A reação do público é o termômetro moral que vale



Publicado originalmente no site: http://kogut.oglobo.globo.com/noticias-da-tv

Sexta-feira, 05 de julho de 2013, 09h00

Patricia Kogut



Esta semana, a modelo texana Aaryn Gries, uma louraça de 22 anos que vinha arrasando corações, fez comentários racistas e homofóbicos horrorosos no “Big Brother”, no ar atualmente na rede americana CBS. Sua vizinha na casa, GinaMarie Zimmerman, 32, coordenadora de concursos de beleza, não ficou atrás. Ao comentar a módica cobertura oferecida por seu seguro de saúde, ela pronunciou o substantivo proibidíssimo nigger (tão proibido que até as reportagens sobre o tema se referem à “palavra que começa com n”, the n word). Os xingamentos, exibidos na versão do programa 24 horas ao vivo na internet, foram suprimidos da atração na edição apresentada na TV aberta.

A repercussão, entretanto, foi avassaladora. Não se fala em outra coisa nos noticiários sobre a atração. Por causa disso tudo, as duas moças perderam seus empregos poucas horas depois que o escândalo eclodiu. Na página do Facebook da agência de Aaryn, a Zephyr Talent, foi publicado um texto esclarecendo os motivos de seu desligamento: “As declarações dela foram ofensivas e preconceituosas e não representam as visões e opiniões da empresa. Depois de muito pensar, decidimos liberar Aaryn de seu vínculo conosco”. A própria CBS divulgou um comunicado condenando publicamente as pérolas racistas e homofóbicas. O texto diz que o “‘Big Brother’ é um reality que consiste na observação de um grupo sem a menor privacidade. Eventualmente, alguns participantes podem se revelar pessoas preconceituosas e adeptas de certas crenças de que absolutamente não partilhamos”.

Atitudes semelhantes já foram vistas na versão brasileira do programa. Só para citar um exemplo, na edição mais recente, Dhomini contou ter arrancado com um machado os dentes de um cachorro depois de ser mordido pela terceira vez. A declaração rendeu um inquérito policial em Goiás.

A discussão que cerca todos esses fatos é bem suculento. Aqui, como lá, o que vai ao ar na TV aberta prescinde dos trechos mais, digamos, deteriorados do discurso dos participantes. Quem quiser acompanhar a soltura verbal total pode embarcar no pay per view (a não verbal também, ça va sans dire).

A temperatura do debate não para de subir. Há quem esteja defendendo que a CBS opere cortes também na versão via streaming. Muitos discordam, com um argumento muito justo: qual seria o sentido de se acompanhar um reality show por 24 horas se ele sofrer intervenções? Deixaria de ser um reality para se tornar uma ficção.

Francamente, ninguém assiste ao “Big Brother” para recuperar a esperança na Humanidade. Todo mundo sabe que a casa congrega um extrato do mundo de fora, para o bem ou para o mal. Trata-se de um programa de entretenimento. Muito importante também é observar que, ele, com frequência, também pode educar sim. No caso dessas duas moças, fez uma provocação que expôs a capacidade crítica do telespectador. Acabou prestando um serviço.

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