Mais três profissionais morrem atingidos por
bombardeios, enquanto colegas tentam trabalhar
Publicado originalmente em O Globo, Mundo
Quarta-feira, 21 de novembro de 2012, página 33
FERNANDO EICHENBERG
A mídia local em Gaza foi alvo duas
vezes de bombardeios israelenses. Os dois ocorreram na mesma madrugada, no
bairro al-Rimal: à 1h30m, quatro mísseis atingiram o prédio Alshaw Hosary,
deixando estragos e feridos; às 6h, foi a vez do edifício Shoroq, com uma
vítima. No primeiro, as escadas ainda guardam manchas de sangue, estilhaços de
vidro. Nos andares atingidos, muitos escombros. Nas salas preservadas,
jornalistas continuam seu trabalho após a morte de três colegas ontem, alvo de
ataques aéreos israelenses.
Com sua família morando em Rafah, Emad
Aied, da Alamanav TV, dormia em seu estúdio, no quinto andar, quando a primeira
explosão eclodiu, no 11º. Sua primeira reação foi fugir, mas, quando ouviu os
gritos de pedido de ajuda de seus colegas, subiu para socorrê-los. Foi então
que caíram o segundo, o terceiro e o quarto mísseis, e mesmo a ambulância que
havia chegado foi atingida.
- É surpreendente, é a primeira vez que
Israel ataca a mídia. Na primeira guerra, há quatro anos, não houve ataques
diretos assim. Acredito que a nossa cobertura da guerra é indesejável, porque
as mortes provocadas por seus mísseis aumentam a cada dia que passa - conta.
Emad diz ainda estar vivendo as
memórias da guerra anterior.
- Especialmente depois que atingiram a
minha casa. Construí uma nova, que foi também destruída. Não é algo fácil de
esquecer. Isso agora traz de volta essas recordações.
Enquanto conversava, seu telefone
celular tocou. Após alguns segundos, desligou, e anunciou:
- Em dez minutos, ocorreram mais quatro
mortes por causa dos bombardeios.
Sua esperança de um cessar-fogo
imediato é inferior ao estrondo diário das explosões ecoadas pela cidade:
- Não acredito nessa negociação com o
Egito. Só vou acreditar mesmo quando os bombardeios acabarem.
Ferido em um dos ataques, o repórter
Shuaib Abu Jahal, 28, estava acostumado a dormir no segundo andar por causa da
cobertura da guerra e percebeu colegas com ferimentos descendo pelas escadas.
Na tentativa de ajudá-los, também foi atingido nas mãos e nas pernas por
destroços que tombaram. Já recuperado, está de volta à reportagem.
- Os jornalistas se tornaram também
alvo desta guerra. Acho que porque, com a experiência adquirida desde o último
conflito, passamos a entender melhor as ações e a estratégia do Exército
israelense. Mesmo em Israel há quem diga que a mídia palestina é melhor do que
a israelense.
Shuaib define esta guerra como “muito
esperta”, com estratégias psicológicas, sustentadas em ataques sem hora para
acontecer, deixando as pessoas preparadas para morrer a qualquer momento. Pelo
lado de Gaza, sua opinião sobre o Hamas é dividida:
- Sou contra os governos da Irmandade
Muçulmana, e também contra este. Mas nesta guerra eu estou ao lado dele, porque
Israel é contra toda a Faixa de Gaza, não apenas contra o Hamas. Discordo
politicamente do Hamas, mas concordo com sua resistência. Diria que são
melhores na luta do que em governar.
Seu desejo é o de uma negociação para o
cessar-fogo, mas não sob qualquer condição:
- Não quero perder a nossa terra com as
negociações. Mas quero a negociação. Todos queremos uma vida em paz.
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