Seminário III: Reality Show

Universidade Federal Fluminense
Cinema e Audiovisual
Tv e Vídeo
Professor: Felipe Muanis
Grupo: Lorena Lima, Fernanda Viana e Lívia Cabrera



CONSIDERAÇÕES SOBRE REALITY SHOWS NA TV

A complexidade desse gênero e seu espectro de atuação muito amplo dificultam uma definição clara, pois ele pode envolver desde o plano mais íntimo até grandes eventos sociais ou o cotidiano de uma grande organização. Por isso, buscamos organizar inicialmente uma definição mais geral de reality, tomando como base diversos estudos que usam como referência as observações feitas nos realities de maior impacto em termos de audiência, polêmica e discussão, ou seja, os realities de competição.

Trata-se de um gênero híbrido que tem crescido na grade de programação das TVs abertas e fechadas. Também tem se tornado bastante comum a produção de realities para a web. Normalmente, os programas são comercializados através de formatos, a maioria oriundos dos EUA e da Europa. No formato, o produto não é comprado pronto, mas é regulado por contratos com algumas regras e características para a produção do programa seguir, deixando uma margem para adaptações locais. Para ficar mais claro, podemos considerar reality show como gênero, reality show de competição como sub-gênero e o programa em si como um formato, como o Big Brother.

Reality show é um tipo de programa televisivo apoiado na vida real, que geralmente propõe um jogo, uma experimentação, uma competição profissional ou física, dentre outros. A ênfase, muitas vezes, recai na história íntima do indivíduo (ou indivíduos) e na relação interpessoal entre os participantes e também com o ambiente em que estão inseridos. Outras características comuns podem ser destacadas, tais como a seleção e a eliminação dos participantes, os desafios propostos, os prêmios oferecidos aos ganhadores do jogo.

Sobre a seleção de participantes, ela é comum à maioria dos formatos no gênero de reality show competitivo e a escolha desse elenco de participantes costuma ser bastante rigorosa. Embora seja focado em uma abordagem não ficcional, regras de empatia, motivação e fascínio que personagens de uma dramaturgia precisam estabelecer com o interlocutor são essenciais em reality shows e balizam as escolhas dos participantes. Essa questão confunde a definição do reality como um gênero não ficcional.

Os acontecimentos exibidos nesses formatos são fruto de uma realidade que envolve pessoas reais e não personagens de um enredo ficcional. Os elementos comuns que caracterizam o reality show são os participantes e suas histórias supostamente retiradas da vida cotidiana, exibidas tal com ela é, “sem roteiro". Trata-se de uma obra, no limite, aberta. Apesar disso, alguns possuem regras e objetivos que delimitam a ação dos personagens (as regras do jogo).

Muitos tipos de programa possuem ambientes controlados pelo monitoramento de câmeras e microfones. Isso possibilita ao espectador que assista um conteúdo privado dos participantes, saciando uma curiosidade de ver o banal, o dia-a-dia. É um convite para bisbilhotar. Por outro lado, também existem aqueles que, ao contrário, exibem o outro, o diferente, o bizarro. São inúmeras as possibilidades que, posteriormente neste texto, serão separadas em tipos (sub-gêneros).

O debate público e as grandes estrelas, pontos comuns nos programas para TV, passam a dividir o espaço da televisão com anônimos e com situações corriqueiras, onde aquilo que é ordinário acaba virando espetáculo nessa nova forma de ver e fazer TV.

O reality mostra, de forma simulada, um conteúdo verossímil, pois, de alguma maneira, distorce aquilo que é real e aquilo que é imaginário, criando uma nova experiência. Dois professores da UFRJ, Marcos Castelo e José Luís de Carvalho falam de um conceito interessante para explicar essa nova experiência de aproximação de ficção e realidade: “a hiper-realidade é uma versão desinfetada da realidade, higienizada dos problemas mundanos, da sujeira, da violência, da exploração e das demais dificuldades impostas pelo cotidiano”. Umberto Eco, em seu texto “Tevê: a transparência perdida”, afirma que a televisão criou uma ilusão da realidade, transformando-a de um veículo de fatos em um aparato para a produção dos fatos. Logo, a televisão passa a ser uma produtora da realidade.

