O mercado brasileiro de tv por assinatura



Publicado originalmente na Revista Tela Viva

Edição de junho de 2013

André Mermelstein



O mercado brasileiro de tv por assinatura passou ao longo dos anos por um forte movimento de concentração. A fusão da DirecTV com a Sky, em 2007, praticamente acabou com a competição no DHT (satélite), que à época tinha como terceiro player apenas a pequena, e já desaparecida, Tecsat.

No cabo deu-se a mesma coisa, com a aquisição pela Net Serviços de grandes operações regionais, como a Vivax, também em 2007, e a BigTV, em 2009. E, em um movimento mais recente, após a aprovação da Lei 12.485/11, com a incorporação da Net pela Embratel e o anúncio, este ano, de que as operações da Net Serviços e da Claro Tv poderão ser unificadas futuramente.

Ou seja, no quadro atual, temos duas operadoras (ou pelo menos dois grandes grupos) que detêm 80% do mercado: Net/Claro,com 8,6 milhões de assinantes (51% do mercado) e Sky, com 5 milhões de assinantes e 29% do mercado. Resta, para as demais, a disputa por 20% dos assinantes.

Mas um fato novo pode desequilibrar esta equação. A Oi, maior operadora brasileira de telecomunicações, acaba de fazer um grande investimento, ao reservar para si praticamente 100% da capacidade de vídeo do satélite SES-6, recém-lançado da base aérea do Cazaquistão.

O satélite dobra a capacidade de canais que a operadora pode oferecer, e tem a grande vantagem de ser novo, o que lhe dá uma vida útil de pelo menos 15 anos. O lançamento vem em um momento em que a principal concorrente, e líder do segmento, a Sky, vem enfrentando problemas de falta de espaço em seu satélite, o Intelsat 11, inclusive pela pressão da Lei do SeAC, que exige o carregamento de diversos novos canais.

A novidade deixa a Sky numa posição mais frágil, pois é a única grande empresa de Tv por assinatura sem vínculos com empresas de telecomunicações, que depende só do serviço de vídeo, e portanto precisa garantir demanda diferenciada, com grande número de canais HD e outros serviços.

Vale lembrar, a plataforma da DTH é há pelo menos dois anos a mais relevante no Brasil, com 61% dos assinantes. É também a que vem puxando o crescimento. Ganhou 7,5 a mais de assinantes no último trimestre de 2012, contra apenas 1,8% do cabo. E isso deve continuar, pelo menos até entrarem em operação as novas redes licenciadas pelo SeAC, em especial as da Net Serviços.

Para o mercado, a aposta da Oi deve trazer benefícios. Um investimento desse porte deve garantir maior share à operadora de telecom, mas também um crescimento acelerado da base de assinantes total do mercado. Mas para colocar essa agressiva estratégia em prática a Oi precisa equacionar a sua própria situação financeira, que é a mais frágil entre os grandes grupos de telecomunicações. Também deve-se considerar a já prometida entrada da Dish no mercado brasileiro, cuja estratégia ainda é pouco clara, mas que tem grande potencial de mudar o jogo de forças.

Um processo de desconcentração deve ter efeitos positivos para o mercado, ao menos para quem estado outro lado do balcão, como as programadoras e fornecedoras de equipamentos, menos sujeitos à pressão de apenas dois grandes players.

Sem falar, é claro, naquele que paga a conta, o assinante, para quem sempre é boa a disputa entre gigantes.

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