A TV paga cresceu. Que, com isso, sua qualidade não encolha



Publicado originalmente no site: http://kogut.oglobo.globo.com

Quinta-feira, 31 de janeiro de 2013, 09h00

Patrícia Kogut


De acordo com uma reportagem de Mônica Tavares publicada esta semana no caderno de Economia, o Brasil bateu a marca de 16,2 milhões de residências com TV por assinatura, um aumento de 27% em relação ao ano anterior. Segundo a Anatel, considerando o número médio de pessoas por domicílio (3,3 pessoas, cálculo do IBGE), a TV paga alcança 53,4 milhões de brasileiros.

Quem viu o serviço chegar, nos anos 90, sabe o barulho dessa movimentação. Ela vem significando mais acesso a informação, programação variada e democratizada e um monte de outros benefícios. Mas as contrapartidas são de cortar o coração de seus mais antigos adeptos: a abolição das legendas em favor da dublagem e o escanteamento dos canais ditos étnicos — BBC, RAI, TV5 etc — para locais remotos do line up.

A reportagem informa ainda onde, no mapa, o serviço mais avançou. As regiões campeãs foram a Nordeste (1,939 milhão); a Centro-Oeste (mais de 1 milhão de novas assinaturas); Norte (696 mil); e a Sul (579 mil). Faz sentido, já que o Sudeste, pioneiro, tem menos freguesia nova a ser conquistada. As operadores locais, como se sabe, com pequenas variações, vendem os mesmos pacotes oferecidos pelos negociantes de cabo mais poderosos. Ou seja: de Norte a Sul, os pacotes se assemelham. A palavra “pacote” dá a ideia de uniformidade. Ela indica que as diversidades culturais regionais jamais serão contempladas. Isso significa que a televisão paga, quanto mais poderosa ficar, mais voltada para a massa se tornará. Se no Rio e em São Paulo já sobra pouco para aquele pobre assinante com gosto mais idiossincrático, imagina no interior.

TV por assinatura para todos é bom. Mas só se a força do mercado não anular o valor do gosto individual. E que as legendas, ainda que em alguns horários, continuem a existir.

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