A importância da marca do autor de telenovelas


Publicado originalmente no Portal do Jornal O Globo, Coluna de Patricia Kogut

Quinta-feira, 30 de janeiro de 2013

 
 
PATRICIA KOGUT

Papa dos roteiristas de cinema e TV nos EUA, Robert McKee está no Brasil para dar um curso na Globosat. Ele falou ao repórter do “Estado de S.Paulo” João Fernando e o que disse merece uma reflexão. Perguntado sobre as repetições de tramas que ocorrem nas novelas brasileiras, detonou aquilo que, para nós, é um valor intocável: a marca autoral.
“Posso estar me enganando, mas vocês tendem a ter um autor dominante”, observou. “Talvez, ele tenha alguns assistentes, que são só assistentes, que pulem os diálogos e tapem buracos. No sistema americano, é uma equipe que tem mais igualdade. Há um responsável, que ajuda a colocar na forma. Eles não são autores assistentes. Não há um autor. Nos EUA, a série tem de ser boa. Eles não ligam para as contribuições pessoais, o trabalho é o que importa. Vejo que os egos dos autores atrapalham, do tipo ‘se não for ideia minha, não vai para a tela’. Se você tem ideias para preencher, pode ter bom material. Senão, você ficará repetitivo. Tem de dar a oportunidade aos outros”, encerrou.
McKee se refere a um esquema adotado para a criação de séries, que é a especialidade deles. Aqui, a expertise está nas telenovelas. As repetições existem e muitas vezes se confundem com a assinatura desse ou daquele autor. Em miúdos, falta de imaginação e estilo parecem — mas não são — uma só coisa.
Na televisão brasileira, a aposta em novos autores tem se mostrado positiva, o que não desmerece quem está aí há anos. João Emanuel Carneiro, Filipe Miguel e Izabel de Oliveira; e Thelma Guedes e Duca Rachid contribuíram para revigorar o gênero sem deixar de lado a marca autoral, o que leva a crer que a teoria de McKee não se aplica tanto assim às nossas telenovelas.
Aqui vale um parênteses para contar uma curiosidade. Durante o coquetel em homenagem a ele, oferecido na Globosat, McKee disse que adorou a novela “Avenida Brasil” (assistiu a alguns dos capítulos) e confessou publicamente (durante o seminário): “Caramba, este cara (João Emanuel Carneiro) leu o meu livro!”. Foi só elogios aos personagens, ao ritmo e, principalmente, ao roteiro.
Voltando à vaca fria, o sistema que ele defende é totalmente industrial, avesso ao artesanato. E a televisão brasileira é uma indústria poderosa. Um caso a se pensar.

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