o quarto da série de resumos dos seminários realizados pela turma de TV e Vídeo 2012.1. O presente trabalho foi produzido por Camilla Laterce, Diogo Mourão e Victor Narciso.
Podemos
definir webséries como um dos programas apresentados dentro do movimento
chamado Web Televisão, onde se pode assistir programas exclusivamente feitos
para serem assistidos por mídias online, seja no seu computador, celular, ou
qualquer outro aparelho que tenha conexão a internet. Pode-se dizer, também,
que a primeira websérie feita foi o ‘The Spot’, em 1995, que se encaixava mais
como novela em termos de tom, mas estabeleceu o conceito do que seria uma
websérie.
Com o boom da
Internet durante a década de 2000 e a ampliação das formas de se ganhar
dinheiro pela internet e a certa facilitação de espalhar seu material para todo
o mundo, as webséries cresceram muito na última metade da década passada, mas
ainda não eram vistas como uma opção de alcance comercial, cenário que nos
últimos tempos tem mudado devido as novas oportunidades que vem surgindo.
Porém, mesmo
com as narrativas tão diferentes que podem ser desenvolvidas nessa “nova”
plataforma, algumas são inerentes à produção voltada para a web como,
principalmente, a duração. As webséries que querem fazer sucesso e conquistar
um público assíduo tem que segurar aqueles que estão assistindo logo nos
primeiros segundos. Com o dinamismo da rede internacional de computadores,
criou-se um novo tipo de “zapping”, onde você não apenas varia de canal até
achar algo que te traga atenção, você descarta aquilo que não te atraiu e
simplesmente não vai passar nem mais na página daquilo que não o agradou,
diferentemente da televisão, onde, mesmo o telespectador não parando em um
determinado canal, aquela programação estará sempre ali, independente da
frequência com que é distribuído nesta na grade, podendo em uma outra
oportunidade atrair a mesma pessoa que uma semana atrás descartou assistir
aquilo em detrimento de outro programa.
Mesmo com esse
fator de atração, o público brasileiro, ainda não perfeitamente ajustado às
séries via web, ainda faz com que as produções brasileiras não passem de 10
minutos por episódio, assim dialogando com a relação de tempo entre a navegação
padrão por diferentes páginas dos usuários da internet.
Com o
crescimento do Youtube e sua constante evolução na maneira de como ela faz
propaganda e lucra com isso, e com os projetos de locadoras online, como, por
exemplo, a Netflix, há muitas maneiras de se colocar uma web serie no ar. Seja
na base de crowdfunding, parceria com patrocinadores, e até mesmo com venda de
produtos próprios, para que a pequena iniciativa se concretize e quem sabe dê
frutos que vão além da internet.
Também é sábio
pensar em qual será seu publico alvo, já que mesmo com toda sua peculiaridade,
os produtores das webséries precisam saber em quem focar para agradar um
público inicial para que, a partir dele, consiga sua divulgação com o público
potencial restante. Em caso de vídeos branded-content, que mesmo contendo uma
história especifica, o objetivo é o anunciante mostrar seu produto, a
estratégia é a mesma, porém o cuidado será duplo, para que o conteúdo da série
não pareça apenas um merchandising estendido, já que, pelo menos no primeiro
momento, o público deve se interessar pela narrativa da websérie e depois
enxergar o produto “vendido”. Um exemplo de sucesso dessa empreitada foi a
série ‘Caçadores de Energia’, feita pelo Guaraná Antártica em parceria com o
‘Chá de Ideias’.
No fim das
contas, o futuro do formato de webséries é incerto. Se por um lado tem mais
liberdade do que fazer e ir diretamente ao seu público alvo sem intermediários,
em certos termos ainda é muito preso pelo o que a TV faz, fazendo com que
muitos dos produtores pensem em uma expansão para a tela maior, o que não
necessariamente acompanha um interesse dos canais em investir na continuação
dessa “web história” nas suas grades, já que muitas vezes a quantidade de
dinheiro investido não possui uma garantia de que o público dos computadores
migrará juntamente para assisti-las nas TV’s aberta e fechada. Além disso, muitas
vezes os canais não estão dispostos a abrir sua grade para programas que sejam
feitos por produtoras independentes, fazendo com que a adequação dos interesses
do canal com os da produtora acabe por influenciar em alguns aspectos da
adaptação, o que pode acarretar em uma desconfiança do público de origem da web
com o produto final exibido em outras mídias mais tradicionais.
