Seminário I: Minissérie Brasileira e Adaptações Literárias



Universidade Federal Fluminense
Cinema e Audiovisual
Tv e Vídeo
Professor: Felipe Muanis
Grupo: André Rojas, Camila Oka, Luiz Fernando Wlian




Minissérie Brasileira e Adaptações Literárias

Minissérie: formato televisivo que consiste em narrativa folhetim, de curta duração (geralmente com o número de episódios pré-estipulados).

Os principais pontos que distinguem o formato minissérie de outros formatos narrativos na televisão, em especial a telenovela, são (além de sua curta duração):

- Narrativa fechada desde a pré-produção;

- Cuidado com a produção, que geralmente é de melhor qualidade;

- Centralização em personagens e ações específicas (ao contrário das novelas, que tem muitos núcleos narrativos);

- Utilização mais intensa de gêneros e temas (minissérie histórica, minissérie baseada em lendas populares, etc.);

- Ousadia na linguagem - nas cenas, diálogos, na temática geral. Por ser, historicamente, exibido em horários noturnos, abusa de cenas de nudismo, de insinuações sexuais, etc.;

- Uso recorrente de adaptação literária.

A Rede Globo foi a pioneira nesse gênero no Brasil, lançando Lampião e Maria Bonita, escrita por Aguinaldo Silva e Doc Comparato, e dirigida por Paulo Afonso Grisolli. Foi exibida em 1982, tendo oito capítulos. A partir de então, as minisséries nunca mais saíram de cena, havendo a produção de pelo menos uma minissérie anual. Entretanto, apesar desse momento marcar o início da minissérie na televisão brasileira, já ocorriam exibições de material estrangeiro (em especial norte-americano) desse formato no Brasil, em versões dubladas. Como exemplo, as minisséries Raízes e A Maldição.

Apesar de chegar às telas brasileiras nos anos 80, o formato minissérie já se consolidara em outros países, principalmente na anglosfera. Nos EUA ele data de 1966, com uma emissão da ABC de uma adaptação de The Rise and Fall of the Third Reich, produzida por David L. Wolper. O termo traduzível como “minissérie” se tornou conhecido somente em meados dos anos 70, devido principalmente ao sucesso da produção Rich Man, Poor Man, baseado no romance de Irwin Shaw, in 1976.

A Rede Globo foi e é a maior produtora de minisséries no Brasil, tanto no que tange à televisão aberta quanto à televisão por assinatura. Contudo, outros canais abertos, em especial nos últimos anos, investem no aumento e na melhoria de suas produções no formato. No que toca a canais fechados (que geralmente optam pela produção de séries longas), a minissérie vêm ganhando espaço. O Canal Brasil, por exemplo, incentiva (e muitas vezes participa na co-produção) da produção de minisséries, a serem apresentadas como especiais, que geralmente retratam um tema específico relativo a algo ou alguém da cultura brasileira. Como exemplo a minissérie 5 Vezes Machado, de cinco capítulos, estes que são adaptações de contos do escritor Machado de Assis. As minisséries do Canal Brasil, na maioria dos casos, advêm de produções independentes, o que confere a elas todo um aparato e estética característicos desse fato (um resultado final bastante simples, se comparado às minisséries da Globo).

Historicamente, o formato minissérie é usado como um meio de experimentação na TV brasileira: experimentação estética, narrativa, temática, etc.; experimentações essas que visam testar a recepção do público.

Outra característica histórica da minissérie é o fato de ela, muitas vezes, ser relacionada à “alta cultura”, a um público mais sofisticado, intelectual. Muito desse argumento gira em torno de uma questão, esta que será abordada no texto: o uso constante de adaptação literária.

Desde seu início até os dias atuais, a minissérie traz a adaptação da literatura brasileira (e por veses portuguesa) de forma recorrente. Tal fato se justifica por levar, de certa forma, a cultura literária à massa, esta que tem pouco acesso às obras literárias (ou simplesmnete não tem interesse prévio por elas). Por meio da adaptação, a minissérie exibe a um público imenso uma história que, até então, só fazia parte do domínio de um público pequeno, um público “letrado”. Nesse ponto, a minissérie agiu como disseminadora cultural, uma vez que a história, ao despertar interesse no público, gerava neste o interesse pela leitura da obra literária. Um grande exemplo disso é o aumento enorme do número de vendas do livro “A Casa das Sete Mulheres”, devido ao sucesso da minissérie homônima.

A adaptação literária é utilizada desde o início da produção do formato no Brasil. Entretanto, a estética das minisséries adaptadas foi se alterando conforme o tempo, agregando novas formas de linguagem e novos estilos narrativos. À princípio, a estética e o modo de condução da narrativa era muito similar à telenovela (com a intenção de atrair o público para um formato com o qual ele já era familiarizado). Tal modelo perdurou por anos, sendo modificado aos poucos com a adesão de novas linguagens.

Por ser um formato de experimentação, como já dito, a minissérie poderia ter uma gama imensa de características inovadoras, poderia “importar” da obra original toda a sua inovação estilística, convertendo-a para a linguagem audiovisual. Este foi o caso da minissérie Capitu (2008), que trouxe do livro Dom Casmurro, de Machado de Assis, todo o estilo ousado e pré-modernista que a obra possuía.

A questão da adaptação suscita uma série de debates à respeito da fidelidade às obras originais e à sua qualidade em si (o que ocorre de forma geral com adaptações literárias, independente do formato). Apesar de atrair a muitos com seu estilo próprio, outros julgam muito a minissérie adaptada, colocando-a na categoria de “cópias mal feitas” e empobrecidas em relação à obra literária. Nesse caso, tem-se como exemplo às duras criticas feitas por Diogo Mainardi, colunista da Revista Veja, à minissérie Capitu, de Luiz Fernando Carvalho, alegando que ela era mal feita, infiel ao livro, e que carregava o peso de ser dirigida sob a visão e o estilo peculiares de Carvalho (o que, em sua visão, gerou resultado prejudicial).

Atualmente, a minissérie vêm tomando novos rumos no Brasil. Desde o aumento de produções independentes em canais por assinatura, até a melhoria e aumento de produção em canais abertos. Na Rede Globo, se destaca como exemplo atual a recente conversão de filmes a minisséries.

O formato, como qualquer outro audiovisual, está sujeito à alterações tanto em quesitos estéticos quanto narrativos. Contudo, por ser uma intensa constante, a adaptação literária dá sinais de que permancerá em voga nas futuras minisséries brasileiras.


Referências

BULHÕES, M. Para além da “fidelidade” na adaptação audiovisual: o caso da minissérie televisiva Capitu. Galaxia (São Paulo, Online), n. 23, p. 59-71, jun. 2012.

KORNIS, Mônica A. Uma memória da História nacional recente: as minisséries da Rede Globo. Acervo, Rio de Janeiro, v. 16, no 1, p. 125-142, jan/jun 2003.

REIMÃO, Sandra. Livros e televisão: correlações. São Paulo: Ateliê Editorial, 2004, p. 121-130.

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