Dramaturgia, merchandising social, História e ‘Lado a lado’

 

Novela das 6 e a propaganda social


Publicado originalmente no site: http://kogut.oglobo.globo.com

Quinta-feira, 3 de janeiro de 2013, 06h40

Patricia Kogut

Como fazer merchandising social numa novela de época? João Ximenes Braga e Claudia Lage, autores de “Lado a lado”, encontraram uma maneira. Tolerância religiosa será o tema deles. “Basta acompanhar os jornais, tem havido muitos episódios de perseguição a terreiros de umbanda e candomblé”, lembra Ximenes. Por isso, a personagem de Zezeh Barbosa, tia Jurema, vai ser presa por praticar “jogos de adivinhação”. “Era uma lei da época. Isso era considerado um atentado contra a saúde pública, apesar de a Constituição já prever liberdade religiosa. A ideia é aproveitar a popularidade do personagem e o carisma da atriz para chamar atenção para o desrespeito e os ataques que continuam acontecendo”, continua ele.

“Lado a lado” começou ambientada na época da gestão de Pereira Passos (1902 a 1906) e segue na primeira década do século passado. Mostrou o Bota Abaixo e suas consequências — a formação das favelas nos morros cariocas. Além disso, retrata a vida dos abastados na Rua do Ouvidor. Isso numa hora em que o Rio está repensando seu desenho urbano, com áreas em fase de revitalização. Os assuntos que dizem respeito à cidade são um grande exemplo de conexão da novela com o presente.

Você pode ser ou não simpático à ideia de merchandising social na ficção. Nesse caso — em que se fala de preconceito religioso — o tema soa natural. Não parece uma daquelas campanhas postiças implantadas à força numa história. O assunto faz sentido em “Lado a lado” dada a época em que sua ação é ambientada. Que essa trama venha a funcionar como merchandising social é uma mera consequência. A novela pode sensibilizar o público já que a praga do preconceito, infelizmente, segue sintonizada com o noticiário de hoje.

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