Webséries Brasileiras: Panorama de
algumas produções atuais
As webséries
brasileiras tentam se expandir para tornar mais um eixo da produção audiovisual
nacional, mas dependendo do seu objetivo, sua realização ainda apresenta
barreiras que parecem ser intransponíveis para a maioria das séries mais
ambiciosas.
Pode-se dizer
que o gênero mais fácil de ser realizado são as comédias juvenis. Utilizando
histórias que se valem mais de narrativas e estruturas simples e menos dos
efeitos, além de uma duração muitas vezes inferior a de outros tipos de séries,
essas séries conseguem manter mais do que outros gêneros sem precisar
necessariamente visar uma migração de mídias. Essa maior simplicidade de
produção acarreta em uma maior facilidade de financiamento, já que seu custo
tende a ser mais barato e seu retorno de visualização muitas vezes é garantido,
já que seu público alvo são os maiores consumidores de séries na internet: os
adolescentes.
Já aqueles que
pretendem seguir um caminho mais próximo às histórias de ficção científica,
terror, etc. encontram problemas para dar seguimento com os projetos. Com seu
custo mais elevado, os problemas para conseguir um canal que leve a série das
telas dos computadores para a televisão ou um financiador para estimular sua
continuidade na internet se torna um feito difícil de ser conquistado, engavetando
ótimos roteiros. Algumas histórias mesmo com um grande número de visualizações
nos sites de divulgação de vídeos, não conseguem se manter, graças aos seus
efeitos que encarecem a produção, sejam esses custos de produção ou
pós-produção.
As
dificuldades de divulgação também são desafio comum para todos no Brasil: com
um público ainda muito limitado no país e com a falta de integração com os
canais de TV aberta ou fechada, a maioria da web séries brasileiras acaba sendo
divulgada pelo boca a boca daqueles que já acompanham esse estilo de produção
desde antes da expansão para o Brasil ou dos espectadores mais atuais e por via
das redes sociais, como Facebook e Twitter. Trabalhando dentro dessa realidade
brasileira, talvez uma solução para que essa divulgação fosse melhor seria uma
integração maior dos produtores de webséries, divulgando tudo o que fosse
possível de ser filmado no país.
Em relação ao
apoio governamental a essa produções voltadas para a web, este ainda se
encontra em fase embrionária. Em 2010, a Prefeitura de São Paulo, por meio do
Programa de Fomento ao Cinema, ofereceu um edital para desenvolvimento de
projetos de webséries, cujos filmes escolhidos a partir deste receberiam um
aporte de até 40 mil reais para cada uma das séries, em um regime de
co-patrocínio. Ainda que seja uma quantia bastante reduzida, dependendo do
projeto, é um começo e um incentivo para que essas ações se tornem mais
corriqueiras e espalhadas pelo país. No governo federal, algumas obras ainda
conseguem que seus projetos sejam agraciados com alguma quantia de dinheiro,
mas como o edital paulista, ainda não é suficiente para garantir a
sobrevivência futura da websérie.
Quanto ao
conteúdo transmídia, as séries ainda encontram uma grande dificuldade de se
expandir para outros meios e mídias. Com um leque de possibilidades reduzido em
relação às TV’s aberta e fechada e ao cinema, já que o fluxo de expansão
geralmente acontece de “cima para baixo”, vindo das grandes telas para as
menores, as webséries não encontram muitos meios para constituir uma maior gama
de possibilidades de interatividade. Um exemplo de série bem sucedida neste
aspecto é a “ApocalipZe” que contou com o lançamento de um história em
quadrinhos como uma extensão do conteúdo da produção e está com um projeto de
game a partir da história da série. Com exceção desta, entretanto, quase
nenhuma história conseguiu sair das telas do computador para outras mídias.