Assim, os reality shows tentam, através das câmeras de TV, mostrar a intimidade na realidade, porém, a partir do momento em que existe um cameraman e todo um aparato de gravação e transmissão, o livre arbítrio e a espontaneidade dos “personagens” passam a ser meras produções artísticas. O reality show é um mundo de faz-de-conta, pois os concorrentes fingem que a infraestrutura em volta deles não existe. Ao mesmo tempo em que o programa pretende mostrar a realidade de seus participantes, a produção edita os capítulos fazendo-os similares às narrativas seriadas, ou telenovelas, com começo, meio e fim, espaço narrativo delimitado, estabelecimento de vilões, mocinhos, casais, enfim, a definição de estereótipos sob cada participante.

Através do abuso do anonimato dos participantes, esses formatos de programa podem possibilitar a fama acessível àqueles que não a possuem, especialmente devido à exposição desses participantes, muitas vezes em situações extremas. Vale dizer que muitos programas têm partes exibidas ao vivo e, com isso, caracterizam-se por explorar o sensacionalismo, o inesperado das reações dos participantes. São caracterizantes, também, os aspectos do exibicionismo dos participantes e do voyeurismo dos espectadores.

Para os realities show é importante a participação do público e a forte influência da audiência. O público ocupa um novo lugar, acompanhando a programação do reality e os participantes, interagindo através dos canais oferecidos pelo programa. O espectador fica atento aos rumos da narrativa e responde aos chamados para participação na construção do programa, votando, por exemplo.

Os programas são, em sua maioria, familiares, atingindo com igual impacto todas as faixas etárias. São produções mais baratas e mais fáceis de serem produzidas (e reaproveitadas em novas edições) do que as ficções. Estão livres de gastos com roteiristas, pois não precisam de qualidade na dramaturgia e livre de alguns outros gastos como a manutenção de um star system, cenários, figurinos e locações. Concluindo, trata-se de um modelo que se mostrou altamente lucrativo, também pela facilidade de estabelecimento de franquias (venda de formatos) e a grande abertura para o merchandising.

BREVE HISTÓRICO DOS REALITIES

Muito antes do estabelecimento de um segmento de Reality-tv já havia uma televisão com ares de documentário, interessadas em histórias não roteirizadas de pessoas comuns. O primeiro reality show, como hoje é definido, foi a série An American Family, transmitida em doze partes em 1973, nos Estados Unidos. A série ficou famosa por lidar com o divórcio em uma família nuclear e, ainda, pela revelação de que um dos filhos que era homossexual.

É de 1992 o primeiro reality de confinamento apresentado pela TV. Chamava-se The Real World e foi produzido pela MTV, em Nova York. A MTV Brasil foi a primeira a apresentar um reality show no país, com um formato do The Real World americano, em 1999.

Mais tarde, em 2000, a Rede Globo veiculou para todo o Brasil a primeira versão de “No Limite”, também baseado em um programa americano chamado “Survivor”. O boom brasileiro aconteceu com a criação, no SBT, do programa “Casa dos Artistas”, em 2001.

Um marco importante para a história do reality tv é a criação do Big Brother. Em 1999, John de Mol, um executivo da TV holandesa, sócio da empresa Endemol, inspirando-se no livro de George Orwell, 1984, teve a ideia de criar um Reality Show onde pessoas comuns seriam selecionadas para conviverem juntas dentro de uma mesma casa, vigiadas por câmeras, 24 horas por dia. O Big Brother é o reality show de maior expressividade em audiência na TV brasileira. Teve sua estreia em 2002, sendo realizado até hoje anualmente. A expansão é óbvia quando analisamos a abrangência para outras linguagens, estando disponível na internet, no telefone, no celular, venda de produtos, fóruns de discussão, etc. O formato já foi adaptado para 36 países.

Com esse boom, os realities apresentam os mais altos números em quantidade de formatos produzidos, audiência, lucros com programas na tv fechada e aberta e na web.

TIPOS DE REALITY

Realities apresentam diferentes tipificações desses programas. Com seis variações principais, o formato se divide em temas:

1) Reality TV (TV realidade): monitoramento de pessoas comuns, em locais abertos ou fechados, por câmeras e microfones (BBB, No limite e Casa dos Artistas)

2) Profissionais: revelam talentos e oferecem vagas de emprego (Face Off, O Aprendiz, Hell's Kitchen, Fama e Popstar)

3) Dating: promove envolvimento de casais (Amor a Bordo, Acorrentados e Ilha da Tentação)

4) Comportamentais: observam o comportamento humano (Vida de Solteiro e Guerra do Sono)

5) Bizarros: representam visões toscas de BBB (Casa dos Desesperados)

6) Transformação: transformação de pessoas, casas e ambientes (Extreme Makover, Queer Eye for the Straight Guy – Sony e Minha Casa, sua Casa – People & Arts).

