Canais novatos entram nos pacotes básicos e podem chegar a ter 10 milhões de espectadores



Diretores de Arte 1, Curta!, Music Box e Prime Box querem investir em mais produções originais e até no mercado internacional



Publicado originalmente no site: http://oglobo.globo.com/revista-da-tv

Segunda-feira, 29 de julho de 2013, 08h00

Thaís Britto


O espectador mais atento já percebeu que, há alguns meses, eles apareceram por ali. Basta levar o controle remoto um pouquinho adiante para constatar a presença dos canais Arte 1, Curta!, Music Box e Prime Box na grade de programação da TV por assinatura. Beneficiados pelas exigências da Lei da TV Paga — que, a partir de setembro, vai exigir que as operadoras tenham um canal brasileiro de espaço qualificado (caso destes quatro) a cada três canais estrangeiros —, eles entraram nos pacotes básicos das principais operadoras brasileiras e pularam de praticamente nada para uma potencial audiência de até 10 milhões de assinantes de repente.

A oportunidade era tudo que Cícero Aragon, diretor-presidente da Box Brazil, estava esperando. A ideia para criar a programadora multicanal (eles têm também o Fashion TV e o Travel Box, ainda restritos a poucas operadoras) surgiu há cerca de 5 anos, mas só conseguiu sair do papel em 2011. O primeiro canal a estrear foi o Prime Box, seguido de perto pelo Music Box. O projeto do Arte 1 também já vinha sendo gestado há pelo menos dois anos pelo grupo Bandeirantes. Rogério Gallo, diretor do canal, diz que quando começaram a surgir as primeiras polêmicas relacionadas à lei, eles decidiram congelar o processo até que a regulamentação fosse mais clara. O lançamento oficial aconteceu no ano passado. Já Julio Worcman, do Curta!, conta que o canal de TV surgiu quase por acaso, também em 2012. Dono de uma distribuidora de conteúdo, ele se preparava para atender aos canais brasileiros e estrangeiros quando pensou melhor e viu que fazer seus próprios programas poderia ser uma boa.

Para conquistar seu espaço no olimpo das principais operadoras, todos decidiram apostar em nichos que, segundo eles, estavam em falta na TV por assinatura.

— Nosso objetivo é complementar o line-up. Não adianta ser outro Canal Brasil. Temos mais de quatro mil licenças de conteúdo, por conta da distribuidora. Séries sensacionais sobre a Segunda Guerra, programas estrangeiros e brasileiros, documentários... É um canal muito ligado em cultura, ciência e história. Fazemos semanas temáticas de programação — explica Worcman, esclarecendo que o nome do canal não significa uma grade formada apenas por curtas-metragens. — É Curta! do verbo curtir. É um canal acessível para todo mundo.

Atingir um número cada vez maior de espectadores também é a meta do Arte 1, que chegou à TV com o desafio de ser um canal completamente voltado para a arte sem parecer pedante ou elitizado.

— Observando o cenário da TV paga, vimos que era uma opção em aberto. Tudo que tem a ver com arte no Brasil está crescendo muito: exposições superimportantes vêm para cá e geram uma frequência enorme. O Brasil entrou no mapa da arte do mundo. Mas não queremos que as pessoas tenham a impressão de que é um canal para iniciados. Não há pretensão de ser educativo. É um canal de entretenimento, pop, com embalagem bem contemporânea. Falamos de cinema, teatro, artes plásticas, design, gastronomia... Um canal de variedades sobre arte — esclarece Gallo.

O universo artístico nacional é o foco do Prime Box e do Music Box. O primeiro cobre a produção audiovisual brasileira — longas, curtas e minisséries — dos últimos 12 anos. Já o segundo, investe em shows e programas de entrevista sobre música de todos os estilos, do rock ao samba, do sertanejo ao hip hop. Aragon conta que os canais nasceram também de olho no mercado internacional, e o investimento inicial em estrutura foi pesado: hoje, o satélite usado pela programadora já cobre todo o continente americano e a Europa.

— Temos negociações em andamento para a distribuição dos nossos canais em operadoras internacionais. Mas o nosso grande foco, especialmente com o Prime Box, é reposicionar a opinião do público brasileiro em relação ao nosso cinema. Existe uma nova produção cinematográfica brasileira com muita qualidade.

Embora todos os quatro canais trabalhem basicamente com conteúdos adquiridos, a ideia é que no futuro haja mais produções e coproduções originais que são, afinal, o principal foco da Lei da TV Paga. Worcman, Gallo e Aragon dizem aguardar liberação de verba do Fundo Setorial do Audiovisual para investir em novos projetos até o ano que vem.

— A missão destes canais é alavancar uma produção de televisão independente, e a gente tem o maior desejo de contribuir com isso. Esperamos que, em dois anos, 80% da nossa programação seja original. Na década de 70, as rádios só tocavam discoteca. Saiu a obrigatoriedade de execução de música brasileira na rádio e o que aconteceu logo depois? Surgiu o movimento Rock Brasil. Essa iniciativa agora, com a TV, é superpositiva para o país — acredita Worcman.

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