Herdeira do conglomerado diz estudar participação
em SBT e Rede TV!; emissoras negam
Publicado originalmente em O Globo, Digital & Mídia
Sábado, 27 de outubro de 2012, página 38
RENNAN SETTI
Onipresente em países latino-americanos
de língua espanhola, o gigante venezuelano de mídia e entretenimento Cisneros
não quer desperdiçar as oportunidades que agora se abrem no Brasil, o país da
região onde sua presença é mais fraca. Adriana Cisneros, vice-presidente e
herdeira do conglomerado, esteve no Rio há duas semanas para participar de um
evento de start-ups e, entre outras missões, encontrar o “parceiro certo” que
lhe permita ingressar no mercado brasileiro de TV. Ela admite que essa chegada
poderia se dar por meio de parceria com SBT ou Rede TV!.
— Quando digo que estamos considerando
todas as possibilidades em redes de TV no Brasil, pode-se concluir que essas
duas empresas estão, sim, na lista — disse Adriana, em entrevista ao GLOBO. —
Historicamente, é difícil comprar uma TV no Brasil sendo estrangeiro. Então,
precisamos da parceria certa, e também deve haver boa vontade do governo. E
essas mudanças estão começando a acontecer.
O grupo SBT informou, porém, que não
está à venda. E a Rede TV! disse que mantém boas relações com o grupo Cisneros,
mas não está em negociações.
negociação com eike
Em 2002, uma emenda constitucional
passou a permitir que estrangeiros tenham capital em empresas de comunicação, o
que era proibido. Mas a participação pode ser, no máximo, de 30% — daí a
necessidade de um sócio local. Eike Batista já admitiu a um site que estaria
interessado no SBT, enquanto nota publicada há algumas semanas no jornal “O
Dia” dizia que, na verdade, ele tentava comprar a Rede TV!.
— O problema de você ser um dos homens
mais ricos do mundo é que todos acham que você vai comprar tudo no mundo —
brincou a executiva, desconversando sobre a possibilidade de o homem “X” ser o
parceiro em questão.
Se ocorresse, seria um casamento de
bilionários. Fundada em 1929 em Caracas pelo avô de Adriana, Diego Cisneros, a
empresa evoluiu de um pequeno negócio de transportes para uma das maiores
corporações midiáticas de capital fechado do mundo. Seu conteúdo atinge 550
milhões de pessoas em mais de cem países. Segundo a revista “Forbes”, o pai de
Adriana, Gustavo Cisneros, é o homem mais rico da Venezuela e o 255º do mundo,
com uma fortuna de US$ 4,2 bilhões.
NOVA CLASSE MÉDIA
Aos 32 anos, Adriana integra a terceira
geração da família na empresa. De Nova York, onde mora, Adriana também dirige
outros braços da companhia, como a Tropicalia, um resort com apelo sustentável
na República Dominicana, e a fundação educacional sem fins lucrativos que leva
o nome da família. No Brasil, o grupo esteve presente sobretudo com o provedor
de internet AOL e com a rede de TV por assinatura DirecTV, na qual tinha
participação. Aliás, segundo ela, o grupo também busca parceiros no Brasil no
setor de TV paga.
O que tanto atrai os olhos de Adriana
para o Brasil é a convergência entre classe média pulsante, universalização dos
serviços bancários e a ubiquidade da tecnologia na vida das pessoas. Ela
percebe o momento como “um ponto de inflexão em que todos deveriam estar
focados”.
Tecnologia parece ser um de seus
assuntos favoritos. E não é à toa: Adriana lidera na empresa a transição da
mídia tradicional para a digital. Um dos seus compromissos no Rio é participar
de evento da aceleradora carioca de start-ups 21212, onde é mentora de duas
jovens empresas.
— Queremos ser a parceira estratégica
em língua espanhola para as empresas digitais brasileiras. Sendo nossas
parceiras, podemos ajudá-las a ganhar relevância regional, entrando em países
como Argentina e Chile — disse.
Jornalista com graduação e mestrado
pela Universidade Columbia, em Nova York, Adriana fala sobre essa mudança no
universo da mídia com entusiasmo de estudante. Mas um assunto lhe fecha o
sorriso: Como é a relação entre os Cisneros e o governo do presidente
venezuelano Hugo Chávez, com quem já tiveram rusgas públicas no passado?
— Bem, nós ainda estamos lá, não
estamos?
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