Reality Shows de competição lidam com focos temáticos e com o aspecto de convivência dos participantes. A possibilidade de merchandising e product placement é extremamente favorável e diversificada. Produtos podem patrocinar quadros ou atividades específicas, podem ser inseridos no contexto de convívio como parte integrante do dia a dia dos participantes ou mesmo tomar um reality show para si como branded content (Comunicação por conteúdo - transformar a comunicação de uma marca em atração e retirá-lo do intervalo para ser a atração principal). O Reality Show tem sido um dos modelos de programa que mais conseguem investimento, perdendo apenas para os tradicionais programas de auditório.

A ESTRUTURA DO REALITY SHOW DE COMPETIÇÃO

Apesar de cada formato ser caracterizado por sua estrutura particular, conjunto de regras, desafios, progressão dos participantes, existem elementos em comum ao gênero de competição que são abordados de forma variável dependendo do formato:

- Seleção de participantes
- Provas/Desafios periódicos
- Eliminação de participantes
- Prêmio/Recompensa

MODELOS RECORRENTES NO REALITY SHOW DE COMPETIÇÃO

- Confinamento: participantes são confinados e colocados à prova no convívio social. Exemplos: Big Brother, Casa dos Artistas, A Fazenda, Solitary.

- Sobrevivência: colocar participantes em convívio e em situações extremas. Exemplos: Survivor, The Hunt.

- Desafios: competição de cantores disputam entre si e através de apresentações semanais o melhor desempenho. Possui uma banca de jurados que fazem uma pré-seleção de candidatos para a eliminação e o público é responsável por manter no jogo os seus participantes preferidos. Exemplos: American Idol, Fama, X-Factor, The Voice.)

- Busca de emprego: Participantes são testados por empregadores e competem por vagas de emprego. Uma variante tem ênfase em diferentes empregadores ou investidores que disputam entre si por candidatos que apresentam seus produtos. Exemplos: The apprentice, Shark Tank, Top Recruiter.

- Habilidades específicas ou esportes: Existem vários formatos muito específicos que lidam com habilidades como tiro prático, mergulho, cozinha, artes marciais e esportes em geral. Aqui existe o design de desafios relacionados à temática do formato, evidenciando as diferentes aplicações das habilidades e buscando encontrar o 'praticante' supremo. Exemplos: Top Shot, Ultimate Diver Challenge, The Ultimate Fighter.

- Encontro amoroso: Há um(a) solteiro(a) que busca um(a) parceiro(a) e os competidores são testados em diferentes critérios para provar como o melhor candidato pode assumir o posto de objeto amoroso. Uma variação busca a formação de múltiplos casais a partir do convívio dos participantes. Exemplos: The Bachelor, Joe Millionaire, Temptation Island.

REALITY SHOW DE COMPETIÇÃO DE CULINÁRIA

Nos últimos dez anos, apareceram na França diversos reality shows de culinária. Todos são jogos-concursos eliminatórios onde o vencedor ganha o direito de entrar no espaço profissional: beneficia-se de uma exposição midiática importante, ganha uma grande soma de dinheiro para abrir seu próprio estabelecimento e um estágio em uma empresa prestigiosa. No caso das emissões musicais, ganha a produção de um disco e uma campanha de publicidade.

Em 2004, surgiu na TV no Reino Unido “Pesadelos na cozinha de Ramsay”. O programa colocou em cena o famoso chef Gordon Ramsay, proprietário de restaurantes estrelados, autor de livros de cozinha e protagonista de coleções de vídeos, que durante uma semana, se transforma no capacitador de um dono de restaurante em dificuldades. O programa e seus heróis atravessaram o Atlântico para uma versão norte-americana (2008-2010) e em 2011-2012 inspiraram os primeiros episódios de um avatar francês transmitido pelo canal M6.

