‘Salve Jorge’ e a difícil missão de manter a verossimilhança

Originalmente publicado na Coluna de Patricia Kogut, Jornal O Globo

Segunda-feira, 07 de janeiro de 2013






PATRICIA KOGUT


Na última semana em “Salve Jorge”, Théo (Rodrigo Lombardi) foi atropelado por um ônibus ao salvar o filho de Morena (Nanda Costa). Depois de abalroado pelo veículo, ele caiu desmaiado no asfalto e acabou, sem esboçar reação, socorrido por uma ambulância. Apenas duas cenas adiante, apareceu saltitante em casa, atrás do menino. A única vítima do acontecido parecia ser a sua camisa, rasgada aqui e ali.
Poucos dias depois, Morena e Jéssica (Carolina Dieckmann), traficadas para a Turquia, puseram em andamento um plano de fuga. Num quarto de hotel onde atenderiam poderosos clientes da rede internacional de prostituição, bateram numa camareira e roubaram seu uniforme. Jéssica escapou usando a roupa da moça. Esta, quando despertou de seu desmaio, só notou que estava vestida com um minivestido com paetês muito tempo depois. Desesperada para deixar o hotel, Jéssica foi atrapalhada por uma hóspede histérica. A mulher estava no corredor à cata de uma arrumadeira. Sem alternativa, a fugitiva atendeu aos apelos de organizar o pandemônio no quarto. Jéssica também não conseguiu sair de um elevador, possivelmente o único do mundo sem sensor num prédio moderno. Mas ficar presa no elevador não é nada: sua captura já parecia inevitável porque a Istambul de “Salve Jorge” é menor que São João Del Rey.
A trama é cheia de, digamos, licenças poéticas. Mas sua realização não vem ajudando. As novelas não precisam ser realistas, porém, para que o público embarque na história, não podem prescindir de algum sentido sob risco de perderem a credibilidade. “Salve Jorge” vem acertando mais ao tratar do tráfico humano com os depoimentos reais e com o núcleo de Aisha (Dani Moreno).

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