Diálogo do público com a televisão ajuda a consertar o que vai mal



Publicado originalmente no site: http://kogut.oglobo.globo.com/noticias-da-tv

Quinta-feira, 25 de abril de 2013, 09h05

Patrícia Kogut


O AXN lançou “Hannibal” com pompa. Fizeram vinhetas especiais relembrando os principais serial killers da ficção para frisar que o personagem, com o perdão da brincadeirinha infame, não é bolinho e merece estar nessa lista. Ofereceu também a segunda tela via um aplicativo caprichado. Apesar de tudo isso, decepcionou um monte de assinantes com a estreia dublada. A grita foi geral — inclusive aqui da coluna. O pessoal do canal ouviu as reclamações e consertou o problema. É sinal de um saudável diálogo com o espectador.

Um dos suportes dessa conversa do público com a TV é a rede social. Portanto, a força de um programa costuma ser diretamente proporcional à sua repercussão na internet. É como ocorre com “Salve Jorge”. Uma vez no ar, a novela também “passa” no Twitter, com direito à presença ativa de Gloria Perez. Os telespectadores comentam, fiscalizam, criticam, elogiam etc. A autora eventualmente responde, retuita e essa reunião paralela é sempre viva.

Nas séries americanas, isso também acontece. A sensacional “Mad men” é uma das produções que sofrem com a vigilância porque depende muito da exatidão histórica. Esta semana, o “New York Post” publicou uma reportagem em que enumera algumas das derrapadas sucedidas ali. Todas elas foram tema de protestos na web. Por exemplo, lá atrás, quando Peggy Olson (Elisabeth Moss) pediu uma receita de anticoncepcional ao médico, havia um calendário na parede do consultório indicando que era março de 1960. Porém, a pílula só foi liberada pelo FDA em maio daquele ano. No mais novo episódio da atual temporada, exibido domingo (21) nos EUA, Joan Holloway (Christina Hendricks) recebe uma visita e oferece fazer reservas no Le Cirque. O problema é que a ação se passa em 1968 e o lendário estabelecimento de Manhattan foi fundado em 1974. A informação foi confirmada pelo “The Huffington Post” com a assessoria do restaurante. Os fãs mais obsessivos — em se tratando de “Mad men”, em geral, quem é fã é no mínimo obcecado — cultivam o hábito de identificar pequenos anacronismos e registrá-los em comunidades de aficionados. Até o âncora do telejornal “NBC nightly news” Brian Williams já entrou na dança: ele escreveu em seu blog que um jogo da liga de futebol americano mencionado na série não havia ido ao ar no horário nobre em 1964.

Todo esse circunlóquio é para fazer votos que o AXN continue ouvindo quem se manifesta protestando. Falando nisso, o canal oferece um filé diário: todas as temporadas de “Criminal minds”, em ordem e legendadas. A série vai ao ar às 20h, precedida de “CSI”... dublada. É para deixar a pessoa intrigada. Por que cargas d’ água os programadores acreditam que vão reter o espectador de uma atração para a outra? De que adianta uma “faixa de atrações policiais” se o público que prefere legendas é diferente daquele que não liga a mínima para o som original?

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