O apetite dos reality shows por emissões de coaching (capacitação/treinamento) é conhecido, e programas desse gênero constituem um grupo à parte. Trata-se de life coaching (capacitação para a vida), cujos objetivos variam entre:

- ensinar a perder peso
- vestir-se
- educar as crianças
- limpar e decorar a casa
- vender ou comprar a própria residência, etc

Alguns programas avançam para o pro coaching: Ramsey não aconselha amadores talentosos (Master chef), nem jovens no início da carreira (Top chef), e sim profissionais em plena atividade.

John Grierson, que cunhou o termo “documentário”, reconhecia nele uma capacidade de exposição da verdade social obtida por intermédio de um conjunto de procedimentos que invocam uma pretensão de realidade. Ora, os programas televisivos de realidade, sobretudo aqueles denominados de gamedoc, docusoap e reality sitcom assumem precisamente esta pretensão de realidade reclamada pelos documentários e fazem-no através daquilo que Corner (2001:127) apelidou de um “realismo observacional” e um “realismo exposicional”: o primeiro assente em marcadores cujo objetivo é confirmar que o telespectador observa um programa não roteirizado e o segundo envolvendo uma retórica de veracidade. Além disso, os reality-shows recuperam esta pretensão de realidade característica dos documentários e tendem a seguir uma estrutura discursiva visual que faz lembrar estilos de produção documental surgidos nas décadas de 1960 e 1970, como o cinema-vérité na França, o fly-on-the-wall no Reino Unido e o direct cinema nos Estados Unidos da América (Barneld, 2002). Tal como nesses documentários, os reality-shows tendem a ser mais descritivos que argumentativos e o seu objetivo é produzir uma empatia, uma certa intimidade e uma proximidade emocional entre os espectadores e os protagonistas (Dovey, 2000). Aliás, os programas da BBC, Video Nation e Video Diaries, difundidos a partir de 1995, exemplificam a maneira como a pessoa comum foi progressivamente acedendo ao ecrã por intermédio de uma estética documental: nesses reality-shows, eram gravados vídeos de estilo documental onde se coligiam comentários e opiniões baseados nas experiências de pessoas oriundos de todos os pontos do Reino Unido e de todos os estratos sociais.

ALGUNS EXEMPLOS

Em uma decisão conjunta foi acordado que as classificações cairiam quando selecionamos alguns programas para serem discutidos exemplificados. E o parecer final foi selecionar três, dos quais possuíssem características que nos interessassem e que fossem mais próximas ao nosso futuro trabalho. Foram eles: Eat Street, Bizarre Foods e O Mundo Segundo os Brasileiros.


O reality canadense Eat Street consiste basicamente em um apresentador, James Cunninghan, percorrer cidades da América do Norte, especificamento do Canadá e dos EUA, afim de revelar a cultura e os segredos da comida de rua, e também acabar com alguns mitos da mesma. No caso as comidas servidas em caminhões (trailers) que não possuem local definido para estar. Em 2013 o show completa sua 4ª temporada. As principais características vistas no programa são: A interação com o público do restaurante sobre rodas e com o comércio, além das viagens.

O segundo escolhido está em sua décima temporada, tendo seis ao redor do mundo e as últimas quatro focadas nas experiências em solo estadunidense. Bizarre Foods foca na cozinha regional de todo o mundo. Em cada episódio, Zimmern busca na cozinha de um país ou região em particular pratos exóticos e particulares daquela cultura. Ele normalmente mostra como o alimento é obtido, onde é servido, e, geralmente, sem hesitação, come. Suas características mais vísiveis são os ambientes exóticos, a difusão da cultua do local onde está sendo visitado e também, assim como o Eat Street as viagens.


O Mundo Segundo os Brasileiros é um programa que tem seu foco em viagens pelo mundo. Podemos utilizar o termo “multiplot” para definir a sua estrutura. São vários personagens brasileiros que vivem nos locais, onde cada um narra em um tom documental, quase autobiográfico, apresentando partes diferentes da cidade do episódio.
É baseada no original argentino Clase turista: el mundo según los argentinos Produção da Rede Bandeirantes de Televisão em parceria com a Eyeworks.


A Band e a Eyeworks tem trabalhado juntas para a diversificação da grade da emissora brasileira, suas parcerias também podem ser vistas nos programas "A Liga", "E24", "Polícia 24h”, CQC, entre outros. As principais características visualizadas são novamente as viagens e a difusão da cultura local.


BIBLIOGRAFIA

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