Vamos agora
dar um panorama de algumas séries que compõe o mercado de webséries
brasileiras:
3%
Série de ficção científica que conta a história de um futuro
onde o mundo é dividido em um lado ruim e um bom, e a única oportunidade de se
passar do ruim para o bom é em um processo seletivo onde somente 3% dos
postulantes entram, isso sem contar que a única chance de entrar é quando as
pessoas tiverem vinte anos. Lançada em 2010 e com inspiração nas produções
americanas, a série conseguiu um financiamento de 250 mil reais para iniciar
sua produção e foi vencedora da Mostra Competitiva de Pilotos Brasileiros do
Festival Internacional de Televisão, o FITV.
Sucesso absoluto apenas com o primeiro episódio – mais de
6.800 inscritos no canal - “3%”, usou como uma de suas bases, uma pesquisa que
apontava o trabalho como um dos maiores medos dos jovens das classes C, D e E.
Embora sendo um grande sucesso e tenha sido indicada pela MTV
como uma das cinco melhores webséries de 2011, a série ainda aguarda um
financiador que viabilize a realização da primeira temporada (já que o piloto é
uma compilação dos três episódios iniciais) ou um canal que esteja interessado
em levar a série para a televisão.
Heróis
Série que
foi filmada com o objetivo de ser um média metragem, para conseguir se
beneficiar da Lei Rouanet, foi “transformada” em websérie para conseguir uma
maior visualização, já que o formato original não é de fácil veiculação nem em
canais de televisão nem em cinemas. Contando uma história que mostra alguns dos
brasileiros que lutaram na Força Expedicionária Brasileira na II Guerra
Mundial, a série conseguiu também o apoio do Exército Brasileiro.
O primeiro episódio
da série contou com mais de 43 mil visualizações no Youtube. Os demais com uma
média de mais de 10 mil visualizações e sua qualidade técnica irretocável foi
reconhecida também pela MTV que a colocou como uma das cinco melhores web
séries de 2011.
O dêmonio não sabe brincar
Série que
foi uma das vencedoras do edital de fomento de webséries da Prefeitura de São
Paulo, O Demônio Não Sabe Brincar é uma história que envolve suspense e terror
para contar a história de uma mãe que recebe a ajuda do Demônio para recuperar
a guarda de seus filhos.
Mesmo
tendo apenas um episódio piloto, a série conseguiu também o reconhecimento da
já citada seleção da MTV e teve mais de 14 mil acessos no Youtube. Já tendo
outros seis episódios que formariam a primeira temporada, os produtores estão à
espera de um investidor que aposte na continuação da história na internet ou
interessados para levá-la para os canais de TV aberta ou fechada.
Lado Nix
Voltada a um público fã de histórias em
quadrinho, videogames, e da cultura pop em geral, Lado Nix conta com sua
protagonista, Nix, que encara os problemas de sua vida relacionando-a com esse
outro universo. Com uma série de efeitos especiais, a série possui uma
estrutura que fez muito sucesso na internet com quase 120 mil visualizações no
Youtube em seu primeiro episódio.
A produtora, Mambo Jack investiu suas
próprias economias na produção da série, acreditando no formato original e
atrativo desta, mas há também a ambição de levá-la para a tela da TV ou cinema,
mas se utilizando da mesma linguagem e duração que torna a websérie de fácil
acesso.
#E_VC? e Armadilha
Ambas as séries também se utilizam da
aproximação com o público adolescente, com uma temática que envolve as dúvidas
recorrentes na vida dessa faixa etária como dúvidas sobre o futuro,
infidelidade, etc. e que mantém uma estética mais próxima da linguagem da
internet, com aproximação dos Vlogs da web.
Com essa estrutura mais acessível, estas
webséries conseguem sobreviver com menos custos de produção e conseguir até
mais visualizações do que outras histórias mais ambiciosas, tendo assim como
objetivo maior se manter na internet, não precisando de uma expansão para as
mídias mais tradicionais para fazer sucesso ou viabilizar sua continuidade.
Bibliografia
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