Seminário VII: Programas de VJ

Universidade Federal Fluminense

Cinema e Audiovisual

Tv e Vídeo

Professor: Felipe Muanis

Grupo: Iuri Lannes, Paula Weiss, e Talita Ribeiro




A MTV Brasil está enfrentando um momento de instabilidade e transição. Após 23 anos sob o comando do grupo Abril, que possuia o licenciamento no país, a Viacom, detentora mundial da marca, assumirá o canal, prometendo nova programação para outubro, já na TV paga, com reallityshows e sitcoms, em uma evidente cópia da programação americana.

Considerando esta situação, e em uma reflexão que beira o saudosismo, estudamos aqui um formato de programa que, embora possua algumas características semelhantes às de outros tipos, têm em seu DNA uma identidade única à MTV, em especial a brasileira, e desenvolvida neste canal.

MTV: A FM Audiovisual

“O melhor da TV combinado com o melhor do rádio.” Essa frase foi dita nos primeiros momentos de transmissão da MTV (norte americana) pelo primeiro VJ a entrar no ar, Mark Goodman. Valorizando o som estéreo e, principalmente, equiparando-se às rádios FM, que reformataram a programação e o papel do rádio como mídia de massa, o canal pretendia, igualmente, reformatar a televisão.

No início dos anos de 1980, estabeleceu-se uma “fórmula FM” pautada na música massiva, na publicidade e em uma sutil e importante participação do DJ. É neste contexto que estreia a MTV, e em busca de consolidar suas próprias características como um canal de música, voltado para o público jovem, a emissora se apropriou de alguns elementos das FMs para consolidar as suas próprias características.

Assim como nas rádios, os videoclipes estão dispostos em uma playlist guiada essêncialmente pela popularidade do artista, e no caso dos anos 80, pela quantidade de videoclipes que possuía na época. O esquema do “jabá” entre gravadoras e emissoras de rádio, acaba por se repetir, agora em uma forma audiovisual. Fica muito claro que a rotatividade dos artistas não é aleatória; visa demarcar músicas que a MTV prioriza em detrimento de outras que atuam como bônus. Trata-se, pois, da definição de um target através da seleção musical.


Outro elemento que aproxima a MTV das FMs é a valorização do som estéreo, um elemento que se tornou essencial no canal musical. Mas, para o nosso estudo, é fundamental perceber ainda como a MTV montou a programação. Da mesma forma que as FMs não se restringem apenas à veiculação de música, a MTV não teve na sua programação exclusivamente videoclipes, embora eles fossem imprescindíveis. No lugar de veicular um videoclipe atrás do outro em um fluxo interminável, como costuma-se pensar sobre o início da MTV, as primeiras horas do canal contiveram mais quatro elementos: vinhetas e comerciais da própria MTV, comerciais de patrocinadores, matérias do mundo da música e, dando ordem a esses elementos, o VJ. Nesse período, a programação ficou assim dividida:

Programação da MTV(EUA) nas quatro primeiras horas de transmissão (em número de aparições)


Enquanto as FMs, no início dos anos de 1980, seguiam mais ou menos a fórmula “2 a 4 músicas – 3 a 5 spots publicitários – curto comentário do DJ”, a MTV se inspirou nesse formato para entrecortar a programação de videoclipes com os demais elementos. Durante as primeiras quatro horas de existência da MTV norte americana, analisadas por A. D. Holzbachn em seu artigo “MTV: a remediação da rádio FM na construção de um canal musical de televisão”, “no máximo cinco videoclipes são veiculados em sequência para, em seguida, serem cortados por comerciais, na maioria voltados para a cultura jovem, ou pela fala do VJ (...) As vinhetas e comerciais da MTV servem como conectores entre videoclipes, comerciais e o VJ, atuando mais ou menos como as vinhetas das rádios FM. Já as reportagens fazem parte da programação como os videoclipes. Aparecem dispostas entre as falas do VJ e são apresentadas por ele.

Por fim, da mesma forma que o DJ nas FMs, o VJ não se resume a apresentar videoclipes, mas atua como um condutor da programação, concedendo à ela uma determinada personalização.”

É interessante perceber, que esse formato, antes fluído durante a programação de um dia, utilizando o mesmo cenário, com a mudança apenas entre os VJs, aos poucos será reapresentado no que nomeamos nesta análise de “programas de VJ”. Estes programas são nada mais do que versões compactas do formato que antes era integral, e agora está subdividido em programas específicos, às vezes temáticos, e encabeçados por um (e, alguns casos 2 ou 3) VJ.

