Aplicativos trazem a TV ao alcance das mãos, com interação e mais uma tela para assistir às atrações
Publicado originalmente no site: http://oglobo.globo.com/revista-da-tv
Domingo, 14 de abril de 2013, 9h37
Natália Boere e Thaís Britto
Mariana Eva já teve banda, foi atriz e apresentadora da MTV até resolver trabalhar com tecnologia. Sua vontade de juntar internet e televisão resultou no TV Square, site lançado em fevereiro e que, nas próximas semanas, ganha versão em formato de aplicativo. A plataforma reúne recursos como fazer o chamado “check in” de programas (ou seja, contar ao mundo o que você está assistindo), ver o que está sendo dito nas redes sociais sobre cada atração e interagir com outras pessoas. Essa perspectiva social é apenas uma das possibilidades dos apps como o criado por Mariana. Cada vez mais numerosos, eles deixam ainda mais móvel a experiência com a TV ao levar seu conteúdo para tablets e celulares, e tornaram-se companheiros inseparáveis para quem gosta de TV (veja ao lado opções com diferentes funções).— Sou usuária de aplicativos gringos e achei que havia um vazio nesse mercado por aqui. Para o TV Square, selecionamos e listamos todos os canais de TV aberta e os 20 mais assistidos no geral — conta Mariana.
Os canais brasileiros têm olhado com mais carinho para este mercado. No início do mês, a TV Globo lançou o com_vc, que permite que os usuários comentem os programas da emissora enquanto os assistem. Os telespectadores também podem agendar alarmes para lembrá-los do início de suas atrações favoritas. Há, ainda, o Globo.TV, do portal Globo.com, que disponibiliza trechos de programas da Globo e dos canais da Globosat gratuitamente.
— Já temos programação sendo exibida em transportes públicos, temos aplicativos sociais e de segunda tela para celular e tablet, temos a própria transmissão da TV digital através do one-seg (tecnologia de transmissão digital), que pode ser recebida por tablets, celulares e GPS — explica Sérgio Valente, diretor da Central Globo de Comunicação. —Assistir à TV da forma tradicional, no conforto de casa, é uma experiência única. Insubstituível. Mas o consumidor nem sempre pode estar onde gostaria. Por isso, nosso conteúdo tem que estar preparado para estar com ele, onde ele estiver, na hora que quiser.
Outras emissoras nacionais entraram na onda dos apps. O da Rede TV! mostra o que está sendo exibido naquele momento em sua versão HD. Canais de esporte, como ESPN e SporTV, têm aplicativos específicos para times ou modalidades. No Telecine Play, assinantes podem ver os filmes da grade. Multishow, Globo News e MTV também oferecem parte de sua programação nestas ferramentas.
— O aplicativo é uma janela a mais para impactar o nosso público. Temos que achar a nossa audiência onde ela está — diz o editor-executivo de mídias digitais da MTV, Guilherme Werneck.
Há quem ache a tecnologia ameaçadora. Uma das coordenadoras do Centro de Estudos em Estratégias e Mídias Digitais do Coppead/UFRJ, Paula Chimenti defende que há duas formas de encarar o fenômeno:
— Você pode perceber a internet simplesmente como mais um canal, a segunda tela. Nesse cenário, o usuário acessa o aplicativo para complementar o que está assistindo na TV. Para as emissoras, isso não traz problema, porque o faturamento e a audiência estão garantidos. Noutro cenário, não há complementação, mas substituição. É o caso da Netflix. O espectador passa a interagir com o conteúdo a partir da internet e não da TV, o que pode provocar mudanças no modelo de negócios.
Enquanto todos se esforçam para acostumar-se com a nova realidade, ter senso de oportunidade é importante. O canal Esporte Interativo, por exemplo, transmitiu no início deste ano a Copa Nordeste de futebol e, ao mesmo tempo, lançou na internet um aplicativo com informações complementares. Resultado: foi o item esportivo mais baixado na App Store (como é chamada a loja virtual da Apple, fabricante do iPhone e do iPad) durante o período da competição. Já a série “Hannibal” chega ao Brasil com aplicativo próprio, que promete dar informações extras sobre os episódios em tempo real, enquanto o usuário está assistindo — algo ainda novo por aqui.
Lá fora, além de ter suas próprias iniciativas, as emissoras têm contatos com outros desenvolvedores. Diretora de Parcerias do Get Glue, Kimber Myers conta que o aplicativo tem convênio com mais de 75 canais americanos. Um dos mais bem-sucedidos apps de TV social, o Get Glue tem como trunfo os adesivos virtuais que os usuários ganham ao dar check in nos programas, mostrando para seus seguidores o que estão assistindo.
— As parcerias com os canais começaram com os adesivos, mas estamos avançando para incluir vídeos e fotos oficiais, além de encorajar as próprias emissoras a postar conteúdos na nossa plataforma — explica Kimber, dizendo ser difícil prever os passos nos próximos anos: — Cinco anos nesse mercado de TV social é como se fossem 50 em qualquer outra indústria. O jeito de as pessoas assistirem à TV está mudando muito rápido. O que podemos fazer, por enquanto, é oferecer mais e melhor conteúdo aos usuários.
Além de se concentrar na qualidade do conteúdo, a pesquisadora Paula Chimenti sugere que as empresas abracem as mudanças que estão chegando:
— Não dá para encarar com uma visão do que você quer que aconteça, mas do que de fato está acontecendo. Os modelos de negócios já foram transformados nos mercados musical e editorial, por exemplo. A televisão também vai lidar com isso. É importante manter a mente aberta para as novas tecnologias como oportunidade, e não como ameaça.
Mariana, da TV Square, acha que ainda há um enorme espaço a ser explorado diante da tal segunda tela.
— Não apenas as emissoras, mas até os anunciantes podem usar essa ferramenta a seu favor. A pessoa está ali com o celular ou o tablet na mão enquanto assiste à TV. Pode aparecer um “compre agora essa blusa que apareceu na novela a que você está assistindo”, ou “adquira aqui o produto que você está vendo no comercial”. É um mercado que tem muito potencial — sugere.
Comentários
Postar um comentário