"O Canto da Sereia" dribla os clichês da Salvador esfuziante



Publicado originalmente no site: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada

Sexta-feira, 11 de janeiro de 2013,  04h02

Crítica feita por Tony Goes

De vez em quando -geralmente no começo de janeiro-, há um alinhamento planetário que favorece a dramaturgia da Globo. Livres da embromação necessária às novelas, assim como da obrigação de alcançar índices estupendos de audiência, os talentos da emissora costumam produzir programas excelentes.

É o que provavelmente acontecerá com o "O Canto da Sereia", que termina hoje. Em quatro capítulos, a série urde uma interessante trama policial recheada de referências a personagens verídicos.

Nelson Motta escreveu o romance que serviu de base para o roteiro depois de dirigir um show de Daniela Mercury e se maravilhar com o carnaval baiano.

A trama do livro -o assassinato de uma estrela de axé em pleno trio elétrico- remete a um caso real ocorrido em 1995, quando a cantora americana Selena foi morta pela presidente de seu fã-clube.

Os muitos suspeitos da morte de Sereia (Isis Valverde) também lembram figuras de carne e osso. Há um governador da Bahia que atende pelas iniciais de seu nome ("Jotabê"), assessorado por um marqueteiro chamado "Tuta". Para bom entendedor

A Globo tomou a precaução de escalar atores que não se parecem fisicamente com seus avatares da vida real. Alguns acabaram de ser vistos em "Avenida Brasil", e, ainda assim, fazem o espectador se esquecer de seus personagens naquela novela.

Claro que nem tudo é perfeito. Isis Valverde, por exemplo, até que canta bonitinho, embora nem de longe tenha a potência pulmonar de uma Ivete Sangalo. Mas o próprio texto ameniza este "defeito": Tuta (Marcelo Médici) comenta que a moça compensa a voz pequena com "tesão".

O programa tem uma fotografia fria e um tom melancólico que escapam do clichê de uma Salvador esfuziante. Agora é torcer para que este pico de qualidade se repita mais vezes em 2013.

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