Quando a MTV ganhou sua versão brasileira, em outubro de 1990, a receita foi seguida, gerando um embrião de programa que foi explorado e resignificado, mas sem perder sua essência original.

Formato (a partir de agora trataremos específicamente da MTV Brasil)

Cada “programa de VJ” costuma ter de 30 minutos à 1 hora, e tem uma frequência alta na programação semanal, chegando a ser diário em alguns casos, sem contar com as reprises. Eles são geralmente divididos em 3 blocos, entremeados por horários publicitários que possuem mais vinhetas e propagandas do canal, do que publicidades de patrocinadores.

O objetivo principal destes programas é, a princípio, a apresentação de videoclipes; alguns deles são feitos específicamente para isso, como o Disk MTV, enquanto outros, mais centrados na figura do VJ, e nas curiosidades sobre música e cultura POP, costumam exibir no mínimo 1 videoclipe.

Dentro do formato base “videoclipes – vinhetas – comentário do VJ”, há uma infinidade de possibilidades de experimentação e constituição de programas, que vão desde os híper-segmentados como o “Fúria Metal”, e listas mais generalistas de vídeo-clípes escolhidos pelo público, até programas temático voltados para a internet, fofocas de famosos, e sexo.

O único elemento indispensável, além dos videoclipes, é a presença do VJ. É ele o responsável pela interação com o público e por reforçar a identidade do canal através de sua jovialidade e trejeitos descolados. A MTV é a única emissora que possui um nome específico para seus apresentadores, o que marca ainda mais a relevância deles em seu DNA.

Para ser VJ...

Megaliga MTV de VJs Paladinos



Em sua concepção original, a MTV brasileira estava destinada seguir exatamente o modelo americano, focando na exibição de videoclipes, para um público jovem de 12 a 35 anos. Quatro meses antes de sua estreia, a MTV abriu um concurso para seus apresentadores, que seriam conhecidos como video-jockeys ou simplesmente VJs, homens e mulheres jovens que teriam a função de serem os "anfitriões" dos programas. A primeira equipe de VJ's era formada por Astrid Fontenelle, Cuca Lazzarotto, Daniela Barbieri, Gastão Moreira, Maria Paula, Rodrigo, Thunderbird e Zeca Camargo. Em geral os VJ's tinham pouca ou nenhuma experiência na televisão.Durante boa parte da existência da MTV Brasil, ser um VJ era algo extremamente glamourizado, principalmente entre os jovens que assistiam à emissora. Parecia ser a profissão dos sonhos.

Basicamente, um VJ é para a televisão, a representação audiovisual para o que um DJ é para o rádio, só que com um grau maior de responsabilidade, pois a identidade visual passa a importar, o carisma não pode ser limitado à voz. Dessa forma, os VJs costumam ser figuras extremamente representativas do público alvo do canal, quase personagens, que gerem tendências e sejam um modelo de comportamento.

O VJ é o responsável por aproximar este público da programação, e sendo ele jovem, e tendo jovens como interlocutores, o linguajar informal, repleto de gírias e palavrões, é o que prevalece.

Um outro fator que contava muito nessa interação, especialmente no princípio da MTV em terras brasileiras, uma vez que agora quase não importa, era a voz de opinião do VJ. Os programas eram pensados para um determinado VJ, ou confiados a eles de acordo com suas características, pois era muito importante aquela sensação de "esse cara entende do que está falando", para gerar um interesse do telespectador além de informá-lo através de uma fonte que ele viesse a respeitar e buscar constantemente.



Alguns Programas

Disk MTV

O programa criado em 1990 (exatamente dois dias depois da estréia do canal) era uma versão do programa “Dial MTV” da MTV norte-americana, onde a ideia é que diariamente se passem os 10 clipes mais votados pela audiência, além de trazer músicos para serem entrevistados em estúdio pelo VJ que apresenta o programa. Um dos campeões de audiência desde o começo da MTV, o formato acabou se estendendo para outro programa, o TOP20, que eram transmitidos os 20 clipes mais votados na semana. Foi cancelado em 2006, causando grande revolta do público. Sua volta veio só em 2008, agora já com o advento da internet para votações (futuramente seria apenas possível votar pela internet) e, em 2010, passou a se chamar TOP10. Muitos foram os apresentadores, alguns duraram menos de um ano no comando do programa.

Com o fim da franquia gerenciada pela Abril, o TOP10, no dia 1 de Agosto, teve um (novo) fim e deu lugar ao programa A Outra Parada, que é uma seleção dos 10 clipes mais votados pela audiência de uma lista de 50 clipes disponibilizados no site da MTV e escolhidos pelos VJ’s Gaía Passarelli e Chuck Hippólitho.

