‘Asylum’ renova fórmula de série usando antigos fantasmas



Publicado originalmente no site: http://kogut.oglobo.globo.com/noticias-da-tv/critic

Terça-feira, 8 de janeiro de 2013, 07h00

Patricia Kogut

“Dominique”, canção que conta a história do frade que fundou a ordem dominicana, é a trilha principal da segunda temporada de “American horror story”, no ar atualmente no FX. “Dominique nique nique” fica martelando na cabeça do espectador mesmo depois do fim de cada episódio, um eco compatível com a confusão mental que reina no Briarcliff Institution, hospício onde a ação é ambientada. A música foi muito popular nos anos 60, cantada pela Sœur Sourire, uma freira belga. A letra fala do périplo dele, monástico, sempre a pé (“il parcourt l'Europe à pied/Scandinavie ou Provence/dans la sainte pauvreté”), “levando a palavra de Deus e a vida e a verdade”.

Na primeira temporada, a série abordou aquilo que assombra a sociedade americana contemporânea (o preconceito contra casais gays que querem adotar uma criança; assassinatos em série em escolas secundárias por adolescentes sociopatas; o aborto de um ponto de vista ultraconservador; a autoridade paterna questionada e os filhos que não são ouvidos em casa; o suicídio adolescente). “Asylum” volta atrás no tempo, mas mantém o foco nos fantasmas, que, em 1964, eram outros. A força da religião e o medo do pecado estão presentes o tempo todo, já que a instituição é dirigida por uma freira, a irmã Jude (Jessica Lange). Desta vez, o lesbianismo clandestino, o anti-semitismo, o medo da KGB (era a plena Guerra Fria) estão lá. Um casal inter-racial cujo amor acaba mal é a expressão da luta do Movimento pelos Direitos Civis, outro tema da época.

Com esse deslocamento na cronologia histórica, os roteiristas acharam uma saída muito inteligente para evitar a repetição da fórmula. Se cada tempo tem seus espectros, o repertório fica vasto. Em “Asylum”, a série divaga mais pelo delírio, aproveitando a atmosfera de hospício. Por esse aspecto, perde um pouco na comparação com a temporada anterior. Seres de outro planeta, por exemplo, são personagens de filmes de terror B que não precisariam estar aqui. Mas há, em contrapartida, um investimento maior no clima erótico. Agora, ele toma conta do programa. A mistura de sexo com horror torna a trama mais interessante.

“American horror story”, ao contrário de muitas outras atrações, se mantém atraente na segunda temporada. Merece a sua atenção.

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