Russo, o anti-herói de ‘House of cards’, a Netflix e a banda larga



Publicado originalmente no site: http://kogut.oglobo.globo.com/noticias-da-tv

Sábado, 04 de maio de 2013, 09h05

Patricia Kogut


Há três Russos na televisão atualmente. O de “Salve Jorge”, o de Miguel Falabella em “Pé na cova” (que é Ruço) e Peter Russo. Esse último é de “House of cards”, série genial estrelada por Kevin Spacey e produzida pela Netflix. O personagem, brilhantemente interpretado por Corey Stoll (que o telespectador já viu no finado “Law & order: LA”), é um político que sofre as consequências das tramoias do protagonista — contar mais estragaria a surpresa.

Dependente químico e alcoólatra, Russo não tem o sangue frio necessário à carreira no Congresso americano. Falta a ele, resumindo muito, a esperteza das raposas. A qualquer revés, suas fragilidades emergem e Russo se entrega à bebida e à cocaína sem controle. Com tudo isso, é um personagem gigantesco, pois transita entre o patético e o ingênuo. Trata-se do coração de um programa em que ninguém tem coração. “House of cards” é uma daquelas séries deliciosas que os que apreciam o gênero não podem perder.

Dito isso, vamos à Netflix. O pessoal desse serviço de streaming não é bobo nem nada, daí a iniciativa de investir milhões no programa com Kevin Spacey. A edição de maio da “The Hollywood Reporter” traz uma reportagem sobre o plano deles “de conquistar o mundo”. Os números do primeiro trimestre mexeram com o mercado: um total de 29,2 milhões de assinantes só nos Estados Unidos, mais do que alcança a HBO. É bom principalmente considerando que ano passado eles tiveram um prejuízo de US$ 4,6 milhões. Mundo afora, o panorama também é positivo: 14% da receita da empresa vêm dos assinantes internacionais, cujo total aumentou em 1 milhão no último trimestre, chegando a 7,1 milhões. Mas o serviço esbarra em obstáculos. Há concorrentes de video on demand (VOD) como LoveFilm, da Amazon, baseado no Reino Unido, o BskyB (do News Corp.) e o francês Vivendi. Um analista do mercado ouvido pela revista afirma que Netflix tem potencial para arrebanhar 30 milhões de assinantes fora dos EUA nos próximos 6 a 7 anos. Aqui no Brasil, o Now, procurado pela coluna, não informa seus números — mas comemora os 12 milhões de conteúdos assistidos apenas em março deste ano.

O fato é que a Netflix vem atraindo muita gente e, se suas próximas produções originais forem do nível de “House of cards”, essa freguesia só tende a aumentar. Com uma ressalva. E que ressalva. O serviço de streaming depende de uma boa estrutura de banda larga. Do contrário, em períodos de pico (quando muita gente ao mesmo tempo está assistindo à programação via internet), a qualidade da imagem cai barbaramente. Isso se o filme ou a série a que se está assistindo não for ao ar aos soluços, sendo interrompida a toda hora, desafiando a paciência do mais pacificado dos iogues. Portanto, enquanto essa tecnologia não melhorar, a TV tradicional continuará sendo o meio que serve a todos, independente do tamanho da multidão. Agora, voltando a Peter Russo: por ele e por Kevin Spacey, vale enfrentar tudo isso. Não perca “House of cards”.

Comentários

  1. House of Cards é maravilhosa, e Hemlock Grove não fica atrás... A mais nova série é bastante ousada. Ela usa elementos místicos e fantásticos, alguns já batidos como o lobisomem, de uma forma interessante. O clima me lembra um pouco Haven, e a primeira fase de Supernatural, um sombrio e perverso na medida certa, sem exageros a meu ver. Gostei muito de terem explorado um elemento em especial, que eu já não via há tempos, pelo menos não de uma forma que não fosse caricata, que é o universo cigano. Vale a pena pra quem curte esse viés de série...

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