MTV Sem Vergonha

O programa, que entrou no ar em 03/2012 e saiu em 07/2013, é comandado por Didi Effe e Titi Müller que recebem convidados famosos para um papo sobre sexo, além de jogos “apimentados”. Tem também a participação do público pelo telefone. O programa segue uma linha já, podemos dizer, consagrada dentro da grade da MTV Brasil, que sempre teve programas com tom de descontração para falar de sexo e tratar sobre questões do tema com os jovens.

Acesso MTV

Estreiado no dia 9 de fevereiro de 2009, o Acesso MTV é um programa ao vivo onde se exibia clipes, matérias, shows ao vivo, recebia artistas em estúdio e tinha grande participação dos VJ’s que comandavam o programa e davam sua opinião sobre música e outros artistas. Pode ser considerado um grande marco no avanço da interatividade dos programas da MTV Brasil, com advento da internet para aproximar o público ao programa.

Analisando de forma conceitual o programa tinha tudo para dar certo dentro de uma plataforma moderna e musical, mas perdeu sua “essência”, junto com quase toda a programação da MTV Brasil nos últimos anos, para tentar de alguma forma acompanhar a nova geração de jovens espectadores do canal. Com isso sofreu inúmeras alterações de VJ’s, além do conteúdo que foi destoando cada vez mais da música, para tentar se aproximar de assuntos que permeassem o mundo POP, além da inserção de outros programas, como um reality show patrocinado por uma revista teen. O último dia do programa foi em Julho desse ano.

A Hora do Chay

Um programa apresentado pelo VJ Chay Suede, tem uma proposta de “garimpar” dentro dos arquivos da MTV (ou “fitoteca”, como gostam de chamar os próprios funcionários da emissora), passando clipes, matérias e entrevistas antigas, além de receber convidados famosos para uma entrevista e um chá com o apresentador. Além da interatividade com o público via internet (à essa altura já uma marca registrada do canal), há também um bloco chamado “3 motivos para gostar dessa banda”, que é basicamente quando Chay cita três bons motivos para se ouvir alguma banda nacional que esteja atuante no cenário brasileiro (outra marca que a MTV sempre gostou de carregar, que é a de “incentivadora de novas bandas no país). O programa veio quase que junto do fim da concessão do canal com a Abril e acabou durando apenas 4 meses, finalizando em Junho deste ano.

Teleguiado MTV

O programa comandado pelo VJ Cazé durou de 1995 até 1999. Era um programa diário e ao vivo que passava de início às tardes e depois passando para a noite. O programa era basicamente o VJ, sentado numa velha cadeira, cheio de aparatos eletrênicos velhos e um headphone, ligando para telespectadores previamente cadastrados para que eles tivessem que escolher ali, na hora, o clipe que passaria à seguir. Enquanto o estagiário corria para levar a fita do clipe escolhido até o switcher do programa, Cazé aproveitada o tempo para bater um papo com o telespectador ao telefone, abordando os mais diferentes assuntos. O programa fez muito sucesso em sua época, principalmente pela forma descontraída que Cazé conduzia e conversava ao telefone com o público. Também conhecido pelo programa de uma única regra, que era a de que o telespectador não poderia escolher um clipe que já tivesse sido transmitido naquela mesma semana. Quando isso acontecia Cazé desligava o telefone na cara da pessoa (ato que ficou como marca registrada do programa como o momento “Na Cara”, onde, posteriormente, até uma vinheta foi elaborada para passar nessa hora). Os clipes escolhidos pelo público eram dispostos em uma lista em que se fazia uma competição entre clipes nacionais e internacionais (frequentemente os clipes internacionais ganhavam a disputa).

Com o tempo e o ganho de audiência (além da confiança de VJ e diretores de se elaborar um programa tão aberto, com tanto tempo e ao vivo) o programa foi ganhando novos quadros, como o “Dia de Shiva”, que acontecia todas as sextas-feiras e era onde Cazé escolhia algum objeto para destruir (sempre de uma forma mais inusitada que a outra) dentro do estúdio ou até nas escadas de incêndio do prédio da emissora.
O programa teve até uma continuação (que mais pode se chamar de versão mal feita) anos depois, já com cenário bem arranjado e com outros quadros e formato, até o mesmo apresentador, chamado “Buzzina”, porém o sucesso de antigamente jamais foi alcançado.

Links

Doc MTV 20 Anos - A Hisoria da MTV Completa - Parte 01
(a partir de 7:52)

Chamadas Diversas da MTV na década de 90: http://www.youtube.com/watch?v=DxNQEytnQpM

Momento "Na Cara" do programa TeleguiadoMTV:

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